A questão palestina na mídia brasileira

Esse foi o tema da atividade inaugural do “Ciclo de formação pró-Conferência Nacional da Comunicação”, promovido pela Ciranda Internacional da Informação Independente. O objetivo é contribuir para qualificar o debate sobre diversidade, pluralidade e conteúdo na construção de políticas para a área. Além disso, a ideia é auxiliar na mobilização dos diversos segmentos nesse processo de preparação da conferência, a qual se realizará entre 1º e 3 de dezembro próximo, em Brasília. As próximas iniciativas estão programadas para 4 e 24 de junho, na Ação Educativa (Rua General Jardim, nº 660, Vila Buarque, Capital paulista), sempre às 19h. Serão abordados, respectivamente, os temas “Mulher e mídia” e “O papel da mídia na difusão da ideologia do racismo no Brasil”.
Na atividade “A questão palestina e a mídia”, também na Ação Educativa, a Ciranda contou com a participação da professora-doutora da USP (Universidade de São Paulo) e historiadora Arlene Clemesha. Em sua fala, ela apresentou o contexto histórico em que se dá a questão palestina e desmistificou argumentos bastante presentes na grande imprensa, como o da autodefesa por parte do Estado de Israel, sempre que promove alguma ofensiva, e o da oferta generosa por parte dos Estados Unidos à mesa de negociações sobre o tema. Nesse contexto, citou a proposta feita em Camp David, em 2000, apresentada pela mídia como uma grande oportunidade para a paz, perdida porque os palestinos mantiveram-se inflexíveis, o que de longe correspondeu à verdade. “Não propunha, por exemplo, a devolução de Jersusalém Oriental, mas apenas de bairros periféricos da cidade velha. E não tocava no direito ao retorno dos refugiados, reconhecido pela ONU (Organização das Nações Unidas) e pelas leis internacionais.”
Outras falácias também foram desmontadas pela historiadora, como as confusões deliberadas entre antissionismo e antissemitismo – este último referente ao preconceito contra semitas, portanto árabes e judeus, não à crítica ao sionismo -, e entre terrorismo e resistência, que se dá dentro dos territórios ocupados ilegalmente e diante de uma situação desumana que perdura há 61 anos. Além disso, Clemesha desconstruiu conceitos como o de que os habitantes da região eram atrasados e o sionismo levaria o progresso à Palestina, “transformando o deserto em pomares”. Também não é verdade que sempre houve um problema de convivência entre palestinos árabes e judeus – a qual encontra-se prejudicada pela ocupação sionista, que, embora procure utilizar o argumento religioso, é política.

Limpeza étnica

Para além da ideologia contida nessas ideias, Clemesha mostrou que na realidade a população local não estava nos planos na instalação do futuro Estado. O movimento sionista – cuja origem remonta ao final do século XIX e que ganhou força somente anos depois, mediante acordos obscuros – previa sua limpeza étnica e chegou a montar um “mapa da transferência compulsória” desses nativos. Assim, em 1948, ano da criação de Israel, foram expulsos cerca de 800 mil palestinos árabes e destruídas aproximadamente 500 aldeias, não como “conseqüência inevitável de uma guerra, como a historiografia israelense procura muitas vezes pontuar, mas como resultado de estratégia de massacres e fuzilamentos”. A discriminação e as punições coletivas a que são submetidos diariamente os palestinos também foram objeto da palestra de Clemesha. “No ataque contra Gaza (entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009) todos os alvos foram civis.” Nem poderia ser diferente: a Palestina não existe como estado, portanto, não tem exército. Levar informação correta sobre a questão pode ajudar a mudar esse cenário. Para tanto, é necessário democratizar os meios de comunicação.