Não ao tratado de livre comércio Israel-Mercosul

Por Comitê Nacional Palestino por BDS*

Expressamos nosso apoio à população brasileira na sua luta contra o Tratado de Livre Comércio entre Israel e Mercosul, e estendemos nossa gratidão àqueles que assumiram o apelo palestino por boicotes, desinvestimento e sanções (BDS). Estamos todos chocados em ver o Mercosul, que iniciou como um quadro econômico fundado sobre o respeito e a defesa dos direitos humanos, desrespeitar tão descaradamente tais valores, em seu trato com o Estado de Israel. Esse acordo precisa ser derrubado.

Como sabem, o acordo de livre comércio entre Israel e Mercosul ajuda a integrar e fortalecer a posição de Israel na economia global. Em seu conjunto, o bloco do Mercosul possui o quinto maior PIB do mundo. O Brasil responde pela maior parte desse comércio, apresentando nada menos que o décimo PIB do mundo. Aumentar o acesso de Israel a esses mercados, principalmente o brasileiro, apenas ajudará a garantir o apoio econômico de que o Estado precisa para continuar gastando na máquina de guerra e na política de “guetização” dos palestinos.

Muitas das indústrias israelenses de bens de exportação têm laços com os militares israelenses e relações com seus crimes. Por exemplo, um dos principais produtos israelenses de exportação é de alta tecnologia, principalmente equipamentos de comunicação. Muitas das companhias envolvidas nessa indústria possuem laços estreitos com os militares israelenses, seja como provedores de equipamentos empregados nas constantes incursões, seja por seu envolvimento em pesquisas militares e produção de novas tecnologias utilizadas contra os povos libanês e palestino.

No entanto, a oposição ao TLC não deve se basear apenas na relação direta de indústrias com os crimes do Estado. Toda indústria, todo bem e todo acordo econômico deve ser contestado, com o objetivo de isolar Israel economicamente até que ele cesse a sua destruição da sociedade palestina e permita o retorno dos nossos refugiados.

Além da vantagem econômica, todo acordo, ou tratado, confere legitimidade ao Estado de Israel. Ao selar um acordo político ou econômico, tal como esse TLC, ambas as partes estão implicitamente dizendo que aprovam as atividades de seus novos parceiros, que não os vêem como engajados em práticas que possam considerar condenáveis. Integração econômica é sinônimo de normalização; algo que não podemos permitir que continue. Mais do que isso, na sua atual forma, esse TLC define o território israelense como contendo as assim chamadas “zonas econômicas exclusivas”. O termo não passa de eufemismo para as colônias israelenses ilegais na Margem ocidental, e sua aceitação, a legitimação da progressiva e contínua expansão e colonização, que perante a lei internacional é ilegal e constitui crime de guerra.

A legitimação e normalização das relações com o Estado de Israel enfraquece o chamado por BDS, cujo maior objetivo é alterar o discurso em torno de Israel. Colocá-lo na posição de um Estado pária é inseparável do seu isolamento no plano econômico. O mundo precisa conhecer Israel, através da nossa experiência, por aquilo que ele é: um Estado de apartheid fundado sobre um projeto de limpeza étnica contínua e incessante.

Portanto, enquanto Israel se beneficia de inúmeras maneiras desse acordo, os palestinos o vêem pelo seu reverso. O fortalecimento da economia israelense ajuda a reforçar a brutalidade sem fim da ocupação israelense. A legitimação de Israel em instâncias internacionais, ao mesmo tempo, enfraquece o chamado palestino por libertação.
Por isso, aplaudimos seus esforços para combater esse acordo. Suas ações colocam um importante exemplo na direção da solidariedade internacional e cooperação sul-sul. Por meio de uma batalha árdua, impediram que os seus líderes assinassem o tratado da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), temos certeza de que poderão impedi-los de ingressar em mais um tratado devastador.

* O Comitê Nacional Palestino por BDS (Boicotes, Desinvestimento e Sanções) é uma ampla coalizão de sindicatos, movimentos de massas, redes e instituições representando a sociedade civil palestina. É conhecido pela sigla em inglês, PNC (Palestinian National BDS Committee). Mais informações no site http://www.bdsmovement.net.