8ª Caminhada Lésbica politiza a diversidade

Elas iam chegando devagar até o momento em que começou o ato político. Uma bandeira diferente – começava no rosa e acabava em azul – chamava a atenção. Quem a conduzia era Daniela Furtado, 23 anos, defensora da bissexualidade. Segundo ela, na Europa e nos EUA, o movimento não é pequeno, sua bandeira veio de Londres. “Quando resolvi sair do armário”, nos conta Daniela, “fui procurar minha turma entre lésbicas e gays”. A experiência foi frustrante, pois todos lhe diziam “você é covarde, não tem coragem de assumir; … sai do muro”. Desde então, a ativista procura divulgar a causa das e dos bissexuais.

Dando abertura à 8ª Caminhada de Lésbicas e Bissexuais, organizada pela LBL – Liga Brasileira de Lésbicas em parceria com o Conselho Regional de Psicologia/SP, e com o apoio de diversas organizações (com destaque para as feministas), falou Lurdinha Rodrigues, da LBL. Apresentando o evento e o lema deste ano, a mais famosa coordenadora da Caminhada, resumiu os pontos de luta. “… Numa sociedade heteronormativa, machista e lesbofóbica, queremos que o amor entre iguais não seja motivo de discriminação e violência. Todo amor deve ser celebrado!”.

Diversidade e diversidades

A Caminhada, que já acontece há oito anos sem praticamente nenhuma divulgação por parte dos grandes meios de comunicação, foi menor que ano passado, mas chegou a ter mais de 2 mil pessoas (número dado pela PM). Nem mesmo o site oficial da Parada LGBT deu destaque, ou convocou o evento, que já se tornou ponto de encontro das lésbicas, sobretudo as que, além disso, são feministas e ativistas. Numa rápida pesquisa pela mídia comercial, encontramos muito pouco, todos dando a Caminhada Lésbica como prévia da Parada.

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“Celebramos nossa diversidade, amores tão diversos”, falou Camila Furchi, da Marcha Mundial de Mulheres e da Fuzarca Feminista que, uma vez mais, fez o maior sucesso na abertura da caminhada. “Há ainda muito a fazer”, continuou, “todo o ano temos que disputar o sentido desta caminhada na mídia, que só nos quer ver como consumidoras”. Camila fez questão de lembrar mulheres de outros países, oprimidas mais que nós em sua liberdade e autonomia, e que nem do armário podem sair.

“Se o mundo, se o mundo…
se o mundo é desigual…
A culpa… é do capital,
a culpa é do capital…”

Num ritmo deliciosamente marcado pela percussão, a Fuzarca, interestadual neste evento, cantava palavras de ordem fundamentais, além de bem humoradas.


“Se o corpo, se o corpo…
pertence à mulher,
ela dá… pra quem quiser,
inclusive outra mulher…”

Primeira vez

Foram lembrados os diversos aspectos da luta lésbico feminista e suas reivindicações na área da saúde, educação, de combate ao racismo, de participação política e cultural, por liberdade de expressão e democracia na mídia. Falaram diversas lideranças lésbicas, como Rita Quadros (PT/SP), Marinalva Santana (PI), Sandra Espósito (CRP/SP), Carmen Lucia (SC), Yasmin (CE), Débora (Wend-do/SP), Taís (PE).


“Se o aborto, se o aborto…
se o aborto é ilegal,
a culpa é… do Vaticano,
a culpa é do Vaticano!”

Marcaram presença ainda outras lideranças, representantes de grandes trabalhos e pesquisas, como Elisa (Dominatrix-SP), Regina Facchini (APOLGBT/SP), Bia Barbosa (Intervozes-SP), Gilberta Soares (Neim-UFBA), Carmen Lúcia (SC) e Michelle Meira (CE), estreando o cargo de Coordenadora LGBTT na Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal, que falou durante a caminhada.

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Foi muito legal constatarmos que metade das pessoas responderam estar no evento das mulheres pela primeira vez, ao serem perguntadas por uma das lindas apresentadoras do ato – Verônica e Mariana, ambas da LBL/SP. E muitas vindas de bem longe. Ao abrir o microfone para as mulheres que quisessem se manifestar, subiu ao caminhão Fernanda, da Igreja Cristã Evangelo Para Todos, uma igreja aberta para a diversidade.

Notada e comemorada em todas as notícias da caminhada lésbica foi a expressão da diversidade revelada na manifestação. Mulheres de todas as idades, raças/etnias, cores, classes sociais, marcaram presença. Faixas e cartazes chamavam para outras questões mais específicas, como as Feministas Vegetarianas. Enfim, com certeza tivemos a presença de tudo que couber na luta por “autonomia e liberdade por um mundo de igualdade”.

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