Mídia cria realidade paralela e ignora movimento pró-Zelaya

Membros do governo do presidente deposto, Manuel Zelaya, não têm voz – exceto por frases fora de contexto exibidas em spots curtos para vinculá-los ao presidente venezuelano, Hugo Chávez. A mídia hondurenha vem criando uma realidade paralela, ignorando o movimento pró-Zelaya e a tensão latente. Apresenta um país que vive em completa tranquilidade, exceto pelas “pouco numerosas hordas de subversivos patrocinadas por governos estrangeiros”, como o de Chávez e o do presidente nicaraguense, Daniel Ortega.

“Vivemos um período complicado. É preciso ter responsabilidade na missão de informar a população”, declarou Erwin Damaso, repórter do Canal 5, estatal e francamente a favor do presidente golpista, Roberto Micheletti. “Temos de ter cuidado para não passar a impressão de que um pequeno grupo de agitadores representa a maioria da população.”

Nos dias que se seguiram ao golpe do dia 28, emissoras de rádio e TV, assim como os jornais de Tegucigalpa, apressaram-se em divulgar a versão do governo golpista de que a “substituição” do presidente tinha obedecido estritamente a Constituição. Enquanto isso, âncoras e comentaristas desafiavam a comunidade internacional – que insistia em condenar a deposição de Zelaya. A CNN em espanhol chegou a ser retirada do ar pelas operadoras de TV a cabo, assim como a emissora venezuelana Telesul.

A única emissora de rádio que se posicionou contra o golpe foi a Rádio Globo, que assumiu – também de forma apaixonada – a defesa de Zelaya. “As grandes emissoras e os principais jornais do país tomaram para si a tarefa de tergiversar e garantir o apoio popular ao golpe. Não há debate de ideias, só a intensa propaganda pró-Micheletti”, afirma um dos editores da Rádio Globo, Hugo Escobar.

O Canal 5 exibe, a cada dez minutos, declarações antigas de Zelaya comparando-as a discursos de Chávez. Faz paralelos entre a retórica dos dois presidentes sobre temas como reeleição, reformas constitucionais, socialismo e liberdade de imprensa. Entre um e outro intervalo de propaganda, mostra Micheletti distribuindo cheques para a antecipação do pagamento de salários de funcionários públicos e anunciando aumento de soldos para soldados e policiais.

O presidente golpista também aparece acusando Zelaya de ter deixado uma “herança maldita” em termos de economia e segurança pública. As “marchas pela paz e dignidade”, pró-Micheletti – como a que ocorreu ontem em San Pedro Sula – têm transmissão praticamente ao vivo nas TVs. A manipulação não tem fim.


Da Redação do Vermelho, com informações da Agência Estado

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