O delegado e a imprensa

Naquela noite, divulgar a foto do dinheiro que seria usado para a compra de um dossiê foi mais importante para a Rede Globo do que a notícia da queda do avião. Segundo o jornalista Mino Carta, a Globo já tinha a foto na véspera, mas, precavida, decidiu envolver outros veículos de comunicação.

“No dia 28 de setembro, o infatigável delegado entregou as fotos ao repórter da Globo que atende pelo sobrenome de Tralli, o qual, solerte, as entregou aos superiores diz Mino Carta em seu blog.

“Logo a emissora tomou a decisão de evitar ser acusada de repetir a ação golpista perpetrada contra Lula em 1989, na vergonhosa manipulação do debate com Collor. Donde, sugeriu ao Bruno que chamasse os repórteres de outros jornais e emissoras, e que repartisse o tesouro entre eles. Diligente, o delegado atendeu a sugestão no dia seguinte”.

Na conversa com o delegado estiveram jornalistas da Folha de S. Paulo, o Estado de S.Paulo, o Globo e a Radio Joven Pan. O material foi gravado. Mas nenhum veículo revelou o conteúdo da conversa, em que o delegado entrega as fotos por motivos não policiais, diz que vai fingir ter sido roubado, e combina a divulgação com a imprensa.

A fita e a transcrição da conversa do delegado com os jornalistas estão publicados no blog do Paulo Henrique Amorim. A seguir, um trecho da conversa.

Delegado Edmilson Bruno – Não, vou chegar para o superintendente e falar, “doutor, fui furtado, mas já falei com os repórteres, ninguém sabe de nada, mas eu to desconfiado, sabe como é, não dá pra confiar em repórter, não dá mesmo”. Agora eu conto com vocês, porque podem abrir uma sindicância contra mim, um processo.

Repórter – Mas quem o senhor vai falar que teria roubado?

Delegado Edmilson Bruno – Não sei, “N” pessoas poderiam ter entrado na minha sala, faxineiro (…) Eu tive acesso a isso ontem às cinco horas da tarde.

Repórter – Mas foi um repórter que entrou na sala do senhor?

Delegado Edmilson Bruno – Não (…) se vazou, não estou falando que foi um repórter não. É que os repórteres não estão sabendo de nada, não dá pra confiar em repórter (…) o que estou dizendo para vocês é que meu telefone vai estar grampeado.

Repórter – É, por isso que o senhor ligou daquele jeito…

Delegado Edmilson Bruno – Desesperado.

(…)

Delegado Edmilson Bruno – Agora é o seguinte, tem alguém da TV Globo aí?

Repórter – Tem o Bocardi.

(…)

Delegado Edmilson Bruno – Mas tem alguém da Globo aqui, da TV.

Repórter – Tem o Bocardi.

Delegado Edmilson Bruno – Não é o Tralli, né? O Tralli está muito visado (…)

Repórter – Não, é o Bocardi

Repórter – Eu falo com o Rodrigo, pode deixar (…)

Delegado Edmilson Bruno – Ah é, tem o (…)

Repórter – Eu vou falar com o Rodrigo Bocardi, aí ele (…)

Repórter –Não, está certo, o legal é contar esta história (…)

Repórter – … isso só pode sair amanhã na TV (…)

Delegado Edmilson Bruno – Não, tem que sair hoje à noite (…) pode ser no jornal da Globo no primeiro horário, não pode ser à tarde…

Ouça a fita completa

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