1. As últimas declarações do síndico disfuncional, o ex-capitão que ocupa o lugar de um presidente no país, foram tão violentas e enojantes que devíamos guardar silêncio por um período em homenagem a todos aqueles que foram assassinados para a construção dessa barbárie que hoje vivemos.
2. Habituado à mentira e à violência como método, o ex-capitão pensa correr solto, livre das normas, acima das leis e divorciado da ética. Ficamos reflexivos sobre a sua história. Que acordos fez essa abjeta figura para conseguir não ser expulso do exército? Quantos crimes conhece e de quantos participou?
3. Esse time, preocupado com mostrar subalternidade à supremacia branca, esquece suas funções. Posando de mais subalterno entre os subalternos, na semana passada atropelou a parceria comercial de venda de milho ao Irã, ou seja, sabotou o agronegócio que o apoiou, para obsequiar um trump que certamente não olha para baixo.
4. Mas, apesar da náusea e indignação, o nosso compromisso é registrar, dia a dia, o que vemos ao redor. Temos um governo cujos representantes saem dos piores dos mundos, com alguns destaques: o ex-capitão que ocupa o lugar de presidente, que idolatra torturadores e banaliza assassinatos; o ministro da justiça que desconhece a Constituição e atropela a lei, o ministro da economia, cujo projeto ultraliberal se nutriu na ditadura sangrenta de pinochet e o general chefe do gsi, que foi afastado pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva das suas funções no Haiti em razão da violência com que atuava. Os que não nasceram e se desenvolveram nos porões da ditadura, no pior que existiu dela, foram criados nessa perspectiva.
5. O ex-capitão confessa agora que sabe informar com precisão o que aconteceu com presos políticos sob a guarda do Estado brasileiro. Deixa no ar uma certa cumplicidade com os crimes que foram cometidos, o que não nos surpreende. O que nos surpreende é esse discurso estar na voz de alguém que recebeu a incumbência de presidir uma nação democrática. Alguma coisa está fora do lugar. Qual a conta dos mortos da ditadura? Não sabemos. De quantas acusações falsas foram vítimas? Não sabemos. Se na Argentina e no Chile os mortos foram contados, um a um, na ditadura brasileira jamais saberemos. Das chacinas de crianças de rua, de quilombolas, da população indígena, dos acidentes forjados, dos suicídios induzidos, dos atestados de óbito falsos, das narrativas enojantes reforçadas por determinadas mídias, nada é posto na mesa com coragem, às claras. A nossa história vai sendo revelada assim, aos poucos. Por descuido, por fanfarronice. O resto, negado, como no tempo das pós-verdades.
6. Joga fora qualquer possibilidade de honra ao tripudiar sobre um líder indígena assassinado pela violência que estimula, ao tripudiar sobre a memória de alguém que ficou órfão aos dois anos por ter o pai assassinado pela ditadura, e mesmo ao desprezar a morte miserável de 16 presidiários decapitados sob a guarda do Estado, amontoados em um presídio superlotado. Os militares brasileiros violaram de todas as formas as nossas vidas, as nossas lutas. Pelo direito à memória, pelo direito à verdade, vamos combater as fanfarronices e barbáries dos ocupantes do planalto.
Se o ex-capitão tivesse estudado um pouco de história saberia que sempre haverá consequências.
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