Imagem: Simone de Beauvoir, Dilma Roussef e Marielle Franco
1. Hoje Simone de Beauvoir, teórica e ativista feminista francesa, faria 112 anos. É importante lembrar este fato no país que odeia as mulheres e que com a chegada de um ex-capitão ao planalto, em uma eleição controversa, potencializa escancaradamente esse ódio.
2. O golpe, sofrido pela Presidenta Dilma Rousseff, travestido de impeachment, foi um golpe misógino-civil-parlamentar, com apoio da ameaça militar. Um processo de extrema violência de gênero. Uma pesquisa de doutorado da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, de Perla Haydée da Silva, professora na área de Estudos Linguísticos, avaliou as construções discursivas contra a Presidenta. Nos cerca de 3.000 comentários analisados na página do MBL, Movimento Brasil Livre, no facebook, os adjetivos machistas e misóginos mais frequentemente utilizados à época eram louca, burra, prostituta e nojenta. Deslegitimar e violentar de todas as formas as mulheres, de modo que a imbecilidade machista ocupe sozinha os espaços públicos e de poder. Construir uma imagem negativa e estereotipada da mulher é a meta desse patriarcado.
3. Outra leitura importante e fundamental é o livro “O golpe na perspectiva de gênero”, organizado por Linda Rubim e Fernanda Argolo, com textos das autoras e de mais 13 outras mulheres, inclusive Marielle Franco, que foi assassinada na véspera do lançamento do livro em Salvador. Este livro é uma leitura obrigatória para todas as mulheres que querem pensar o país.
4. Em termos de leis, criamos, com muita luta algumas, a exemplo da lei 13.104/2015, que “altera o Código Penal para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o inclui no rol dos crimes hediondos” (Senado Federal). Durante o governo da Presidenta Dilma Rousseff, é claro.
5. O governo atual, que completou um ano, tem uma atuação em relação a temas ligados à mulher pontuada por “declarações de cunho machista”, “políticas públicas pouco detalhadas de combate à violência doméstica, ampliação do acesso a armas de fogo”, e “ações de valorização da família ao invés da mulher” (Agência Patrícia Galvão). Tudo permeado pelo delírio da ideologia de gênero e por verdades inquisitoriais da terra plana.
6. O que sobra desse país construído com esse grau de violência, é que a cada 20 minutos uma menina com menos de 18 anos é estuprada, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada, a cada 4 horas uma menina com menos de 14 anos é estuprada pelo próprio pai, e ocupamos o 5º lugar em feminicídio no mundo. No país que odeia as mulheres, temos que gritar todos os dias contra as expressões da barbárie, do executivo, da polícia e do judiciário.
7. Em junho de 2019 uma menina de 19 anos aceitou carona de dois policiais militares que se ofereceram para levá-la, de forma segura, a um ponto de ônibus. Os policiais estupraram a menina dentro da viatura. Hoje foram soltos pela justiça militar e responderão, livremente, a um processo administrativo. Não é um caso isolado, é só mais um caso, no país que reafirma todos os dias, que odeia as mulheres.
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