Imagem: Francesca da Rimini por Ary Scheffer (1835)
Dante Alighieri foi político, poeta, estudioso da cosmologia e da ética de São Tomás de Aquino. Refugiado de Florença viveu no exílio a maior parte de sua vida e lá criou sua obra prima ,“A Divina Comédia”, o maior poema de todos os tempos! Aquele que nós julgamos ser um dos ápices do poema, o Canto V, ocorre num dos primeiros círculos do Inferno. Dante se depara com um casal todo entrelaçado, que é açoitado pelos ventos, Francesca e Paolo de Rimini. E será este Canto que podemos considerar como fundador do Eterno Feminino!
Francesca de Dante é antes de qualquer coisa uma criação de artista, de gênio, a “primogênita, a primeira mulher viva e verdadeira surgida no horizonte poético dos tempos modernos”, personalidade poética de um ideal cabalmente levado a termo, com todos os conceitos prevalentes na poesia da época: amor, elegância, pudor, pureza e, principalmente, gentileza.
Com Dante, um homem vivo a visitar os mortos, ocorreu precisamente o oposto, pois criou uma Francesca que se tornou imortal, símbolo de o “eterno feminino que nos atrai para o alto”, primeira mulher a adquirir vida na literatura moderna!
E Francesca nada tem de divinal, ela é humana e terrestre, um ser frágil, apaixonado, capaz de assumir sua culpa e de culpar, com todas as faculdades feminis que geram emoções irresistíveis e para falar a Verdade, a Vida é isto.
Ela não tem qualidades vulgares como o ódio, o rancor, a inveja. Tampouco qualidades tidas como positivas, boas, caridosas, divinais. De seu íntimo exala exclusivamente Amor, Amor, Amor! E neste está sua ventura e sua desdita! Não busca desculpas pela cilada montada pelo marido que a levou à morte. Abraçada ao espectro do amante, Paolo, sua palavra é de uma brutal sinceridade: “Ele me amou, eu o amei, é tudo!” O Amor é para ela força a que não se pode resistir! Uma onipotência e fatalidade que se assenhora de toda a alma e a conduz ao incontrastável, ao inevitável!
A criação de Dante foi a primeira florescência da qual surgiram as personagens mais amadas da poesia moderna: seres delicados feitos para o amor, mulheres arremessadas num mundo que não compreendem e onde também não são compreendidas.
A heroína de Dante abraçada a Paolo, um casal tangido pelo vento de sua própria paixão, que se aproxima mais e mais do abismo que eles próprios cavaram e onde podem se precipitar. Mas não importa isso eles o fazem despreocupadamente, desde que enlaçados, antes mesmo de terem sorvido a vida, a beleza e a juventude.
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