A comunicação compartilhada no FSM 2006, em Caracas

Relato da reunião sobre Comunicação Compartilhada no FSM realizada dia 10 de fevereiro de 2006

Na sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006, participamos, em rodízio, de três eventos emendados: o seminário do FSM, com alguns informes da comunicação, a nossa reunião propriamente dita e nossa cerveja social mundial. Lista de participantes abaixo.

Este relato é da reunião, que teve como pauta um balanço da comunicação compartilhada no último FSM, incluindo o antes (como nos preparamos) e o depois (o que podemos fazer daqui pra frente). Informes foram passados aos que chegaram depois, para a celebração de mais uma rodada da comunicação compartilhada.

Começamos, então, recordando do que se trata.

O CONCEITO

A comunicação compartilhada é a possibilidade de participar de um trabalho de cobertura livre e/ou jornalística de eventos de interesse social , através da troca de esforços e conteúdos entre meios e pessoas envolvidas com a comunicação não corporativa ou de mercado. Tem característica de resistência à lógica neoliberal de gestão controlada da comunicação ao contrapor a troca solidária às práticas competitivas de mercado e ao abordar temas de interesse jornalístico, social, cultural ou político sem o viés mercantilista utilizado pelos grandes meios.

De diferentes formas o conceito é aplicado por iniciativas organizadas no universo do Forum Social Mundial, como Ciranda (internacional e reunindo meios diversificados), Fórum de Radios (radios alternativas e comunitárias), Fórum de TVs (meios audio visuais) e Laboratórios Livres (geralmente de difusão de cultura digital), Minga (Mutirão Informativo dos movimentos sociais, na América Latina) e a Flamme D’Afrique (produção de jornais digitais e impressos por jornalistas na África)

Um dos temas em pauta para os participantes de iniciativas de comunicação compartilhada é a possibilidade de ações conjuntas ou articuladas para fortalecer a atuação em rede das midias alternativas e incidir no perfil da comunicação do Fórum Social Mundial.

AS MIDIAS E O FSM 2006

O balanço geral da participação no VI FSM 2006 Policêntrico, em Caracas, onde realizou-se também o II Fórum Social das Américas, foi positivo, com a realização da VI Ciranda, Fórum de Radios, Cayapa, nome deste ano para o Fórum de TVs. Além dos projetos que fizeram a acolhida das midias alternativas nos eventos de 2005, realizou-se em Bamako, a segunda cobertura de um FSM pela iniciativa Flamme d’Afrique e, em Caracas, mais uma cobertura da Minga.

Em São Paulo, uma parceria com o Estúdio Livre para a realização da Radio Ciranda Piolho, no Espaço Piolin, permitiu uma experiência de troca entre produtores de conteúdos livres e desenvolvedores de tecnologias livres para a comunicação. Foram produzidas edições diárias, divulgadas também pelo Fórum de Radios.

Caracas registrou, além disso, um esforço das midias alternativas presentes no FSM em debater temas como o direito à comunicação, iniciativas e articulações para valorizar a ação dessas mídias no continente, a defesa de políticas públicas que favoreçam o direito à comunicação e, no caso da televisão, a possibilidade de parcerias entre os meios alternativos e as TVs públicas, como a latino-americana Telesur e a brasileira TV Brasil (ambas difusoras dos programas da Cayapa durante os dias do FSM).

Foi justamente o êxito das iniciativas que nos fez olhar para trás e nos perguntar como o milagre foi feito, já que até as vésperas do FSM em Caracas não se sabia com que infra-estrutura contaríamos, nem como as mídias alternativas distantes chegariam lá.

O ANTES

Desde o V FSM, com a realização da V Ciranda, Fórum de Rádios, Fórum de TVs e Laboratório dos Conhecimentos Livres, interferindo fortemente no formato da comunicação do evento de Porto Alegre, participantes desses projetos se propuseram a difundir as experiências da comunicação compartilhada para que seus conceitos e práticas fossem assumidos em todo processo e eventos do FSM. Avançamos?

A repercussão das iniciativas de 2005 produziu certo impacto no processo organizativo da comunicação dos eventos de 2006, especialmente em Caracas, onde houve preocupação em reservar espaços para o trabalho compartilhado das mídias, apesar da indefinição de como seriam até as vésperas do evento.

Mas a avaliação geral foi de que os avanços deste ano se deram mais por ações isoladas das pessoas e mídias alternativas participantes e também pelas bases de articulação criadas ou fortalecidas com as experiências de Porto Alegre (observamos que depois disso houve ainda maior atividade dos grupos envolvidos com temas da comunicação), e menos por uma relação com o processo organizativo do FSM, como proposto em 2005.

Um exemplo foi a decisão dos projetos em 2005 de ingressar na lista da Comissão de Comunicação do Conselho Internacional do FSM, para introduzir o tema do papel e espaço das mídias alternativas no FSM, e para formular estratégias de diálogo entre as propostas de comunicação dos eventos policêntricos programados para 2006 e as formas de interconexão direta entre estes.

Reivindicamos no mural de propostas do V FSM em Porto Alegre a realização de um seminário internacional que teria contribuído imensamente para viabilizar iniciativas distantes e interativas durante o FSM 2006 Policêntrico, mas que não teve encaminhamento ou apoio adequados.

Um grupo formado na Comunicação do CI passou a buscar recursos e soluções tecnológicas para a criação de janelas virtuais entre os eventos, ficando em segundo plano o debate internacional da comunicação compartilhada e outros conceitos de interconexão. As janelas virtuais foram inviabilizadas pela falta de financiadores – e finalmente desprezadas pelo fim da simultaneidade entre os eventos.

Por outro lado, tivemos durante o ano algumas iniciativas que ajudaram a articular a participação nos projetos compartilhados em Caracas, como uma cobertura organizada pelo projeto Fórum de Rádios, em Mar Del Plata, durante a Cúpula dos Povos – onde começaram os contatos com as rádios comunitárias da Venezuela e a Comissão de Radio e TV do FSM-Caracas, e a criação da lista La Compartida, para discussão da comunicação compartilhada em 2006. Algumas reuniões ampliadas começaram a ser realizadas na Casa da Cidadania Planetária/Instituto Paulo Freire (SP), por iniciativa da Ciranda, para debater a cobertura do FSM 2006 Policêntrico.

O DEPOIS

A possibilidade de rever e retomar as propostas nascidas em 2005, de estabelecer uma relação estratégica entre o processo organizativo do FSM e a articulação das mídias alternativas para ações compartilhadas ressurgiu na pauta de sexta feira passada.
Em que nível essa relação deve ser dar? Propostas diferentes defendidas na reunião:

– estabelecer um protocolo de atendimento às mídias alternativas a ser observado em todos os eventos do FSM e apresentá-lo ao CI; ou
– reivindicar compromissos mais ativos do FSM, como a priorização de iniciativas que permitam o debate prévio da comunicação compartilhada nos eventos (a exemplo do seminário proposto em 2005); ou
– propor a entrada dos projetos compartilhados no Conselho Internacional do FSM.

Algumas questões levantadas durante esse debate:

– Como podemos já ir preparando o terreno para as atividades de mídias alternativas para o FSM 2007?

Como articular iniciativas locais com as redes potencialmente organizadas que estão com uma certa “expertise” acumulada dos outros FSM?
Será que devemos preparar uma “pauta” de orientação ao CI, indicando que tipo de apoio precisamos para explicitar o reconhecimento político do FSM às iniciativas de comunicação compartilhada e sua legitimidade, e para que atividades de mídias alternativas possam ocorrer de forma compartilhada localmente?

Duas propostas foram feitas em relação às características da rede de comunicação compartilhada:

– que além de coberturas pontuais desenvolva atividades sobre direitos e políticas de comunicação

– que além de articulações para coberturas e atividades organizativas desenvolva atividades sobre linguagens, modos e meios alternativos de comunicação

ENCONTRO 6 DE MARÇO

A necessidade de tratar estas questões e a urgência em definir as próximas iniciativas compartilhadas das mídias alternativas levaram as pessoas participantes da reunião a propor o seguinte:

1) Considerar os próximos eventos no Brasil (Fórum Mundial de Educação, em março, e Fórum Social Brasileiro, em abril ) como agendas de interesse para ações compartilhadas das mídias alternativas
2) Realizar um seminário no início de março, com dois momentos:

2.1) Apresentação da arquitetura do Fórum Mundial de Educação Temático – Cidade Educadora – de Nova Iguaçu, para quem pretende cobrir o evento. E do Fórum de Abril ou FSB (durante o dia).

2.2) Debate das agendas, estratégias ou iniciativas possíveis da comunicação compartilhada nesses eventos e na preparação de iniciativas para o VII FSM, na África.(durante a noite).

A data proposta é 6 de Março de 2006, uma segunda feira. A pauta mais detalhada a gente ajusta até lá.

Participaram da reunião:

Henrique Parra
Juliana Bruce,
Renato Boch
Marcia Macedo
Antono Martins
Isabel Pato
Bia Barbosa
Michelle Prazeres
Patrícia Giuffrida
Rita Freire, Ciranda
Carla Prates, Escritório

Participaram do seminário do FSM
Além das pessoas acima,

Salete Cavesan,
Lina Rosa
Verena Glass,
Irineu Bardi
Cristina Charão

Chegaram para o brinde social mundial

Tonho Biondi
Barbara Ablas,
Rafael Evangelista,
Mariana Lettis,
Luciano Máximo,
Daniel Merli,
Soraya Misleh e Wilson
Banto deu um oi

Como podem ver, foi uma festa!
Alguém mais não assinou a lista da reunião?

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