O complô midiático do dossiê

A reportagem de Raimundo Rodrigues Pereira, intitulada ”Os fatos ocultos”, ” é fria e lógica como uma cirurgia de especialista” comenta Luiz Nassif. Para Paulo Henrique Amorin, merecia uma sub-título: “A radiografia da imprensa brasileira”.

“É um libelo contra a grande mídia brasileira – no caso, Folha, Estado e Globo”, diz Luis Weiss, que sentencia: ”Enquanto esses órgãos de mídia não provarem o contrário, a sua posição é insustentável”

Publicada na sexta-feira (13/10), a reportagem da Carta Capital mostra como o delegado Edmilson Pereira Bruno e vários veículos de imprensa armaram o escândalo do dossiê para impedir a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno.

Nenhuma palavra sobre o caso na grande imprensa. Mas o blogs começam a transbordar…

Veja o que já foi publicado nessas páginas pessoais de jornalistas conhecidos:

Paulo Henrique Amorim

Um golpe de Estado levou a eleição para o segundo turno.

É o que demonstra de forma irrefutável a reportagem de capa da revista Carta Capital que está nas bancas (“A trama que levou ao segundo turno”), de Raimundo Rodrigues Pereira. E merecia um sub-titulo: “A radiografia da imprensa brasileira”.

Fica ali demonstrado:

1) As equipes de campanha de Alckmin e de Serra (da empresa GW) chegaram ao prédio da Polícia Federal, em São Paulo, antes dos presos Valdebran Padilha e Gedimar Passos;

2) O delegado Edmilson Bruno tirou fotos do dinheiro de forma ilegal e a distribuiu a jornalistas da Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, do jornal O Globo e da rádio Jovem Pan;

3) O delegado Bruno contou com a cumplicidade dos jornalistas para fazer de conta que as fotos tinham sido roubadas dele;

4) O delegado Bruno procurou um repórter do Jornal Nacional para entregar as fotos: “Tem de sair à noite na tevê., Tem de sair no Jornal Nacional”;

5) Toda a conversa do delegado com os jornalistas foi gravada;

6) No dia 29, dois dias antes da eleição, dia em que caiu o avião da Gol e morreram 154 pessoas, o Jornal Nacional omitiu a informação e se dedicou à cobertura da foto do dinheiro;

7) Ali Kamel, “uma espécie de guardião da doutrina da fé” da Globo, segundo a reportagem, recebeu a fita de audio e disse: “Não nos interessa ter essa fita. Para todos os efeitos não a temos”, diz Kamel, segundo a reportagem

8) A Globo omitiu a informação sobre a origem da questão: 70% das 891 ambulancias comercializadas pelos Vedoin foram compradas por José Serra e seu homem de confiança, e sucessor no Ministério da Saúde, Barjas Negri.

9) A Globo jamais exibiu a foto ou o vídeo (clique aqui) em que aparece Jose Serra, em Cuiabá, numa cerimônia de entrega das ambulâncias com a fina flor dos sanguessugas;

10) A imprensa omitiu a informação de que o procurador da República Mario Lucio Avelar é o mesmo do “caso Lunus”, que detonou a candidatura Roseana Sarney em 2002, para beneficiar José Serra. ( A Justiça, depois, absolveu Roseana de qualquer crime eleitoral. Mas a campanha já tinha morrido.)

11) Que o procurador é o mesmo que mandou prender um diretor do Ibama que depois foi solto e ele, o procurador, admitiu que não deveria ter mandado prender;

12) Que o procurador Avelar mandou prender os suspeitos do caso do dossiê em plena vigência da lei eleitoral, que só deixa prender em flagrante de delito.

13) Que o Procurador Avelar declarou: “Veja bem, estamos falando de um partido político (o PT) que tem o comando do país. Não tem mais nada. Só o País. Pode sair de onde o dinheiro ?”

14) A reportagem de Raimundo Rodrigues Pereira conclui: “Os petistas já foram presos, agora trata-se de achar os crimes que possam ter cometido.”

Na mesma edição da revista Carta Capital, ao analisar uma pesquisa da Vox Populi, que Lula tem 55%, contra 45% de Alckmin, Mauricio Dias diz: “ … dois fatos tiraram Lula do curso da vitória (no primeiro turno). O escândalo provocado por petistas envolvidos na compra do dossiê da familia Vedoin … e secundariamente o debate promovido pela TV Globo ao qual o presidente não compareceu.”

Quer dizer: o golpe funcionou.


Luis Nassif: Requiém do jornalismo

”Nos últimos anos houve vários exemplos de matérias encomendadas, várias evidências de mistura de jogadas empresariais e reportagens, e várias coberturas em que se misturavam cumplicidade com a polícia e autodefesa de jornalistas”

”Mas em nenhum desses casos houve uma abrangência tão grande de veículos e uma falta de limites tão acentuada – independentemente da gravidade dos episódios cobertos – quanto a cobertura da foto dos maços de notas que seriam utilizados para a compra do ‘dossiê Vendoin”’

”A reportagem de Raimundo (…) é fria e lógica como uma cirurgia de especialista. Não desperdiça palavras, não gasta acusações, apenas confronta princípios básicos de jornalismo com a atitude de cada veículo, repórteres e direção, no episódio em pauta”

”A exemplo de tantas campanhas absurdas dos anos 90, não adianta invocar a presença do ‘inimigo’, do crime a ser combatido pouco importando os meios”

”Os 67 mil exemplares da CartaCapital não se equiparam à tiragem das grandes publicações. Mas cada exemplar com a matéria de Raimundo ficará pairando no ar, como um alerta sobre o que ocorre com jornalistas e publicações, quando colocam paixões e interesses acima dos princípios jornalísticos”

Luiz Weis: O vídeo, divulgado. O áudio, ocultado

”A reportagem, a ser verdadeira, como tudo indica, é um libelo contra a grande mídia brasileira – no caso, Folha, Estado e Globo”

”Enquanto esses órgãos de mídia não provarem o contrário, a sua posição é insustentável”

”Ontem e hoje, pelo menos um importante blog e um grande jornal repercutiram, como se diz, matéria da nova edição da Veja”

”Mas por que – ouso perguntar com santa ingenuidade – nem uma única, mísera linha sobre a reportagem de Raimundo Pereira?”

Mino Carta: 1989

”A reportagem de CartaCapital (…) traz imediatamente à memória a lembrança dos lances finais da campanha do segundo turno de 1989”

”Primeiro, veio à tona a história da menina Lurian, que a mídia contou qual fosse pecado mortal a aventura amorosa de um viúvo. Depois aconteceu a manipulação do debate de encerramento, comandada pessoalmente por Roberto Marinho”

”Os donos do poder estavam então dispostos a agarrar em fio desencapado, no caso o outsider Fernando Collor. A trama atual tem sabor igual, é mais sutil, porém. Mais velhaca”

Mais do Paulo Henrique Amorim: O 1º golpe de Estado já houve. E o 2º?

”Em 1982, no Rio, quase tomaram a eleição para Governador de Leonel Brizola. Os militares, o SNI, e a Policia Federal (como o delegado Bruno, agora, em 2006) escolheram uma empresa de computador para tirar votos de Brizola e dar ao candidato dos militares, Wellington Moreira Franco”

”O golpe era quase perfeito, porque contava também com a cumplicidade de parte de Justiça Eleitoral e, com quem mais? Quem mais?”

”O golpe contava com as Organizações Globo (tevê, rádio e jornal, como agora) que coonestaram o resultado fraudulento e preparam a opinião pública para a fraude gigantesca”.

”Quantos outros delegados Bruno há na Policia Federal (de São Paulo, de São Paulo!)”

”E se for tudo parar na Justiça Eleitoral? O presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello já deixou luminosamente claro, nas centenas de entrevistas semanais que concede a quem bater à sua porta, que é favor da candidatura Alckmin”

”E o segundo golpe? Está a caminho. As peruas da GW já saíram da garagem.”

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