Corpos à luta

No final da ditadura eu era estudante, e as grandes mobilizações que se iniciaram em 1975 foram crescendo como uma bola de neve. E tinha repressão. Uma vez nos encurralaram no Viaduto do Chá, com muita polícia de um lado e outro. Deixaram-nos muito tempo ali, todos se sentaram e esperaram. Acho que são sempre os estudantes que primeiro se manifestam.

No final da década de 1970, começaram a juntar-se os trabalhadores, que não perderam seus núcleos comunistas (de várias linhas) e cristãos da Teologia da Libertação. Abaixo a Ditadura; Pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita (geral e irrestrita ??!!), o chamado Novo Sindicalismo, foram movimentos que cresceram a passos largos, pois ninguém aguentava mais. Até que manifestações de milhões por todo o Brasil ajudaram a tirar os militares do governo. Mas a elite que representavam, escravocrata e subserviente aos interesses do império norte americano, deu um jeito de continuar no poder mesmo depois das eleições. Elegeu-se um, fomos governados por outro. Um que fazia parte do triunvirato civil que sustentou a ditadura e assegurou o poder no final dela – José Sarney, ACM e Roberto Marinho.

Essa elite, com formações políticas tipo Millenium, fundamentalismos religiosos e aristocracia colonial, tem tornado hereditário o poder por aqui. Por outro lado, a formação política libertadora, feminista, do bem viver, em equilíbrio com a natureza, inclusiva, respeitadora da diversidade dos seres humanos, também tem crescido. Por isso eles ficaram desesperados com as poucas conquistas que o povo alcançou, querem aumentar ainda mais seus privilégios e hoje não precisam nem conviver com seus serviçais… Eles querem ver sangue, que morram os insolentes, a ditadura matou pouco, que comam veneno, que morram de fome, assassinados por balas “perdidas”, crimes horrendos de milicianos, militares, mineradoras, machistas, matadores de aluguel, latifundiários, inimigos políticos. Imaginem como será com todas as pessoas de “bens” armadas, e também os valentões de cada bairro e cada bar.

Quando nós, as reais pessoas de bem vamos explodir esse grito preso na garganta e derrubar esses canalhas que se apossaram do nosso governo? Eles estão destruindo, entregando o que resta do Estado, e nós nem conseguimos implementar toda a constituição cidadã de 1988.

A desobediência civil deveria generalizar-se, afinal quem desobedece a principal e nacional lei do país não deve ser obedecido. Temos que vencer o medo e colocar nossos corpos na luta. Vamos ajudar a mostrar para todas as pessoas que ainda não perceberam o quão destruidores são esses usurpadores da nossa humanidade. Antes que morramos sufocados por essa impotência que parece nos dominar enquanto coletivo.

Defendamos a vida, o planeta e a humanidade que deixaremos para nossos filhos e netos. Juntemo-nos a esses jovens que lutam e que têm a vida toda pela frente e podem fazer um país melhor. A educação é fundamental para todos, todas e todes, assim como a previdência, pois a sabedoria dos ditos velhos deve ser mais aproveitada. Juntemos as manifestações, cheguemos aos bairros mais distantes, com políticas emancipadoras, mas também com muito amor. O afeto é muito importante na solidariedade e na ousadia.

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