Situações como esta são absolutamente evitáveis, foi o que afirmou a Professora Maria Ester Feres, diretora do Centro de Estudos e Assessoria em Trabalho da Universidade Central do Chile, referindo-se ao desmoronamento da Mina de San José.
Ao redor do mundo, trabalhadores em mineração vivem sob a mesma angústia, com a diferença de que contam com duas saídas, como manda a lei, para que se possa contar com uma delas, caso alguma seja impedida por algum acidente. Não em San José, que possuía uma única saída!
Principal fonte de renda do Chile, a mineração de cobre foi alvo de muitas reivindicações em torno do cumprimento da Convenção 176 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sobre segurança e saúde nas minas. Fechada após um acidente anterior por não oferecer segurança, os trabalhos na Mina San José foram retomados, pondo em risco a vida de seus trabalhadores, soterrando 33 deles no dia 05 de agosto. Não se ouve falar dos responsáveis. O resgate foi transformado em um espetáculo. Os dois donos da mineradora já estavam sendo processados por acidente anterior. A sede de lucro a qualquer custo resultou em mais esse acidente.
A chamada flexibilização do trabalho já causou muitos males, dentre os quais graves acidentes e enfermidades de trabalho. Em 2009, foram registrados 191.000 acidentes de trabalho no Chile, resultando em 443 mortes. No primeiro semestre deste ano 155 pessoas já perderam a vida. Como sempre, são as pessoas (trabalhadoras/es, usuárias/os e consumidoras/es) a pagar os preços mais altos. Os sindicatos passam a ser vistos como males a serem, se não extirpados, pelo menos cooptados.
As empresas devem ser responsabilizadas; devem ser fiscalizadas para que cumpram as convenções internacionais e respeitem os direitos trabalhistas. Ao redor do mundo, a flexibilização significa ataque à dignidade de trabalhadores, insegurança nos empregos, riscos nos locais de trabalho, jornadas mais longas, salários reduzidos quando não o desemprego. A terceirização tem sido expediente eficiente para lesar trabalhadores.
O estado deve se empenhar para resgatar os mineiros soterrados, mas teria sido muito melhor se tivesse fiscalizado e impedido tanto sofrimento dos que produzem a maior riqueza da nação. O acidente de 5 de agosto é fruto de grave irresponsabilidade da empresa e do estado que permitiu a retomada da exploração.
A espetacularização do resgate serve para despistar as precárias condições em que milhares de pessoas trabalham pondo em risco diariamente a saúde e a vida. A empresa tem obrigação de resgatar os trabalhadores, o presidente Sebastián Piñera tinha e tem obrigação já que permitiu tal situação, mas não tem direito de se promover às custas do sofrimento dos trabalhadores seus familiares e amigos. Deveria sentir vergonha por tão grave irresponsabilidade.
Os mineiros não são heróis, são vítimas, declarou Nestor Jorquera, presidente da Confemin (Confederação Mineira do Chile) que congrega 18.000 trabalhadores.
Mais sobre a Mina San Jose
Localizada no deserto de Atacama, a Mina de San Jose funciona há 30 anos e, desde 2007, foi fechada diversas vezes por causa de acidentes. Em março de 2008, volta a trabalhar parcialmente com autorização do subdiretor Nacional de Minas, Exequiel Yanes, ainda que não houvessem chegado as informações geotécnicas solicitadas. No dia 30 de maio de 2008, o mesmo departamento do governo aprovou s projetos de ventilação, elétrica, e o estudo geomecânico, solicitados após o acidente, e a mina voltou a funcionar plenamente, até 3 de julho, última interdição. O acidente ocorreu porque mais uma vez os trabalhos foram retomados com autorização do Sernageomin, novamente sem cumprirem as orientações da fiscalização.