Organizações do movimento social brasileiro, particularmente do movimento negro, preparam-se para participar – localmente ou à distância – da edição 2011 do Forum Social Mundial, em construção no Senegal, Africa. Num contexto de debate sobre alternativas aos modelos de dominação no planeta, e de aprofundar a aliança sul-sul, chama a atenção a exposição “Diásporas Africanas na América do Sul: Uma Ponte sobre o Atlântico”.
Fotos, filmes e debates mostram particularidades dos afrodescendentes no Brasil, Argentina, Uruguai, Peru, Colômbia, Venezuela e Suriname. Fruto de um trabalho conjunto do fotógrafo Januário Garcia e do antropólogo Júlio Cesar de Souza Tavares, professor da Universidade Federal Fluminense, está no SESC Tijuca, até o dia 23 de outubro, com entrada gratuita.
Elaborada como parte das comemorações da Cúpula de Países Africanos e da América do Sul, em dezembro de 2008, a exposição foi inaugurada junto com nova embaixada do Brasil na Nigéria. O trabalho apresenta metáforas fotográficas que demonstram a relação entre a África e a América do Sul, um registro da presença atual dos afrodescendentes no continente latino americano e, ao mesmo tempo, do legado cultural das matrizes africanas na região.
Os dois pesquisadores, conhecidos militantes do movimento negro, viajaram durante cerca de um mês para retratar a permanência e as características da herança africana em comunidades afro-descendentes nos sete países da América do Sul.
Januário Garcia é um fotógrafo negro, com diversas exposições inclusive no exterior, que registra há quase 30 anos o movimento negro no Rio de Janeiro. Ninguém melhor para registrar a maior população afro do mundo, fruto de quatro séculos de imigração forçada. O artista desenvolveu uma relação estreita com a sua ancestralidade e um olhar privilegiado para registrar fatos e personagens que têm contribuído para a realização de um novo estudo historiográfico da diáspora africana. O resultado desse processo está no livro “1980/2005 — 25 anos do Movimento Negro no Brasil”.
O professor Júlio Cesar resgatou dados da presença africana em países como Argentina e Uruguai, onde desembarcaram milhares de africanos no porto do Rio da Prata. Também foi relatada essa presença em países como Peru (música e culinária), Colômbia (com uma comunidade afro-descendente de 25% da população do país) e Venezuela (com os cumbes, semelhantes aos quilombos brasileiros). O Brasil, que tem hoje metade da sua população composta por afrodescentes, chegou a ter 70% de negros, no século 19, segundo o antropólogo. Mas, com a imigração européia, o governo brasileiro da época investiu na idéia de mestiçagem.
A dupla musical poética-percussiva, composta por José Maria Castañeda e Edison Mego, abriu a exposição no Rio de Janeiro. Músicos que cultivam a tradição musical afro-peruana, no Brasil difundem seu estilo musical no grupo Negro Mendes.
Além das fotografias, a programação inclui filmes, como “Sua majestade, o Delegado” (Brasil), “Oro Negro” (Chile), “Movimiento Afrocultural” (Argentina), “Uma noite com a família Zevallos” (Peru/Brasil), todos revelando comunidades afrodescentes, suas lutas e cultura.
A exposição está aberta à visitação
de 11 de setembro a 23 de outubro
de 3ª a sábado / das 12h às 17h / Grátis e livre
SESC Tijuca
Rua Barão de Mesquita, 539
Matéria elaborada com informações do SESC, ABI e BBC.