Carta para Dona Lindu

Reforma agrária, educação básica, saúde, empregos, reforma política: sem as alianças de antes, agora Lula pode cumprir essas promessas, diz Frei Beto, na segunda carta que escreve à Dona Lindu, mãe do presidente Lula, falecida em 1980. A primeira foi em 2002, quando o amigo se elegeu presidente pela primeira vez.

Frei Beto foi fundador do PT, ao lado de Lula, e seu assessor especial no Planalto, mas deixou o cargo ao perceber que a política do governo, especialmente a econômica, seguiam rumos diferentes daqueles sonhados durante a trajetória do PT e da campanha eleitoral que deu ao companheiro de décadas o primeiro mandato.

Frei Beto chegou à conclusão de que Lula foi “obrigado a fazer alianças com adversários históricos” e que isto, agora, pode mudar, com o grande apoio popular obtido pelo presidente – e os ataques sem trégua dos adversários. O velho amigo espera que que “Lula possa cumprir as promessas que fez em 2002” (Rita Freire)


Leia a carta de Frei Beto para a mãe do presidente Lula

Querida Dona Lindu,

Lembra que lhe escrevi em 2002, tão logo seu filho Lula se elegeu presidente da República? Agora, tenho outra boa notícia: ele acaba de ser reeleito. E mais da metade dos brasileiros considera o governo dele de bom a ótimo.

É incrível como Lula se parece ao velejador solitário que decide cruzar o oceano num bote de pesca. Enfrenta tufões e tempestades, nevoeiros e maremotos, ondas gigantes e ventos desfavoráveis e, no entanto, supera todas as adversidades. Em 61 anos de vida, Lula saiu da miséria em que a senhora criou os filhos, deixando-lhes de herança apenas coragem e dignidade, para se tornar o líder sindical mais respeitado do País, fundador do PT e, agora, presidente do Brasil pela segunda vez.

Não foi também nada fácil a travessia desses primeiros quatro anos de governo. Seu filho se viu obrigado a fazer alianças com adversários históricos, a agradar aos donos do mercado financeiro, a submeter-se ao Banco Central, que, de tal modo, trava o crescimento econômico do Brasil que mais parece o Breque Central. Haja juros altos, superávit primário e metas de inflação, quando a receita deveria ser juros baixos, menos dinheiro aos credores da dívida pública e metas de desenvolvimento sustentável.

Assustador foi o furacão ético que ameaçou abalar o governo. Seu filho declarou-se “traído”, confessou lhe terem “enfiado uma faca nas costas”, e tratou de afastar ministros e assessores acusados de corrupção. O povo não perdeu a confiança em Lula e, agora, o reconduz a um segundo mandato.

Tomara que nos próximos quatro anos Lula possa cumprir as promessas que fez em 2002 e repetiu agora no segundo turno: agilizar a reforma agrária, aumentar o investimento em educação básica, acabar com o sucateamento da saúde, promover a reforma política, combater o desemprego e abrir, enfim, a porta de saída do Bolsa Família, de modo que os beneficiários já não dependam do dinheiro público e produzam a própria renda.

Do Céu, onde a senhora se encontra, ore pelo segundo mandato de seu filho e envie ao Brasil as bênçãos da Maria Negra de Aparecida, nossa padroeira.

Afetuosamente, Frei Betto

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