Os primeiros a morder foram os beldroegas que correram afanosos disputar um dossiê posto a leilão por dois malandrões mais do que manjados – um ainda está em cana, o outro livre por ter-se disposto à alcagüetagem, prática institucionalizada desde a criação da delação premiada, essa excrescência jurídica que ajuda a rebaixar ainda mais a moral tanto dos que violam as leis quanto dos que as defendem por dever de oficio.
Dois malandrões do mesmo sangue, pai e filho, célebres pela projeção que lhes deu a atuação no lucrativo comércio de ambulâncias. Jogaram a isca e meia dúzia de petistas tão otários como inescrupulosos – liderados por um presidente de partido que sempre cultivou o exercício doentio da fofoca e que transpira obtusidade quando se manifesta verbalmente – a morderam com gosto, provocando de tucanos de rapina, dos quais suspeita-se tenham participado da preparação de tão atraente isca, um mergulho em esquadrilha, ensaiadamente histérico, sobre a candidatura à presidência da Republica que não admitem seja vitoriosa.
Aqueles otários, seu orientador e outros babões que não resistiram ao melado do poder e se lambuzaram vergonhosamente, revelando primarismo político, são dignos daquilo a que estão sujeitos – a lei e o limbo.
Já o povo dançou. Uma parte pequena, porém suficiente para definir os números em 1 de outubro, também mordeu a isca. Mas quem a aproveitou mesmo, transformando-a em um banquete, foram os patrões do jornalismo e seus contratados de confiança. Estão transbordantes de alegria, enquanto se preparam para a segunda rodada, que, pelo visto, tende à carnificina.
Parciais inconfessos, arrotando uma independência engana-trouxa, os jornalões e as semanais ricas selecionaram ardilosamente os assuntos que mais dividendos trariam aos candidatos conservadores e mais prejuízos levariam aos candidatos chamados populares. E aí entra “o dossiê”, a gota d’água que guindou, do ambiente derrotado dos tucanos para a segunda rodada das eleições, o representante das classes bacanas.
Qual jornalão, ou qual semanal, ou estação de televisão, ou de rádio, estará investigando a origem desse “documento”? E ele existe mesmo? Então pai e filho, malandrões, algemados ou não, às voltas com sanguessugas e ambulâncias, ainda arrumaram um tempinho para produzir um dossiê de supostas 2000 páginas que ninguém ficou sabendo ainda o que revelariam? Só os dois, os dois sozinhos? E, sozinhos, oferecem o “comprometedor” calhamaço em leilão para a impoluta imprensa pátria?
E a Policia Federal flagra os otários petistas com o dinheiro pronto para comprar o “bilhete premiado”, assim, tão fácil? Um passarinho me contou? Será? Ou terá sido uma ave de porte maior?
E a grana, o milhão e 700, veio dos cofres de quem? Os otários terão que responder, afinal, é “uma dinheirama”, disseram “analistas” políticos da tevê maior e gente como esse senador que se enrascou, não faz tanto tempo, numa encrenca de bilhões envolvendo as santas contas CC-5.
E durante a batalha da segunda rodada, nossos ínclitos meios de comunicação conseguirão saber (e transmitir) se pai e filho estavam ligados ao “serviço de inteligência” tucano? Parece que não. Nem os meios de comunicação, nem o “serviço de inteligência” petista, devidamente nocauteado na primeira rodada. E o procurador, esse, a quem serve? Quando derrubou Roseana Sarney no “Caso Lunus”, foi de muita ajuda a Serra. E agora?
Perguntas não faltam. Faltará quem as responda?
Sérgio de Souza é jornalista.