Em Oaxaca, temos a certeza de que o futuro político do México passa por aqui. O panorama eleitoral é bastante tenso e polarizado, devido às características especiais deste estado, o único no México com maioria indígena, cuja diversidade se espelha em 16 culturas diferentes, e a miséria do povo o coloca quase no final da lista dos estados mexicanos em nivel de desenvolvimento, junto com Chiapas e Guerrero. Por outro lado, baseado em sua cultura ancestral baseada na autonomia, o povo de Oaxaca é bastante organizado e coloca questionamentos em sintonia com as inquietações que vive hoje o nosso mundo.
Por tudo isso, é o estado de maior violencia policial e paramilitar no país, que tem garantido o governo do PRI há mais de 80 anos, a poder de corrupção e fraudes eleitorais, como a que colocou no governo estadual Ulisses Ruiz em 2004. e que gerou os conhecidos conflitos de 2006. Oaxaca chocou o mundo em final de abril com a emboscada que matou dois ativistas pacifistas que se dirigiam em caravana de ajuda humanitaria ate a comunidade indígena triqui, no municipio de San Juan Copala: a mexicana Alberta Cariño Trujillo, de 30 anos de idade, vinda de Chila de las Flores (Puebla), integrante do Centro Comunitario Trabajando Unidos (Cactus); y Juri Vaakkola, de 33 años integrante da organização Unsi Tanli Ry da Finlandia.
Ciranda articula mídia independente
Por isso, a partir de uma primeira missao de solidariedade às comunidades de Oaxaca, da qual participou com algumas entidades do Forum Social Mundial e do ForuM Social Mexicano, em maio deste ano, a Ciranda articulou a participação de meios de comunicacao independentes. Esta é a segunda missao organizada pelas entidades EDUCA, ação civil mexicana, em conjunto com a organizacao Comcausa e representante da Universidade Autonoma do Mexico, desta vez pára observar e cobrir a garantia dos direitos humanos durante as eleicoes no estado.
Constitui-se assim a Comissão Internacional de Comunicação e Observação de Direitos Humanos, composta por jornalistas e acadêmicos da Itália, Argentina, Suécia, Espanha, Uruguai, além de três brasileiras. A Missão está na cidade de Oaxaca desde quarta-feira, e realizou uma série de visitas, conversas e entrevistas com representantes partidários, intelectuais, direções de movimentos sociais,inclusive visitando alguns “pueblos” (cidades) do Estado oaxaqueño.
A entrevista coletiva dada pela Comissão, coincidiu com a notícia do assassinato do presidente municipal de Santo Domingo de Morelos, Nicolas Garcia Ambrosio, e um “síndico” (espécie de vereador) da cidade, Miguel Angel Perez, ambos filiados ao PRD (Partido Revolucionario Democratico), partido mais à esquerda na Coalização formada para enfrentar ao PRI, com o PAN (Partido de Ação Nacional), PT (Partido do Trabalho) e o Partido da Convergencia. A aliança ampla foi tida como necessária para enfrentar o PRI.
“Nos interessa Oaxaca”, disse Inmaculada Rodriguez Cunill, da Universidade de Sevilha, Espanha. “Aqui se reproduzem com maior crueldade as contradições da nova ordem mundial: exploração, miséria, controle político vertical”. Martin Velasquez, da Comcausa, explicou que “não somos observadors eleitorais, mas sim comunicadores de meios independentes, com o propósito de informar o mundo com perspectiva de direitos humanos”. Ele ressaltou a importância desses novos espaços – Ciranda, Caros Amigos, La Tribu, Carta – que atendem a necessidade de difundirmos informações sem o controle empresarial ou do poder de Estado.
Comunicação livre é fundamental
A comissão esteve visitando, até o dia da eleição, cinco municípios próximos a capital Oaxaca: São Jose del Progresso, no Vale de Oacotlan, onde se desenvolve luta fundamental contra projetos de mineradoras; San Antonino, Xoxocotlan, Zaachilla e Santa Lucia del Camino. Em todos os “pueblos” a populaçao está organizada e preparada para vigiar as urnas e a eleição. Todos acreditam na derrota do PRI,se não houver violência ou fraudes.
Zaachilla destaca-se por uma maior organização e a certeza de que, se as eleições forem limpas e legítimas, o candidato da Coalizao ganhará com diferença de cerca de 3 mil votos. Nesta cidade cumpre papel importante a rádio comunitária coordenada pela “Frente de Pueblos em Resistencia”, em luta contra projetos que destroem a água e o meio ambiente. “Não queremos violência”, diz Raciel Vale, da coordenação da campanha oposicionista. “Não é só chamar as pessoas a votar, é preciso vigiar as urnas e o processo. Há duas semanas estamos em assembléia permanente, e temos 200 pessoas envolvidas diretamente”.
Em todos os municípios a população está preparada para as eleições, embora os métodos de “comprar” votos estejam em curso. O voto não é obirgatório no México, e a participação quase nunca chegou aos 50%. Oaxaca vive, desde 2006, um processo de insubordinação cidadã. Oaxaca sabe do papel simbólico que terão os resultados desta eleição aqui, e todos acreditam que está se iniciando o processo eleitoral de 2012, quando se elegerá novo presidente da República.
Oaxaca tem acumulado razões para não acreditar mais nos processos eleitorais. Mas resolveu dar uma chance para que as mudanças estruturais, sociais e políticas de que necessitam possam se dar pela via pacífica e institucional. Apesar da criminalização de suas lideranças, ameaças e “compras” tradicionais de voto, a organização popular resiste. A maioria de suas organizações – mais de 10 mil em todo o estado – já convocam as pessoas a estar nas ruas no dia 5, para comemorar ou protestar. Daqui, temos a certeza de que a democracia do México passa por Oaxaca.