Ainda muito por incluir

No mês em que se dedica uma semana à democratização da comunicação, o Comitê para Democratização da Informática (CDI) destaca e analisa levantamentos e estudos sobre o cenário digital no Brasil. Entre eles, está a recente pesquisa envolvendo 180 países sobre índice de oportunidade digital, feita pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) – órgão da Organização das Nações Unidas -, na qual o Brasil ficou na 71ª posição.

Por outro lado, o Comitê aponta que cresce o número de computadores no País, em domicílios e principalmente nas médias e grandes empresas. Hoje, são cerca de 33 milhões em uso – 17 por cem habitantes, na faixa da média mundial. Dados da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas/SP mostram que 6 milhões de equipamentos foram comercializados em 2005, 24% a mais do que no ano anterior. E as classes C e D também compraram. “Embora a redução de impostos e o maior acesso ao crédito estejam viabilizando a milhares de pessoas das classes C e D comprarem seu primeiro computador, este é apenas um pequeno e tímido passo em direção à verdadeira inclusão digital”, avalia Celso Fernandes, coordenador do CDI – Regional Rio de Janeiro.

Conforme ele, as pesquisas também mostram que cerca de 75% dos(as) jovens de 16 a 24 anos e 90% das pessoas com escolaridade acima de superior completo se conectam à Internet. Por outro lado, menos de 6% das pessoas que ganham até 10 salários mínimos têm o mesmo privilégio, sendo que 60% da população brasileira não conta com recursos para comprar computador e pagar o acesso à Rede. “Não há dúvida de que o maior acesso é feito pelo topo da pirâmide social.”

Por isso, Fernandes avalia que se deve olhar para um contexto amplo – de emancipação digital e desenvolvimento sustentável -, em que o desafio é o acesso ao conhecimento para construir e distribuir riqueza de forma justa e sustentável. “Para tanto, necessitamos de uma inclusão digital plena, que efetive saltos qualitativos e quantitativos no desenvolvimento brasileiro através da inclusão social da base da pirâmide.”

Qualidade

Em termos qualitativos, o coordenador do CDI salienta que, considerando que o Brasil é disparadamente o maior usuário mundial do Orkut, é imprescindível que sejam promovidas sérias reflexões político-pedagógicas quanto ao tipo de uso que as soluções de inclusão apenas tecnológicas estão proporcionando à juventude. “Sem reflexão crítica, conteúdos educativos e ação transformadora, a inclusão digital pode levar ao acesso inconseqüente e à alienação de uma população de jovens que merecem um tratamento mais responsável.”

Nesse sentido, o CDI busca continuamente promover a inclusão social de populações menos favorecidas, utilizando as tecnologias da informação e comunicação (TICs) como um instrumento para a construção e o exercício da cidadania. “Esta missão nos instiga a desenvolver projetos com efetiva influência no destino dos países onde atuamos, ampliando o conceito de inclusão digital como uma integração entre educação, tecnologia, cidadania e empreendedorismo – com vistas à transformação social.”

Fomento

Apesar de várias iniciativas de inclusão digital promovidas nos âmbitos do setor privado, governamental e acadêmico, um desafio permanece, na opinião de Fernandes: o de desenvolver estratégias e ações que integrem todas essas áreas. Para ele, o ponto fundamental é que a inclusão digital promova a habilidade da sociedade brasileira para dominar a tecnologia, de modo a poder traçar seu próprio destino. “Isto só se dará num ciberespaço de interconexão em alta velocidade real, com comunidades virtuais aprendendo e trabalhando colaborativamente para construir e compartilhar uma inteligência coletiva que instigue a inovação contínua e busque soluções radicais para os problemas dramáticos que vivemos”.

Nesse processo, o coordenador do CDI destaca a importância do fomento de soluções de inclusão digital que incluam, entre outros: a democratização do acesso à Internet, utilizando os recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) para oferecer banda larga com capilaridade e baixo custo; uma proposta político-pedagógica que estimule a reflexão crítica e a ação transformadora da realidade brasileira. “O Brasil tem mais de cem milhões de pessoas ainda sem recursos para comprar computador e pagar o acesso à Rede, sendo que 36% da população do país se situa na faixa entre 15 a 19 anos. Portanto, faz-se mais do que urgente implementar medidas compatíveis com a magnitude do desafio que precisamos enfrentar.” www.cdi.org.br

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