Nesta sala estão dois mundos que não se tocam nem se conhecem”. A intenção destas palavras ditas pelo professor Charles Moore, intelectual negro do Estado da Bahia, foi provocar o público negro e indígena reunido no auditório em que se realizou o Encontro Pan-Amazônico 2009 a refletir sobre o impacto que haveria a união de forças destes povos contra o racismo na América Latina.
Ele recordou dois processos dramáticos vividos pelo continente, que fizeram vítimas entre milhões de pessoas negras e indígenas: o colonialismo “terrível e holocáustico”, que provocou o desaparecimento de 50 milhões de indígenas, e o processo ” igualmente genocida” que arrancou mais de 5 milhoes de pessoas África para escravizá-las aqui.
Hoje, embora tratadas como minoria, essas populações são formadas por 150 milhoes de afrodescendentes e de 130 a 160 indigenas. Somos de 280 a 300 milhões de pessoas na América Central e do Sul: uma grande força demogragica mas que não se traduz em força política, porque há contradições sérias entre esses dois mundos, lamentou.
Um sintoma desse afastamento é que não existe, acredita ele, na América Latina, nenhuma organização nacional ou transnacional que juntem as duas lutas.
No entanto, o estudioso apontou muitas coisas fundamentais unindo as duas culturas permitem construir a aproximação. Por exemplo, “a relação com a Terra na África é exatamente igual a dos indígenas, é coletiva. A natureza também é vista como aliada, não como inimiga. É vista como mãe”.
É a mesma visão em Brasil Cuba, Haiti, também nos terreiros de camdomblé
Alem da cosmovisao, existe em comum a memória histórica “falsificada”, diz ele, porque “apagaram a memória historia dos dois povos e ambos precisam lutar para recuperar essa memória,ensinar aos filhos e ao resto da sociedade “.
E se não houvesse outra coisa em comum, existe o racismo. ” Não são simplesmente atitudes de prejuízo individual, mas uma consciencia que permeia o planeta, que produziu o holocausto dos indígenas, o arrancamento e o trafico negreiro e a escravização, do povo negro.
O racismo, afirma Moore, antecede o capitalismo, não surge dele.
A visao de que ele surge do capitalismo como um pretexto para exploração é uma visão anti-histórica, disse. O problema é que o racismo nega a convivência com as diferenças e é um fenômeno planetário, a exemplo do que se passa com os Dalits, na Asia, Aborĩgenes, na Austrália.
Estamos confrontando um monstro de 100 cabeças, que conforma todos os tipos de relações, que se nutre sempre do mesmo combustível, e essa combutivel é o racismo. Se esquecemos isso, estamos lutando em vão.
“A solidariedade não deve ser jogo de palavras, deve ser com ações e conhecimentos concretos das distintas comunidades”, conclamou.Temos obrigação de sair daqui nos conhecendo melhor
Leia Cobertura completa do Encontro Pan-Amazônico de 14 a 17 de Julho de 2009