O que as mulheres querem da Confecom

Há tempos as entidades do movimento de mulheres organizadas vêm discutindo o direito humano à
comunicação, a necessidade de democratização da mídia e a imagem das mulheres veiculadas nos
grandes meios, que alimenta e reproduz estereótipos e preconceitos. Temos questionado a
invisibilidade seletiva, sobretudo das negras, indígenas e lésbicas, mas também de nossas
reivindicações sociais e políticas, e de nossa pluralidade.

A falta de democratização dos meios de
comunicação tem representado, na história do nosso país, o crescente monopólio do setor, cujo
efeito mais danoso no cotidiano das mulheres tem sido o papel da mídia na disseminação da
mercantilização de nossos corpos e vidas e na reprodução da violência contra as mulheres.

Questionamos a imagem deturpada e estreita da mulher na mídia – uma imagem que não reflete a
nossa diversidade e pluralidade, que nega visibilidade a nossas demandas sociais e políticas,
quando não as ridiculariza ou criminaliza, que nos desumaniza e usa como enfeite para vender
produtos e valores que buscam conformar e manter a pasteurização e a submissão à ideologia
patriarcal, aos valores de mercado e da sociedade de consumo.

A I Conferência Nacional de Comunicação é um momento em que toda a sociedade está convidada
a debater e definir os princípios e prioridades de uma política nacional de comunicação e de um novo
marco regulatório para o setor. Por isso, o movimento feminista não poderia deixar de se organizar
para trazer a sua visão e propostas para a Confecom.

Às propostas que já vêm sendo defendidas
pelo conjunto do movimento pela democratização da mídia, somamos outras, essenciais para as
mulheres, construídas ao longo do último ano em seminários, debates e conferências livres
realizadas em todo o país. O conjunto dos documentos elaborados pelas mulheres está disponível
para consulta no site da Rede Mulher e Mídia:

Princípios para políticas públicas e marco regulatório

1. Reconhecimento e respeito aos direitos humanos

2. Reconhecimento da Comunicação como um direito humano fundamental

3. Universalidade e acessibilidade ao direito à Comunicação

4. Igualdade, Equidade e Respeito à Diversidade

5. Participação popular e controle público e social

6. Laicidade do Estado

7. Respeito à autonomia das Mulheres

8. Promoção da Justiça Social

9. Transparência dos Atos Públicos


Propostas

Eixo 1: Produção de conteúdo

1. Estimular a produção e difusão de conteúdos não discriminatórios e não estereotipados,
valorizando as dimensões de gênero, raça, etnia, orientação sexual, idade geracional.

2. Garantir que a imagem da mulher seja veiculada sempre com pluralidade, diversidade e sem
reprodução de estereótipos, também na promoção do combate ao racismo, à lesbofobia e à
violência contra a mulher.

3. Garantir às mulheres o acesso à produção de conteúdo, com especial atenção para a
produção em áudio e audiovisual para veiculação em larga escala.

4. Assegurar o direito de antena, considerando as diversidades e segmentos discriminados da
sociedade.

5. Revisão dos critérios para distribuição da publicidade oficial, reservando no mínimo 10% para
promoção de equidade de gênero, raça/etnia e orientação sexual.


Eixo 2: Meios de distribuição

1. Fim das concessões para instituições religiosas, garantindo a laicidade do Estado.

2. Regulamentação da transmissão de conteúdos religiosos no rádio e na TV, proibindo a
sublocação de grade, evitando a ocupação indiscriminada do espectro por programas religiosos
e considerando o que estabelece o artigo 221 da Constituição Federal.

3. Considerar o tratamento à imagem da mulher como critério de renovação de concessões
.
4. Universalização da banda larga e ampliação de políticas de inclusão digital, com a criação de
espaços equipados para a apropriação tecnológica por parte das mulheres. O acesso deve vir
acompanhado de investimentos para uma apropriação crítica e autônoma dos cidadãos/ãs.

5. Construção de políticas para garantir a participação das mulheres e a perspectiva de gênero,
raça, etnia, orientação sexual e idade nos espaços sobre decisão e regulação da internet,
incluindo aí o debate sobre o marco civil da internet no Brasil.

6. Atuar junto aos meios de comunicação públicos, privados e estatais para a ampliação dos
espaços de expressão das mulheres e de todos os segmentos discriminados.

7. Desenvolvimento de políticas de promoção da equidade de gênero nas TVs públicas e
educativas, incluindo a participação das mulheres nos conselhos das emissoras públicas.

Eixo 3: Cidadania: Direitos e Deveres

1. Garantir a inclusão das questões de gênero, raça e etnia,geração e orientação sexual nos
currículos escolares, buscando formas de alterar as práticas educativas, a produção de
conhecimento, a educação formal e não formal, a cultura e a comunicação discriminatórias.

2. Incluir a educação crítica para a mídia nos currículos escolares em todos os níveis.
3.Desenvolvimento de conteúdo programático nos cursos de Comunicação e de políticas para
sensibilização e capacitação de profissionais de comunicação para a questão de gênero, raça,
etnia, orientação sexual e idade geracional.

4. Instituir mecanismos de controle social e regulamentação da publicidade, proibindo a
publicidade infantil, de medicamentos e bebidas alcoólicas e estabelecendo critérios de
representação de gênero de modo a garantir a não-reprodução de estereótipos e preconceitos.

5. Instituir mecanismos para garantir aos diferentes gêneros, raças e etnias, orientações sexuais
e classes sociais que compõem a população espaço coerente com a dimensão de sua
representação na sociedade. Garantir a produção e veiculação de programação de qualidade ao
público infantil e infanto-juvenil, sem exploração da imagem de crianças e adolescentes.

6. Criar mecanismos de controle social e promoção da participação nas políticas e nos serviços
de comunicação que: i) proíbam a veiculação de programação que pratique a discriminação
contra mulheres, negros e indígenas, LGBT, pessoas com deficiência e qualquer classe social ou
religião ou que representem de maneira estereotipada esses grupos, assegurando instrumentos
de sanção quando isso for desrespeitado; ii) assegurem o direito de resposta, previsto na
Constituição; iii) definam mecanismos de defesa do público sobre programação que viole seus
direitos, implantando uma procuradoria dos usuários dos serviços de comunicações ligada ao
MPF, iv) instituir multas a serem pagas pela reincidência de violações.

7. Garantir a transversalidade da questão de gênero, raça/etnia e orientação sexual no
desenvolvimento das políticas públicas de comunicação, assim como nos Conselhos existentes
no setor, com indicação da representação feminista pelo movimento.

8. Garantir espaço para informação e conscientização da população sobre os problemas e
impactos decorrentes do atual modelo de produção e consumo. Garantir, na publicidade de
produtos de forte impacto ambiental, a divulgação das alternativas ambientalmente sustentáveis