As desculpas do sr. Blair ao povo africano

Foto: Digital History

Num ato solene, que lembrava os 200 anos do fim do tráfico de escravos em terras e mares ingleses e algumas décadas depois, mundiais, na Abadia de Westminster, em Londres, o primeiro ministro britânico, Tony Blair e a Rainha Elizabeth II apresentaram-se para pedir desculpas pelo mal causado à África e aos africanos.

Assim como o Papa João Paulo II, que anos atrás desculpou-se pela participação da Igreja Católica como agente do colonialismo e do imperialismo europeu durante séculos, eles esperavam uma cerimônia tranquila onde pudessem demonstrar sem maiores compromissos e dificuldades o seu horror ao holocausto africano, executado por seus antepassados.

Com a abadia lotada, eis que surge do meio da multidão, inesperadamente, um manifestante, um descendente das peças escravizadas, quiçá uma vítima, Toyin Abgetu, de 39 anos, nervoso, emocionado, dirige-se a rainha e exige dela uma declaração de repúdio ao tráfico. Logo, Abgetu, foi cercado pelos seguranças e retirado da igreja sem que ouvisse os obséquios reais. Seria algo fantástico se a rainha impedisse a sua retirada forçada e declarasse ali a sua solidariedade com o povo africano.

Contudo, não foi isso que ocorreu.

Foram séculos de exploração européia, começaram no século XV com a expansão marítima, que avançou pelo continente americano adentro, mas que deixou intocado praticamente o solo africano. O que interessava ao europeu então, eram as peças trazidas da África nos navios negreiros. Assim, os europeus arranhavam as costas africanas com feitorias e comerciavam com reinos e impérios costeiros africanos em troca do “ouro negro” tão valioso para o desenvolvimento da produção colonial na América.

No século XIX esse cenário se modifica com a necessidade produtos agrícolas, matérias-primas, mercados consumidores e mercado para investir um capital imobilizado pelas crises capitalistas a Europa volta-se para a formação de impérios coloniais em África e Ásia. A África chega a ser dividida pelo imperialismo europeu nos salões dos palácios alemães. Sem que os africanos soubessem seus destinos já estavam traçados e se concretizaram na chegada dos exércitos imperialistas.

A Inglaterra foi a maior beneficiada, formou um império vastíssimo, com territórios na África, Ásia, América e Oceania. Em 1897 comemorou o jubileu de diamante da Rainha Vitória na capital londrina esperava-se que fosse visto por milhares de pessoas. Festejava-se um império com paralelo apenas no Império Romano.

Hoje estamos diante de um pedido de desculpas, mas será que podemos confiar nele, ou será que isso não se repetirá daqui a 200 anos com outro primeiro-ministro só que em relação ao povo iraquiano?

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