Condenados a 7 anos de prisão para calar as ruas

Pedro Guilherme – Sou um dos 23 e o juiz Flávio Itabaiana acaba de nos condenar a 7 anos de prisão. Condenou 23 militantes por participarem das grandes manifestações de 2013 e 2014 contra o governo corrupto de Sérgio Cabral e sua ligação criminosa com os empresários de ônibus, contra a expulsão forçada de milhares de pessoas de suas casas para a realização “das obras da copa”, contra o despejo da Aldeia Maracanã e o genocídio nas favelas gritando – “onde está o Amarildo?” -, em defesa da educação pública, da saúde pública, da vida. Por estas pautas e lutas fomos condenados pelos crimes de “associação criminosa” (Art. 288) e “corrupção de menores” (Art. 69).
Confesso que não iria me manifestar agora, não por achar desnecessário, mas por faltar dias para o nascimento de nossa filha, Alice, e gostaríamos de nos concentrar na sua vinda. Minha companheira fará amanhã 39 semanas, 9 meses e 3 semanas de gestação. Parece que tudo nos tira o foco dela e de sua chegada, sempre. As crianças também estão no recesso, assim como eu, e parar para escrever assim é quase fantasia. Uma bebê no braço e o outro escrevendo, os olhos lendo também as várias mensagens carinhosas de apoio que estamos recebendo.
Mas, verdade, é imprescindível. Precisamos expor toda essa mentira que é este processo com provas inventadas, sem qualquer materialidade, que chegou a investigar o anarquista russo Mikhail Bakunin, morto no século XIX, como um dos participantes das manifestações de Junho de 2013. A base desse processo são argumentos e mentiras grotescas! Ontem e hoje, a emissora Globo repetiu o podre delírio de que “planejávamos explodir o Maracanã na final da Copa”. Explodir com quais armas? Com os livros e blusas, máscaras de gás, encontradas nas casas dos presos e perseguidos no dia 12 de Julho de 2014? São mentiras tão fracas que só são levadas a sério pela justiça pois ela é essa injustiça de Estado que conhecemos.
Flávio Itabaiana vem de uma família conhecida por sua atuação no judiciário durante a ditadura militar. O que ele faz hoje é reproduzir modelos de condenação, invenção de inimigos públicos da sociedade, de fatos, todos com a única finalidade de calar pessoas e movimentos.
Não somos criminosos. Trabalho na rede pública e particular de ensino, 40h por semana. Sou pai e padrasto. Militante de movimentos sociais e vou assumir em Agosto a direção do SEPE pela regional I. Não ando e não andamos com bombas para atirar em “crianças indefesas”. Não nos encaixamos na imagem falsa do terrorista que “os donos do poder” sempre criaram.
Somos da luta, estamos na luta e certamente venceremos.

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