Foto Wanderley Costa
A terceira e última noite de debates do 1º Seminário de Comunicação Social de Suzano apontou a necessidade de colocar o cidadão como protagonista da comunicação social no Brasil, não apenas no direito de ser ouvido, mas para o controle do que é divulgado pelas redes de radiodifusão e de telecomunicações. O evento foi realizado quarta-feira (24/6), no Teatro Municipal Dr. Armando de Ré, e os palestrantes da noite foram a jornalista e cientista política Rita Freire, da Ciranda Internacional de Comunicação Compartilhada, e o jornalista e radialista Diogo Moyses, do Coletivo Intervozes, organização que trabalha pela efetivação do direito humano à comunicação no Brasil.
Citando pesquisas de audiência (o que interfere na publicidade exibida na televisão), Rita Freire disse que no Brasil não há controle social. “Somos vistos como mercado ou, no máximo, como consumidores, e não co mo pessoas”. Segundo ela, o controle social é encarado como uma atribuição específica de especialistas, mas a sociedade desconhece que todo cidadão é especialista nas questões do controle social.
Outro ponto por ela destacado foi que os meios de comunicação cada vez menos atendem aos interesses da população: “A TV, por exemplo, vai se referenciando nela mesma, fazendo com que o telespectador acabe inserido numa realidade virtual criada pela própria emissora.”
Para a cientista política, controle social significa ter canais que permitam ao cidadão acioná-los quando um conteúdo o incomoda ou lhe agrada. “Ou seja, canais articulados que permitam melhorar a programação.”
Diogo Moyses elogiou a iniciativa de Suzano em discutir “Controle social e mídia” (tema da noite). “Quase sempre, as secretarias de comunicação social dos órgãos públicos em geral trabalham sob a perspectiva da comunicação institucional, q uando não como publicidade pura e simples, como prestação de contas de governo, ou apenas como marketing”, afirmou Moyses. “Já é hora de as secretarias de comunicação começarem a pensar em políticas de comunicação. Isso não é uma tarefa fácil. Suzano está na liderança do processo. Outras prefeituras ainda não despertaram para a necessidade de discutir a comunicação social sob esta perspectiva”, completou.
Uma das razões, apontou o jornalista, é uma certa resistência dos que detêm o poder dos veículos: “Quando se fala em controle social, vem parte do empresariado dizer que queremos censurar. Isso aconteceu com a classificação etária dos programas. Por isso este tema é complexo. Estamos discutindo a democratização do Estado na questão da comunicação. Se ela começa no momento da formulação, a melhor maneira de começar é na conferência municipal.”
Segundo ele, será na conferência que a população de Suzano poderá discutir que tipo de comunicação ela quer na cidade.
Moyses também enumerou as etapas do processo de controle social da mídia, após a realização da conferência: “Num segundo momento, o exercício do controle social se dá na implementação dessas políticas (definidas nos debates). O terceiro momento é o de fiscalizar os serviços decorrentes daquela implementação. Por exemplo: se os serviços de rádio e TV estão sendo bem utilizados, se os concessionários públicos estão cumprindo os princípios estabelecidos tanto pela nossa Constituição quanto pelas leis ordinárias.”
A secretária municipal de Comunicação Social, Silmara Helena Pereira de Paula, falou da importância do seminário para mobilizar a população para a Conferência Municipal de Comunicação Social, marcada para 8 de agosto. Ela também destacou que a existência de uma política de comunicação na Prefeitura de Suzano permite discutir o assunto com a sociedade. “A comunicação pode ser um instrumento de transformação social e da realidade, e tem de ser tratada com um viés de busca da igualdade, da justiça e da solidariedade”, disse.
O secretário municipal de Participação e Descentralização, Rosenil Barros Órfão, falou que vivemos hoje um momento histórico na área da comunicação com a convocação, pelo governo federal, da Conferência Nacional de Comunicação. “Este é um momento em que nós nos preparamos para organizar da melhor maneira a nossa conferência”, afirmou. Também participaram do evento os secretários municipais Mauro Vaz (Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Negócios e Turismo), Hamilton Luiz da Silva (Defesa Social e Prevenção à Violência) e Michele de Sá Vieira (Meio Ambiente).
O 1º Seminário de Comunicação Social de Suzano começou em 9 de junho, com a mesa de debates sobre “Comunicação popular como instrumento de garantia de direitos”, q ue contou com as presenças do jornalista, escritor e artista plástico Alípio Freire e a professora doutora Cicília Maria Krohling Peruzzo. Já no dia 17, o evento discutiu “A formação acadêmica frente aos desafios das novas tecnologias e da democratização da informação”, com a participação do professor doutor Bernardo Kucinski, do chefe de reportagem da TV Globo João Montenegro Filho, do editor da Revista Adusp Pedro Pomar e da jornalista e professora universitária Vanice Assaz.