Foto: Mataram meu gato, de Ana Rieper e Maria José Freire
O gênero “documentário” nunca antes conhecera o sucesso de público que vive hoje; ao mesmo tempo, nunca teve a própria identidade tão posta em xeque, foco de vigoroso debate. A Mostra Internacional do Filme Etnográfico chega à sua 11ª edição como prova do amadurecimento do gênero que experimenta, no Brasil, uma festejada expansão. Entre 8 e 15 de novembro, o evento vai exibir gratuitamente 111 filmes nacionais e estrangeiros, além de sediar inúmeras atividades.
Os documentários do festival foram produzidos em 18 países diferentes, e filmados em lugares tão diversos quanto Angola, Kyrgystão, Egito, Senegal, Mongólia, Malásia, Caribe, Nova Guiné, Quênia, Burundi, Sri Lanka, Romênia e Marrocos – só para citar alguns exemplos. Este ano, no entanto, o principal destaque da Mostra fica por conta da apresentação de filmes produzidos na Índia e/ou sobre a Índia.
O país, e principalmente a região conhecida como Bollywood, é um dos mais importantes pólos cinematográficos do mundo. Ele está representado aqui pela obra de vários cineastas, dentre eles: o indiano Rahul Roy, os franceses Pierre-Yves Perez e Cédric Dupire, e o inglês David MacDougall.
Roy, Pierre-Yves e Cédric vêm ao Brasil pela primeira vez, especialmente para a Mostra. O primeiro tem arrancado elogios no mundo todo com uma trilogia sobre a vida operária na Índia. Os outros dois dirigiram o filme Musafir, sobre música indiana, que será exibido na abertura do festival, no próximo dia 08, às 19h30, no Odeon BR.
Dentre os diretores confirmados, temos também a presença do australiano Gary Kildea. Com uma carreira mais longa, já ganhou alguns dos principais prêmios do gênero com seu filme Celso and Cora. Além de apresentar seu último trabalho, premiado no festival etnográfico da Inglaterra, filmado na Nova Guiné, (Koriam’s law and the dead who govern), Kildea irá coordenar um worshop. Para falar de sua obra, estará presente também o antropólogo-cineasta francês Marc Piault.
Na seleção brasileira, alguns destaques são: Acidente, o mais recente filme de Cao Guimarães, de Minas Gerais; os cariocas Mataram meu gato, de Ana Rieper e Maria José Freire, Morro da Conceição, de Cristiana Grumbach, Multiplicadores, de Renato Martins e Lula Carvalho e Memórias da Glória, de Severino Dadá; de Pernambuco vem Iauretê, cachoeira das onças, de Vincent Carelli (representante do Projeto Vídeo nas Aldeias); da Bahia, Hip Hop com dendê, de Fabíola Aquino e Lílian Machado; de São Paulo, Diário de Naná, de Paschoal Samora; do Acre, Noke Haweti, de Benjamin André Katukina. Além de: Navegar a Amazônia, de Jorge Bodanzki e Evaldo Mocazel e Nenhum motivo explica a guerra, de Carlos Diegues e Rafael Dragaud. As exibições serão seguidas de debates com os realizadores.
Outro destaque interessante é um conjunto de filmes feitos sobre o Brasil, por diretores estrangeiros, tais como: Cavalo Marinho e Mãe Baratinha, uma história de Candomblé (produzidos na Itália), Gatos (de Israel, sobre a capoeira em Itacaré) e Obrigada (sobre os bastidores do Candomblé, produzido na Escócia).
Para estimular o debate sobre os rumos do documentário etnográfico, acontece, em paralelo à Mostra, o tradicional Fórum de Cinema e Antropologia, que reúne mesas redondas, workshops e um Projeto Educativo (ver programação em anexo).
“O filme etnográfico é um segmento do gênero documental marcado, hoje, pelo desejo de mostrar que existem diversas possibilidades de ‘olhar’. Ele representa o interesse pela diversidade de culturas e, sobretudo, pela maneira de olhar para essa diversidade”, explica Patrícia Monte-Mór, antropóloga e curadora do festival.
A Mostra Internacional do Filme Etnográfico teve a sua primeira edição em 1993, sendo o primeiro evento do gênero no Brasil. Assim, foi precursora de mostras mais recentes, como o Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte e a Mostra Amazônica do Filme Etnográfico.
Além disso, o evento carioca serve como uma grande vitrine da jovem produção nacional. Alguns documentaristas brasileiros hoje bastante reconhecidos tiveram na Mostra uma oportunidade de apresentar os seus primeiros trabalhos. É o caso de Simplício Neto (que fez enorme sucesso no último Festival do Rio, com seu longa Onde a Coruja Dorme), Estevão Ciavatta (conhecido pelo premiado documentário Nelson Sargento) e Emílio Domingos (A palavra que me leva além e, nessa edição da Mostra, Minha Área, com outros diretores).
Ano passado, cerca de 10 mil pessoas circularam pela 10ª edição do festival. Para abarcar tamanha procura, a 11ª Mostra se desdobra em diversos pontos da cidade. Os filmes serão exibidos no auditório do Museu de Folclore Edison Carneiro (sede oficial do evento), no Espaço Museu da República, no Sesc-Flamengo, no Memorial Getúlio Vargas e na Caixa Cultural. Nesta última, haverá ainda uma programação extra, com filmes sobre samba (chamada O Samba da minha terra), além de reprises da Mostra, entre 16 e 19 de novembro. O evento é patrocinado pelo Ministério da Cultura, através do Iphan, Petrobras, Sesc e Caixa Cultural.
Informações: Juliana Krapp – (21) 8144-1214, email: julianakrapp@gmail.com