Foto: ASCOM CIAD
Os países ricos devem indemnizar África pelos danos causados ao continente, defendeu quinta-feira em Salvador, capital do Estado da Bahia (nordeste do Brasil), o escritor, artista plástico e intelectual brasileiro Abdias Nascimento.
Segundo ele, os países ricos têm a obrigação de ajudar África a sair da difícil situação em que se encontra, marcada pela pobreza, por doenças e pelo subdesenvolvimento, porque as riquezas daqueles foram criadas através da “descapitalização económica e humana” do continente negro.
Abdias Nascimento, licenciado em Economia e professor emérito da Universidade de Nova Iorque (Estados Unidos), falava em entrevista à PANA à margem da II Conferência dos Intelectuais de África e da Diáspora (CIAD II) iniciada quarta-feira passada.
“Os beneficiários do imenso sacrifício da escravidão têm a obrigação de repor, de ajudar, no que lhes cabe de responsabilidade histórica, os povos (africanos) que derramaram o seu sangue e as suas vidas”, insistiu.
Abdias Nascimento, de 90 anos de idade, precisou que as nações ricas podem ajudar África financeiramente e através da transferência de tecnologia “sem o problema das patentes que os países têm que pagar um alto ónus para as usar, como por exemplo o absurdo que se passa com os produtos farmacêuticos”.
Primeiro senador a defender os direitos dos negros no Congresso do Brasil (Parlamento), Nascimento sublinhou, por outro lado, que o panafricanismo é uma postura política que pode ajudar África a avançar.
Contudo, disse, essa noção não pode ser manipulada nem por governos nem por chefes de Estados, mas “tem que ser uma ideia da qual o povo esteja consciente, e lute por ela porque este é o futuro de uma África independente”.
Em sua opinião, a CIAD II que encerra esta sexta-feira ajudará a concretizar a união dos africanos no continente e na diáspora como um bloco único, uma entidade que está a forjar o seu futuro e a dar passos firmes no caminho do seu completo desenvolvimento e da libertação das forças neocolonizadoras com opções de nomes como “globalização”.
A CIAD II reúne cerca de mil participantes que estão a abordar questões ligadas ao continente e à contribuição dos seus filhos para o seu desenvolvimento.
Nesta reunião de Salvador, o chefe de Estado brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu o testemunho da presidência da Conferência de Intelectuais de África e da Diáspora do seu homólogo cessante Abdoulaye Wade do Senegal.
Os trabalhos do encontro foram também acompanhados por vários outros chefes de Estado africanos incluindo Festus Mogae do Botswana, Pedro Pires de Cabo Verde, Teodoro Obiang Nguema da Guiné Equatorial, e John Kufuor do Gana.