Hoje acordei com vontade de ir ao bar para resolver os problemas mundiais, escoltado por cervejas suando gelo. Mas não é qualquer bar. Na verdade queria conversar com Paulinho do Tiborna para planejar o “Domingo dos Malas nas Artes”, ouvir um chorinho, pedir para o trio Corda de Pandeiro tocar Almirante Negro e Corsário, esperar nosso povo amigo e fazer muita hora para traçar a feijoada do sábado. Gosto de chegar cedo, para assuntar música sem barulho e programar atividades culturais. Somente deixo o bar após a terceira saideira, quando a lua desponta no céu de Brasília.
No bar o mais importante é jogar conversa fora. Conversas sérias, conversas ilustradas e conversas bobas sem pé nem cabeça. Não interessa se o tira gosto está bom ou ruim. Trata-se de complemento para forrar o estômago, de forma a apreciar tudo de bom que acontece nos bares em dias normais ou festivos.
Na capital federal Tiborna, Pardim e Tia Zélia não são bares em sentido estrito. Na verdade, constituem templos de revitalização dos sonhos, do prazer e da satisfação de com-beber na companhia de pessoas queridas, que oram conosco a liberdade de expressar sentimentos, conhecimento, preconceitos, valores, dúvidas, sofrimentos, medos, angústias, utopias, distopias e resistência cultural e democrática.
Em tempos de coronavírus não podemos ir ao bar. Simplesmente porque no bar ninguém usa máscara depois da segunda cerveja, capirinha, ou dose de cachaça artesanal. As confissões são mais verdadeiras do que nas igrejas convencionais. Sentados praticando halterocopismo, atropelando as falas da amiga ou amigo e chovendo perdigotos, a gente vai expressando opiniões eivadas de sentimentos turbinadas pela água benta batizada com álcool em distintos percentuais, ao gosto do freguês.
O bar também é o templo dos afetos, do carinho, dos desejos, da solidariedade e do acolhimento. Essas belas razões de viver integralmente, as quais adoçam nossa alma e nos faz falta nesses tempos de confinamento, atrapalhado pelo (pan)demônio – que habita o Alvorada – e sua manada de aluguel.
Precisamos transferir o que exercitamos no bar para nossa ação política. A luta pela igualdade social que caracteriza o #serdeesquerda precisa atingir corações e mentes das pessoas com o discurso do afeto, do acolhimento e da generosidade. Mais especificamente pela prática do afago, da carícia e do abraço, após a passagem do covid 19. A carência de carícias e afetos será enorme.
A palavra de ordem é usar e abusar do carinho e do amor que expressamos no bar em todas as nossas relações pessoais, sociais e políticas para brindar o renascimento, a esperança e as lutas pós-pandemia.
Imagem: Free-photos Pixabay
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