Arruda, o mensalão brasiliense e a necessária Oaxaca Candanga
07 de dezembro de 2009, Bruno Lima Rocha,
Este artigo de opinião e análise vem na forma de alguns comentários a respeito da Assembléia Popular que hoje defende a forma de fazer política por fora das formas consagradas em Brasília e na seqüência, caracterizo a cultura política do Brasil tomando a capital como espelho nada invertido das camadas dirigentes da nação.
As variáveis do governo e do Estado em Brasília implicam em um excelente laboratório de uso e abuso dos recursos coletivos. Entendo que essa matriz louca se dá quando o Brasil decreta a sua fundação, na era dos 50 anos em 5 de JK (sendo que um de seus herdeiros cruzados é o empresário e ainda atual vice-governador Paulo Octávio), e tal como a lenda de Atlântida, estabelece o núcleo planejado (patrimônio da humanidade!) e as cidades-satélite. Essa concepção ultrapassa a tentativa de planificação do Estado então Desenvolvimentista e não consegue e nem pode e sequer tenta frear o fluxo contínuo de pessoas e de gente que para lá afluiu. A decorrência é a barbárie político-administrativa em forma de grilagem. As formas de empresas com pessoas jurídicas, o tal do ramo imobiliário, passa a ser a riqueza que brota do ente federado que nada produz em termos de economia para o país, embora seja seu centro de poder, e por tanto, irradia poder. A camada aparente da coisa (da besta fera como dizem os hermanos) que não é midiatizada nas coberturas nacionais é a elite política local, onde o empresariado se conforma na abertura e venda de novos espaços urbanizáveis e habitáveis.
Brasília seria brasileira embora planejada. A raiz do problema se encontra nos barracões de construção civil e nas refeições com alimento vencido (como carne podre). O cerrado foi aberto, o Plano Piloto se erguera sobre o descaso com as condições dos que lá foram para trabalhar no pesado, e depois por lá permaneceram. Essa é a base social controlada e dominada, através do roubo de recursos do Estado Nacional repassado para o Estado Distrital e cuja fonte de riquezas, nas suas origens, são títulos de propriedade e falsas planificações de loteamentos e vendas de imóveis. Há de ser reconhecer que a máfia dos consórcios econômico-eleitorais por lá é versátil. Ao lado da pistolagem está o uso de grilos em gavetas de madeira e na manipulação de processamento de dados.
Neste ponto, Brasília exagera na dose, com Arruda, Roriz e Cia., mas não deixa de ser o retrato do Brasil; pela genialidade arquitetônica, na ousadia de construir uma capital e retirar o eixo do poder do litoral brasileiro (que por lá ficara desde Cabral) e também pelas mazelas de sempre. Neste item, o DF é brasileiríssimo na violência policial, que é o braço repressivo do descaso do Estado fruto do roubo sistemático de governos cíclicos. Diante de tanta titica estrutural, o que muda? Agora, há delação e provas. O que difere Arruda de Roriz e seus amigos do peito é que o primeiro foi gravado e o outro não se sabe, ainda…
Na podridão do poder constituído, outros podem se formar, nem que seja a partir do nada desprezível poder simbólico dos espaços físicos institucionais. Neste momento, o protesto é a negação do que ali está é a única forma de política. Ironia com o DEM, ao incorporar o moralismo de tipo Carlos Lacerda, recebe agora a mordida de seu próprio remédio. Não há como esquecer. Antes de ser DEM e depois de ser ARENA e PDS, os demo foram e sempre serão PFL. O estilo de ACM é o padrão de qualidade da turba, nova ou antiga.
Falta uma Oaxaca Candanga
Diante da paralisia decisória, é da natureza da política (qualquer uma, mesmo da polititica como a vemos no país) eu uma força externa tome à frente e destitua o poder incapaz de governar e ter legitimidade. Em pequena escala, é isso o que ocorre nesse momento na Câmara Distrital de Brasília (equivalente ao “parlamento” brasiliense). Por sorte, um grupo de estudantes razoavelmente aguerridos e com um interessante grau de coerência interna, resolveu intervir de fora das regras do simulacro de representação da democracia liberal. Na verdade, no caso do DF, trata-se de uma plutocracia que entre si disputa a regulação da vida em sociedade e o espólio do Estado naquele nível de governo. Os políticos profissionais de Brasília exageraram na dose, mas a capital não deixa de ser um retrato do país, ao menos no que diz respeito de suas elites dirigentes e os vínculos orgânicos com empreendedores econômicos de distintas áreas.
Espera-se que o canto da sereia da representação legal, a ser re-instaurada a sua roleta russa a partir de junho do ano de 2010, não seduza as novas lideranças estudantis que agora ocupam a “mui nobre, leal e valorosa” e organizam – junto a outros setores – a Assembléia Popular. Fossem outros os tempos, e não estivessem as forças populares tão apaziguadas de projeto em projeto e haveria uma Ágora Candanga de fronte a essa casa dos mensaleiros e outra forma de expressão de poder ganharia forma a partir da indignação e da organização prévia. Como esta segunda categoria ainda não tem a envergadura popular dos políticos profissionais e dublês de grileiros do DF – como Joaquim Roriz, o fantasma do finado padrinho José Aparecido de Oliveira, o senador cassado e cartola Luis Estevão, a amigo de alguns deles e dono da empresa GOL Nenê Constantino, dentre tantos outros que puderam parir para a vida pública um secretariado à altura do de Arruda – resta afirmar o fôlego dos que lá peleiam e rogar que tenham sucesso na empreitada. Seria louvável também o afastamento do discurso da vassoura Udenista justamente para dar de relho na UDN pós-moderna (o DEM), o que seria uma incoerência cruel na base de argumentação dos que na Assembléia Popular peleiam.
A debandada de 15 secretários e 6 partidos da base do governo Arruda prova a ética da turma. Diante do perigo, salve-se quem puder e que o Executivo se queime sozinho. A aposta no cassino da política é mais alta para quem obtêm os maiores dividendos. Que Arruda pague, dizem os aliados! Que Arruda e a Máfia saiam do aparelho de Estado dizem os membros da Assembléia! Melhor esta segunda afirmação.
Que os ventos de Oaxaca soprem no Planalto Central!
A saída está em buscar a alternativa longe e distante do atual pólo de poder
Para modificar as práticas políticas brasileiras é necessário compreender como é o Jogo Real, a norma e os custos que regem seus operadores. E, por obviedade, buscar gerar formas de poder, controle e participação, por fora d jogo viciado da representação profissional e da gestão dos consórcios econômico-eleitorais da coisa pública. A res-publica pode vir a renascer na medida em que se torne o Estado controlável pela parcela organizada da população e que, seus rumos, sejam condicionados pela ação coletiva destes mesmos setores mobilizados. Do contrário, não há saída de médio e longo prazo e o horizonte possível será apenas mais uma operação da Polícia Federal, seguida da devida impunidade, é óbvio.
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