Tradução: Mario S. Mieli
É o primeiro ato de guerra decidido no coração da União Europeia, depois de brindar o seu prêmio Nobel para a paz. Se não bastasse o sentido de sufoco das ditaduras financeiras travestidas de governos técnicos, agora também a mordaça da censura mais extrema. O justiceiro dos canais de tevê e de rádio iranianos no mundo é a EUTELSAT, uma das três maiores operadoras de satélites do planeta, nascido como consórcio intergovernamental, agora “privatizado”, com sede em Paris. Bastou uma linha decretada pelos patrões da comunicação, e sobre a plataforma HOTBIRD os canais em línguas estrangeiras realizados pelo Irã foram todos banidos (Aqui a notícia veiculada por IRIB – Islamic Republic of Iran Broadcasting).
A decisão da EUTELSAT obedeceu uma requisição do Conselho Superior Audiovisual da França (CSA) quanto ao estoque de novas sanções anti-iranianas decididas em sede europeia.
Assim, de agora em diante, o éter europeu será apagado para os canais Al-Alam, Press TV, Sahar 1 e 2, Jam-e-Jam 1 e 2, a cadeia sobreo Corão e outros, ainda. Entre rádios e TVs, são 19 canais.
Por enquanto o fato, por si só gravíssimo, é ignorado pelos principais órgãos de informação ocidentais. Um silêncio muito revelador. Se tentarão falar, terão muito trabalho para justificar a censura sem cair em gigantescas contradições com qualquer proclamação sobre a liberdade de imprensa estilo ocidental. Fim das transmissões, sem debate.
Qualquer representação autônoma dos interesses e das visões de um inteiro grande país, como o Irã, está agora totalmente impedida no terreno dos grandes meios de comunicação de massas generalistas. A censura tem o sabor de uma reação e de um experimento a respeito dos novos equilíbrios que se estavam formando na informação global.
Nesses últimos anos, diversos países provaram construir um seu ponto de vista autônomo, respeito aos fluxos informativos hegemonizados pelas potências anglo-saxônicas. Paradoxalmente, mas não muito, o fizeram com o uso da língua inglesa, além de outras línguas. Não devemos nos escandalizar com o fato de que os canais emergentes não tenham participado com um ponto de vista “neutro”, no jogo das comunicações. Justamente por isso, representando interesses “outros”, conseguiram marcar pontos impressionantes.
Basta pensar que em apenas pouquíssimos anos a RT, a tevê russa em inglês, ultrapassou a BBC como primeiro canal estrangeiro junto ao público televisivo dos EUA. Sinal de que a oferta “outra” responde a uma demanda que não existia: uma demanda por “outra” informação que a nossa fábrica de mídia, no Ocidente, não sabia e – sobretudo – não queria fornecer.
Os canais emergentes transmitidos por países antes sem voz – apesar de sua “não neutralidade” (mas quem seria neutro? A CNN, por acaso? falemos sério…) – conseguiam ser, relativamente a muitos argumentos, fontes mais confiáveis se confrontados com a propaganda homologada que passava no outro lado. Antes de degenerar em um MinCulPop das belicosas petro-monarquias do Golfo, e antes de degringolar com diretores enquadrados na CIA, até a Aljazeera tinha aberto espirais informativas inéditas.
E assim nos encontramos com menos vozes. Qual será a próxima etapa? Sem um sistema autônomo de transmissão, até a Rússia ficará vulnerável com relação às decisões bélicas sobre os meios tomadas por algum recente prêmio Nobel para a paz. E até as nossas já enquadradas oficinas da mentira serão sempre mais uniformes, porque a ditadura terá menos necessidade de mascará-las sob trajes civis.
Muito terá que ser feito para conquistar o pluralismo, garantindo as vozes dissonantes. A nossa liberdade corre muito mais perigo do que pode parecer à primeira vista. Por enquanto, não se vê grande coisa para defende-la. Partamos de um primeiro pequeno passo, difundido a primeira petição de IRIB.
Para quem não entendeu, esta ditadura está só em seu começo, e não se saciará, como não se sacia em campo financeiro. Combatê-la tem a ver com o bem mais precioso que devemos defender: o ponto de vista do outro, como garantia do nosso ponto de vista.