Diário Não Oficial do Brasil – Dia 86/365

1. A ditadura militar que se instaurou no Brasil em 1964, derrubando um governo democraticamente eleito, em nome de uma caça aos comunistas que não existiam, instaurou um regime extremamente corrupto de concentração de poder, de concentração de renda e de terrorismo explícito.

2. -56% dos mortos pela ditadura militar que se instalou no Brasil tinham menos de 30 anos. Foi um projeto de extermínio do pensamento, da crítica, e da juventude. Mas não saberemos a real história porque o extermínio não era só um projeto das forças armadas, tinha uma rede de cumplicidade no judiciário, nas polícias, civil, militar, federal, de legistas, médicos, políticos, capitalistas, imperialistas, especialmente estadunidenses, e da grande mídia.

3. A rede globo de televisão foi parte do golpe, protagonizando ações nos porões da ditadura e ajudando a construir a narrativa alienante, de que tudo ia bem, mesmo com inflação de três dígitos, crianças morrendo de fome, e pessoas sendo torturadas por qualquer razão.

4. O presidente eleito tinha 9 anos em 1964. Sua formação foi militar, cresceu nesses porões, foi reformado aos 33 anos, passou a ser um político que apoiava os grupos paramilitares, com pronunciamentos que faziam o elogio à tortura, ao assassinato, e à importância das milícias.

5. Jair Bolsonaro fez parte dessa história, defende a continuidade dela. Ele comemora a morte da juventude brasileira, do campesinato, dos intelectuais, e dos trabalhadores assassinados pela tortura. Ele cresceu fazendo parte desse capítulo vergonhoso da nossa história e quer restaurá-lo. Entre seus pares, o major Nilton de Albuquerque Cerqueira.

6. “NILDA CARVALHO CUNHA

Filiação: Esmeraldina Carvalho Cunha e Tibúrcio Alves Cunha Filho

Data e local de nascimento: 05.07.1954, Feira de Santana-Ba

Data e local da morte: 14.11.1971, Salvador-Ba.

Aos 17 anos de idade, Nilda foi presa na madrugada de 19 para 20 de agosto de 1971, no apartamento onde morreu Iara Iavelberg. Foi levada para o Quartel do Barbalho e, depois para a Base Aérea de Salvador.

Liberada no início de novembro, profundamente debilitada em consequência das torturas sofridas, morreu no dia 14 do mesmo mês, com sintomas de cegueira e asfixia.

Fazia o curso secundário e trabalhava como bancária, quando passou a militar no MR8 e viver com Jaileno Sampaio, também ferido a bala e preso.

No dia 04 de novembro, Nilda foi internada na Clínica Amep em Salvador, conforme prescrição do seu médico, Dr Eduardo Saback. No mesmo dia, os enfermeiros tentaram evitar a entrada do major Nilton de Albuquerque Cerqueira em seu quarto de hospital, mas não conseguiram.

Na presença da mãe, ele ameaçou Nilda, disse que parasse com suas frescuras, senão voltaria para o lugar que sabia bem qual era. O estado de Nilda se agravou, sendo transferida para o Sanatório Bahia, onde faleceu no dia 14.11.1971.

No seu prontuário constou que não comia, via pessoas dentro do quarto, sempre homens, soldados, e repetia incessantemente que ia morrer, que estava ficando roxa.

A causa da morte nunca foi conhecida, o atestado de óbito diz: edema cerebral a esclarecer. Sua mãe, a Sra. Esmeraldina, denunciou a morte da filha como consequência das torturas. Foi encontrada morta em sua casa, cerca de um ano depois”.(*)

(*) texto do site da UESB, Ditadura na Bahia: Lista de Baianos mortos e desaparecidos na ditadura militar.

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