O debate televisivo e o poder de agenda
05 de agosto de 2010, da Vila Setembrina do Continente de São sepé, Bruno Lima Rocha
Na quinta-feira 05 de agosto, ocorre o primeiro de vários debates televisivos entre os candidatos a presidente com mais chances de vitória. Como se sabe, segundo as últimas pesquisas de variados institutos, a ordem decrescente é Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL). Se há um espaço de excelência para confrontar os aspirantes ao Planalto, é esse. Essa constatação, mesmo para alguém como eu, mais crítico da democracia de procedimentos e indireta que vivemos, não há como negar. Não nego o debate em si, pelo contrário, sempre aplaudo o formato. O problema é o que se debate e a transformação da política em espetáculo.
A maior parte do eleitorado brasileiro tem na TV aberta a sua principal fonte de informação a respeito da política brasileira. Não por acaso, a grande vitrine da disputa presidencial é o horário eleitoral gratuito e, se houver uma arena eleita, esta se materializa nos debates pela televisão. Podemos caracterizar o debate em si como um embate de idéias e símbolos através de palavras, gestos e da projeção de imagem pessoal do concorrente. Dentro deste arsenal de recursos, os candidatos e suas equipes têm estreitas margens de manobra limitadas pelos tempos de pergunta, réplica e tréplica e o ordenamento de temas. Entendo que o objetivo estratégico não é derrotar o oponente através da luta conceitual, mas aumentar o espectro de influência no eleitor mediano. E é aí que reside a questão-chave deste artigo. Como fazer a política honesta, justa, dentro do senso comum?
Tratamos aqui de um problema de fundo. O senso comum é a condensação circunstancial das idéias dominantes, expressas em formas vulgares. Antes que me ataquem à toa, não pronuncio um libelo elitista, é justo ao contrário. A sinuca de bico está no choque entre as promessas da sociedade democrática e o pragmatismo da vitória eleitoral, a quase qualquer custo. Se a meta é ganhar a eleição, não é recomendável acumular altos índices de rejeição em nenhuma nas cinco classes da pirâmide social brasileira (A, B, C, D e E). Ao mesmo tempo, é preciso ir devagar com o andor para ao menos não atiçar os agentes de minorias com poderes de veto. É uma equação cruel, onde se deve atingir a maioria sem entrar em rota de colisão com as frações de classe dominantes. Os detentores destas capacidades, tais como associações do grande empresariado, agentes líderes dos oligopólios midiáticos, oligarquias de estados periféricos, a sempre forte bancada do latifúndio, as câmaras por setor que representam as transnacionais e a banca que governa de fato junto com o presidente de turno, estão todos muito bem organizados e de fato, controlam o poder de agenda.
Quem detém a agenda, aplica a taxonomia básica, podendo taxar alguém de “populista”, “demagogo” ou “irresponsável”. Mesmo que a massa não interprete estes termos em seu sentido histórico, os associa a algo ruim e “perigoso”. Marcar posição no debate televisivo para quem quer ganhar na urna sem arrumar confusão na sociedade é uma tarefa delicada. Afinal, são as maiorias das classes C, D e E as que elegem e, paradoxalmente, são os grupos de pressão narrados acima os controladores das idéias circulantes.
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