O assunto de destaque na semana foi o caso da estudante da Uniban, no campus de São Bernardo do Campo. Assediada pelos colegas, foi alvo de uma sindicância fulminante, expulsa sumariamente e em seguida reintegrada à universidade – tudo porque ousou desfilar com um mini-vestido pelas alamedas da escola.
O caso ganhou uma dimensão surpreendente na mídia e na sociedade, mobilizou a estudantada, os movimentos feministas, os defensores dos direitos humanos, gente de vários credos e tendências políticas, até a grande imprensa neoliberal. O factóide, banal e irrelevante diante de tantos outros acontecimentos de maior impacto social, despertou paixões e análises, posições das mais caóticas e irracionais.
De qualquer maneira, fica irresistível não comentar os fatos.
Primeiro, nada teria transformado o caso num espetáculo midiático se o grupo de rapazes não tivesse assediado a estudante. A cena teria ficado contida nos olhares e nas retinas. Nada demais. Jovens com vestidos curtos, pernas e seios à mostra, fazem parte do cotidiano das universidades. Portanto, o que difere é o comportamento do grupo que se formou e seguiu a estudante de forma agressiva e ameaçadora – tanto que ela precisou ser retirada do campus com o auxílio da polícia militar. Isso sim é revelador de uma postura intolerante, típica de grupos truculentos com seu falso moralismo.
Segundo, o assunto teria caído no esquecimento se a Uniban não tivesse aberto uma sindicância e decidido expulsar a jovem da instituição. Vítima do comportamento machista de um grupo de colegas, a estudante passou a ser vítima também do autoritarismo da Universidade. Depois disso, evidentemente, o caso passou a merecer uma reação de maior peso, principalmente porque foi agregado a ele o componente da punição injusta. A situação é mais escandalosa ainda porque a dura punição aconteceu dentro de uma instituição de ensino – onde, em princípio e em tese, o que deve prevalecer sempre é o caminho do diálogo, da construção do conhecimento, da educação e do uso da pedagogia para informar, conscientizar e transformar as pessoas.
Terceiro, se uma universidade privada – prestadora de um serviço público de educação – não é capaz de administrar um episódio como esse, via processo pedagógico reflexivo, certamente não tem a menor condição de fornecer para a juventude a necessária formação profissional e cidadã. No fundo, o que mais causou indignação foi a descoberta de que no ensino universitário, que é considerado o topo da escolaridade (alcançada por uma minoria de jovens brasileiros), os seus dirigentes fazem a maior trapalhada do mundo, revelam sua indigência mental e política. Um desastre. Um país governado por “sábios” dessa espécie só pode ser fadado ao fracasso.
Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor da PUC-SP