O desfio colocada pela realidade da discriminação racial em uma sala de aula de primeira a quarta série, a cada dia passa a exigir dos educadores mais perspicácia no tratamento da questão.
É verdadeiro afirmarmos que nenhuma criança saiba utilizar das diferenças étnico-raciais para desenvolver processos de discriminação e exclusão de um ou uma coleguinha em um grupo de 06 a 07 ansos de idade. No entanto, a capacidade que as crianças com essa idade têm em reproduzir aquilo que presenciam no cotidiano dos adultos é fantástica.
Evidentemente que se uma criança consegue magoar a outra com um gesto de discriminação, a ela não poderemos imputar nenhuma culpabilidade. Elas manifestam aquilo que na convivência familiar foi aprendido com os adultos. Essa é a realidade problemática na sociedade brasileira.
As formas de expressar o racismo, a discriminação e os preconceitos são rotineiras no contexto da sociedade brasileira. As atitudes, as palavras, os gestos discriminadores passaram a ser algo vividos com demasiada naturalidade no cotidiano de uma família.
A escola é um espaço privilegiado de formação de uma criança, mas não substitui a família e o seu preponderante papel na formação do caráter. Uma criança aprende e apreende os ensinamentos familiares, os valores cultivados, o respeito, mas também as práticas nocivas à convivência social que ali na família são explicitadas.
Penalizar uma criança nessa fase da vida, jamais. Entretanto permitir que tais comportamentos continuem vitimando outras crianças é uma blasfêmia à dignidade humana, quando não um crime, cuja responsabilidade deverá recair sobre os adultos com que ela convive.
É nesse contexto que a atuação dos educadores entra no jogo da convivência extra-escola e intra-familiar. É um mesmo educador que tem em sua sala de aula, os filhos de das diferentes famílias no que diz respeito à composição étinca da população. É esse educador que cotidianamente administra as ações, gestos e atitudes dessas pequenas crianças cidadãs. Ao perceberem que os gestos e atitudes não condizem com uma prática pedagógica da escola em questão, cabe buscar uma solução para além dos muros da escola.
Do grau de compreensão da temática em questão na vida do educador dependerá a eficácia e o tratamento adequadamente da problemática suscitada. E todos nós temos suficiente clareza de como no processo educacional, sobretudo na formação docente, os conteúdos e os métodos de análises da questão racial no páis foram negligenciados. Não são raras as situações em que educadores temem pronunciar a palavra negro numa sala de aula, alegando que isso é ofensivo. Ou ainda se esquivam de toda e qualquer oportunidade de abordar a questão das relações raciais, temendo serem tachados e ou rotulados de racistas. Há ainda os que entendem ser uma tremanda bobgem tal temática, uma vez que trabalham com crianças tão pequenas que não entendem nada a respeito.
Ao depararem com situações de discriminação ficam sem saber como agir. Assustados, surpreendidos se perguntam como foi possível tal situação. Entao, passam a perceber que é necessário tomar atitudes, para as quais nunca foram preparados. Fazer o que?
Aos que se sentem instigados diante da realidade nova – nem tao nova assim – acabam lançando-se na busca inqueitante de soluções. Muitos, surpresos, encontram com a lei 10.639 e descobrem que isso já é uma luta que vem de longe. E que mais do que nunca, nosso processo democrático não é tao democrático assim, enquanto a discriminação atuar como fator de exclusão em todo e qualquer espaço da vida social, e de um modo particular na família e na escola.