Assistindo ao filme “Invictus” dirigido pelo cineasta Clint Eastwood pude definitivamente constatar a qualidade absurda de seus filmes.
O filme em questão trata de uma discussão acerca do apartheid, política de segregação racial que vigorou na África do Sul até o início da década de 90.
Mas diferente de “Mandella”, filme de 2008, dirigido por Bille August, que mostra a vida do líder negro Nelson Mandella na prisão, Invictus propõe uma reflexão sobre a questão racial sul-africana enviesada pelo esporte, no caso o rugby.
A sagacidade e inteligência política de Mandella são exemplares, interpretadas majestosamente por Morgan Freeman, a ponto de nós pessoas comuns, que se indignam com as injustiças sociais, se incomodarem profundamente com sua serenidade no trato das questões raciais.
Mas o fato é que a história sul-africana nos é contada de forma emocionante, e ao mesmo tempo, evidencia a visibilidade política do então presidente Nelson Mandela (1994-1999), que ao optar pela manutenção de um time de rugby, ícone da representação da “África do Sul Branca” e racista, consegue unir brancos e negros em torno de uma nação até então, marcada por um forte separatismo racial.
Durante a sessão me veio à cabeça uma rápida reflexão sobre a importância do esporte enquanto elemento aglutinador das diferenças sociais. No caso brasileiro, há muito que venho pensando que, o que nos une enquanto nação, e aquilo que nos atribui uma identidade como povo, encontra-se enviesado pelo futebol.
Evidente que tal identidade se conformou através de uma criação muito forte e renitente daquilo que o geógrafo Milton Santos denominava como psicoesfera , encabeçada pelos meios de comunicação. Esta psicoesfera, por sua vez, se mostra um tanto artificial e imposta de forma autoritária.
Mas voltando a questão do esporte, é fato a coesão que pode ser promovida por intermédio deste, pois envolve o domínio das emoções e das paixões humanas, ao mesmo tempo que seu efeito contrário também pode ser verdadeiro.
Lembrei-me ao assistir “Invictus” de como o futebol infelizmente foi utilizado no Brasil como instrumento de alienação, diferente o rugby mostrado no filme.
O governo militar ditatorial de Garrastazu Médici no Brasil (1969-1974) é exemplar disto. Enquanto milhares de brasileiros denominados com subversivos eram torturados nos porões da ditadura por lutarem contra o regime de exceção vigente, o governo militar se encarregava de exaltar o ufanismo da nação, ébria com a eminente conquista do tri-campeonato de futebol no México em 1970.
Com isto, vemos a estreita relação existente entre política e esporte, e que este por sua vez pode ser um importante apêndice para a manutenção de um regime político perverso e autoritário, ou então, para aproximar as diferenças sociais e fortalecer nosso orgulho enquanto membros de uma nação, ainda que nem sempre bem representada por um Estado legitimador disto.
O filme de Eastwood nos mostra uma saída política enviesada pelo rugby. A questão que fica é… Em tempos de uma forte crise de representação política, só o esporte nos une?
Ah! Sem querer ser chato, mas antes que eu me esqueça, este ano tem Copa do Mundo e eleições presidenciais. Mas, Clint Eastwood pra mim continua invicto. É isto.