É preciso muito mais do que ortografia

13/02/2010 12:11

É preciso muito mais do que ortografia, por Sucena Shkrada Resk

Desde janeiro do ano passado, o Brasil instituiu no país, a implementação do Acordo Ortográfico dos Países de Língua Portuguesa, que é mantido em conjunto por Portugal, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Trinidad e Tobago. Uma discussão, que se prolongou desde os anos 90, e que agora, passa por mais um desafio, sair do campo das palavras e ganhar projeção em acordos multilaterais, que incorporem cultura, educação, infraestrutura, inovação e saúde. É preciso constituir um sentido mais profundo, que lide com as realidades dessas populações.

Tirar o trema, acrescentar ou colocar hífen, acentos agudos, circunflexos. ..Essas novas regras ainda são assimiladas por pequena parcela dos cerca de 200 milhões de brasileiros. Muitos desconhecem que até 2012, em tese, todas as modificações deverão estar estruturadas no país. Isso chega a mostrar um abismo, ou melhor, uma ferida quanto ao tema justiça social, que está na entrelinha de todo o processo em andamento.

Quantos analfabetos funcionais existem nesses países, que um dia foram colônias portuguesas? Como é a situação geopolítica, já que boa parte dessas nações sofreu décadas de guerras civis, além de epidemias. Ao ver o ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de 2009, o quadro é o seguinte:
173º lugar: Guiné-Bissau
172º “ : Moçambique
162º “ : Timor-Leste
143º “ : Angola
131º “ : São Thomé e Príncipe
121º “ : Cabo Verde
75º “ : Brasil
64º “ : Trinidad e Tobago
34º “ : Portugal

Um retrato que demonstra que a unificação deve consistir em ações concretas de transferência e compartilhamento de conhecimento, para que a qualidade de vida de cada cidadão desses países possa sofrer, de fato, uma influência a caminho da maturação dessas relações instituídas primeiramente no campo da ortografia.

Algumas missões brasileiras do Brasil, a partir do ano passado, principalmente a Guiné-Bissau, apontam ao direcionamento de um ‘trabalho de reestruturação do exército do país africano”, que mantém uma situação geopolítica complexa.

Foi implementado a partir de 1997, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (http://www.cplp. org/). Alguns acordos de cooperação em andamento, como no campo da saúde, no que se refere a Aids e Malária, por exemplo, parece ser um indício de que ao longo dos anos, o que começou com palavras, possa se constituir em atitudes mais holísticas de longo prazo. Mas ainda é muito cedo, para se fazer diagnósticos, visto que, depende também das gestões governamentais manterem e aprimorarem os programas.

Mais um aspecto que não pode ser desprezado é o fato de parte dos portugueses manifestar rejeição ao acordo. Conforme matéria publicada na Revista Língua Portuguesa, escrita por Lúcia Jardim, na edição de janeiro deste ano, enquanto no Brasil o Ministério da Educação (MEC) já lança livros didáticos atualizados, além da mídia e dicionários já seguirem as novas regras, Portugal se restringiu a adotar o acordo somente em dicionários. No campo da imprensa, até agora, três veículos aderiram. E o prazo para efetivar as mudanças é até 2014.
Os questionamentos inferem que há muitas lacunas nesse acordo, tanto que não interferem na língua oral.

Fonte: Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk
www.twitter.com/SucenaSResk