Breve visita aos refugiados palestinos que estão acampados em frente ao Itamaraty, em Brasília, não deixa dúvidas quanto às péssimas condições em que se encontram. Recebidos pelo Brasil há pouco menos de dois anos, estes integram uma leva de 117 pessoas, entre adultos – inclusive idosos -, jovens e crianças que estavam há cerca de cinco anos em um campo de refugiados próximo da Jordânia. Vivendo em condições subumanas em tendas no árido deserto, eles tiveram que deixar suas casas às pressas em 2003, quando da invasão do Iraque pelos Estados Unidos. Viviam naquele país árabe já sob a condição de refugiados palestinos, impedidos de voltar à sua terra natal.
Cerca de dez deles estão na Capital Federal, inclusive famílias com crianças e idosos. Alguns estão ali há quase um ano e tiveram cortada qualquer ajuda por parte do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). Portanto, na prática, foram excluídos do programa de reassentamento e abandonados por esse órgão, que tentou, assim, pressioná-los a retornarem às cidades para as quais foram encaminhados ao chegarem ao Brasil – parte estava em Mogi das Cruzes, Interior de São Paulo, e parte em locais como Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O escritório do Acnur mudou de endereço e ninguém sabe onde está operando. Principalmente os mais idosos precisam de tratamento e assistência especializada, no entanto, foram largados à própria sorte. A situação deles em Brasília reflete o despreparo das organizações designadas para cuidar dos refugiados palestinos em lidar com esses seres humanos. Não levaram em conta a diversidade cultural ou os traumas a que foram submetidos e ignoraram os sérios problemas de saúde de quem viveu quase cinco anos em um campo de refugiados. Assim, o processo de adaptação não ocorreu como deveria.
Os refugiados pleiteavam melhorias nas suas condições e agora – muito embora declarem seu amor pelos brasileiros – querem deixar o País, tamanho o descaso com que foram tratados. Eles denunciaram o abandono que lhes foi infligido na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, a qual, conforme informa um assessor, aguardava no final de junho último posicionamento do Acnur, que pediu um prazo para resolver essa situação. Tempo, contudo, que já havia se esgotado e nada foi feito.
Os que estão em Brasília pedem o reassentamento em países que contam com programas para refugiados, onde têm parentes. Portanto, buscam a reunificação familiar. O Acnur tem afirmado que isso não é possível, mas não comprova essa informação ou qualquer esforço junto a governos para garantir o direito dos refugiados de serem reassentados em outro país.
As diversas organizações da sociedade civil brasileira podem e devem intervir para impedir que esses cidadãos morram em frente ao Itamaraty. Cabe ainda interferir junto ao governo brasileiro, pois aos demais refugiados palestinos a ajuda se encerra em setembro/outubro próximo.