As mulheres do Jardim Maitê, um bairro popular da cidade de Suzano, que participaram dos grupos e da plenária da Conferência Municipal de Comunicação realizada dias 21 e 22 de agosto, também podiam ser vistas, durante o evento, em fotografias emolduradas na exposição “Retratos de Mulher”, instalada logo na entrada do pátio da Emef Antônio Marques Figueira, onde as atividades foram realizadas.
A mostra exibia imagens de mulheres sozinhas, ladeadas por filhos e filhas ou com outras mulheres da família, como resultado das dinâmicas que fizerem, em atividades anteriores à conferência, sobre a imagem da mulher na mídia. Elas recordam que as dinâmicas envolveram recortes de revistas, e então se deram conta de que não estavam devidamente representadas nas fotos que exibiam mulheres conhecidas da mídia. Decidiram posar para o fotógrafo profissional, Wanderley Costa, e mostrar seus rostos na conferência. O trabalho resultou em imagens lindas de mulheres bem diferentes de uma Maitê Proença, que aparecia muito, e mais próximas de uma Marina Silva, um tipo feminino que segundo elas aparecia pouco nas revistas vasculhadas.
As iniciativas da Prefeitura, que convocou a Conferência e trabalhou para mobilizar participantes de programas governamentais como Pró-Jovem e Bolsa Família, acabaram surtindo efeito. Cerca de 200 pessoas vindas dos bairros, movimentos da cidade e grupos culturais circularam pela escola no sábado, já com algum interesse ou vivência em comunicação.
A equipe da TV Contadores de Mentiras, grupo local de comunicação e teatro, chegou à caráter com suas perucas e adereços de palhaço e, passou o dia cercando pessoas que chegavam para entrevistas bem humoradas, quebrando o gelo de um dia debates que prometia ser extenso.
As falas das autoridades, secretária municipal de Comunicação Social, Silmara Helena Pereira de Paula, secretário municipal de Participação e Descentralização, Rosenil Barros Órfão, e da jovem representante da sociedade na mesa, Liliana Rosa, da Fundação Orça de Suzano, foram precedidas de um cordel popular interpretado por Francis Gomes, que também é da TV Contadores de Mentiras e vem animando a Confecom desde o primeiro seminário na cidade, realizado em julho passado.
Lurdinha Rodrigues, do movimento estadual Pró-Conferência-SP, traçou um panorama da luta árdua para assegurar uma conferência de cuja organização os empresários já fugiram e que o governo estadual até agora não quis convocar. “Suzano está servindo de exemplo pra nós, ao fazer uma conferência com povo”, disse a palestrante. Para ela, esse processo que difunde e promove o debate da comunicação pelo país, já é a Confecom acontecendo.
Em diálogo com o público, quis saber se as rádios comunitárias da cidade estavam por lá também. “Foram todas fechadas pela polícia”, gritou Juraci Bispo dos Santos, que antes comandava a Rádio Vozes do Desafio, uma entre as várias emissoras populares de Suzano silenciadas por ordem da Anatel.
Na platéia, Felipe e duas cadeirantes acompanhavam os debates com interesse particular em mudar a forma como a comunicação ignora pessoas com deficiência e pouco ajuda a combater as dicriminações que eles sofrem. “Queremos ajudar a debater o preconceito, que encontramos todo dia e em todo lugar na sociedade, na televisão e nas ruas”, disse Felipe, que escolheu participar do Grupo de Trabalho sobre “Comunicação que respeita as diferenças”, junto com as duas companheiras.
Na Associação das Pessoas com Deficiência de Suzano, Felipe dá aulas de informática que outros deficientes como ele exercitem o direito de se comunicar pela internet. Como só sabe utilizar o Windows, que é corporativo, se entusiasma com a possibilidade de encontrar no processo da confecom algum ativista que queira ensiná-lo a utilizar o Linux e os programas livres mais usados pelos movimentos pela democratização da comunicação.
No período da tarde, os participantes da I Conferência Municipal de Suzano se distribuiram pelos Grupos de Trabalho e formularam propostas para a cidade – como o apoio às iniciativas de comunicação popular por parte da Prefeitura – e para o país – como critérios para renovação das concessões de radiodifusão. Além do grupo sobre Diversidade, formaram-se debates sobre “Mídia, educação e consumo”, , “Comunicação como instrumento para a garantia de direitos” e “Direito à informação”.
Fez parte do sucesso da conferência a animação de um espaço de convivência para as crianças e a garantia de almoço no local das atividades, para não esvaziar os debates da tarde. Credenciamento, pastas com textos, exposição de livros, exibição de filme de animação, projeção de textos (para a aprovação de regimento ) e até espaço para venda de livros e bonecas negras, tudo funcionou bem na I conferência popular de comunicação realizada em um município do Estado de São Paulo.
Conheças as propostas aprovadas na Confecom Suzano