Em 1579, Lisboa foi assolada pela peste. Contaminado, Camões foi recolhido a um abrigo para indigentes. Ali, só e esquecido, morreu.
Camões era de origem nobre. Mas, o era principalmente nobre de espírito; manteve por toda a vida a alma audaciosa, independente e renascentista. E, apesar de todas as dificuldades, elevou-se no ardor daqueles que não se submetem aos tiranos e aos preconceitos de raça, de cor, de credo ou de dinheiro. E como isto lhe custou muito caro!
Já aos 20 anos despertou a inveja dos poetastros ambiciosos na Corte Real. E a intriga, as mentiras e a mediocridade possuem sempre, em meios da elite política, uma extraordinária eficiência. E Camões terminou por ser banido da Corte! Quem o baniu foi João III, autodenominado “O Piedoso”, introdutor da Santa Inquisição em Portugal.
Exilado, Camões conheceu de perto as barbaridades das guerras, os abusos dos poderosos e dos fanáticos e, por isto, esteve várias vezes nos cárceres, ao todo por volta de seis anos, tendo por pouco escapado da Santa Inquisição.
Sua morte na miséria foi fruto da marginalização que sofreu por parte tanto da Igreja, quanto da Realeza. Por seu lado, Camões jamais mendigou ou ao menos pediu apoio financeiro para a nobreza. Pobre, recolheu-se ao convívio popular modestamente, e jamais aceitou um convite que fosse para frequentar os salões de uma Corte por ele definida como “corrompida, estúpida e decadente”.
“Os Lusíadas”, clássico dos clássicos, reflete a decadência do feudalismo e é o principal arauto literário de um Novo Mundo. Um grito épico de independência moral! Nada se encontra de estreito, de restrito; como todo o homem autêntico de espírito livre, ele sempre mais e mais se aproxima do “paganismo” da natureza que do espírito cristão estreito dos tempos da Santa Inquisição. Jamais sua lírica se contamina com preconceitos, combate-os com a fé no humanismo.
Não se tratou de acaso, que logo após sua morte, quase todos os seus escritos hajam desaparecido. Foram necessárias décadas para que fossem reunidas não somente suas rimas, bem como parcela de sua obra teatral.
Convidamos à leitura de nosso ensaio.