Foto: Maria Zélia, filha do industrial que construiu a Vila morreu jovem, um ano anes da inauguração, vítima da doenção até então sem cura: a tuberculose
Os moradores da Vila Maria Zélia, situada no Belenzinho, Zona Leste de São Paulo, farão um mês de atividades para celebrar o centenário da primeira vila operária do Brasil, construída entre 1911 e 1917, quando passou a abrigar trabalhadores da Companhia Nacional de Tecidos da Juta, do industrial Jorge Street. Haverá exposições, peças de teatro, lançamentos de vídeo e livro, caminhada fotográfica, show de marionetes e serenata pelas ruas, com cantorias de outrora.
Mas é também um mês de encontros, debates, cobranças aos poderes públicos, porque além da mobilização dos moradores, a Vila Maria Zélia está abandonada pelos órgãos incumbidos de cuidar de um dos mais importantes patrimônios da história de São Paulo.
Por causa da instalação das tecelagens, na região do Belém, empurradas pela expansão industrial do início do século XX, o número de trabalhadores triplicou nos bairros Belém, Belenzinho, Môoca e Brás. E a Vila Maria Zélia surgiu como novidade e inovação na relação da empresa com trabalhadores. A Vila foi criada como uma pequenina cidade, com serviços, escolas, abastecimento. E também mantinha os trabalhadores e suas famílias sob as vistas e controle do patrão.
Com o fechamento da fábrica, que chegou a virar presídio político durante o governo Vargas, e a entrega – por dívidas dos novos donos – dos prédios coletivos ao INSS, os equipamentos coletivos da Vila foram fechados, abandonados, deterioraram, ruiram, sobrando estruturas que pedem restauração. Das casas remanescentes, hoje 171, muitas passaram por reformas e estão diferentes hoje.
Em 1992, a Vila foi tombada pelo Município e pelo Estado. Mas isso não foi acompanhado de recursos, cuidados, ou políticas – além de processos a moradores por mexerem nas moradias. Restou à Vila erguer a voz, apontar caminhos e cobrar providências.
Morador nascido na Vila e parte do movimento de revitalização, o engenheiro Ovandir Ramos estará na mesa de debates que abre o mês de programação da Associação Cultural da Vila Maria Zelia, em homenagem à Vila. A atividade ocorrerá no próximo sábado(06) , às 15h30, no prédio da antiga farmácia do início do século, o boticário, á Rua Mario Costa, 13. Para trazer posições do poder público e responder a quesionamentos, foram convidados representantes do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural de São Paulo (Conpresp), do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), e da Prefeitura Regional da Mooca, à qual a Vila Maria Zelia está subordinada.
Para Ana Frangelli, um debate sobre a Vila e seu futuro é importante não só para a região do Belenzinho, mas para os demais patrimônios da cidade que estão abandonados ou são destruídos e guardam a historia de quem somos hoje. É preciso mais que um tombamento.Em 2015, a pedido Ministério Público Federal. foram avaliadas estruturas de edifícios situados nas Ruas Mário Costa e Adilson Faria Claro, que exigiam escoramento imediato, além da restauração ou reconstrução de paredes, portas, janelas e coberturas, retirada de mato e árvores. O Ministério Público cobrou o INSS, que no entanto alegou razões orçamentárias para cuidar apenas dos prédios que ainda estão operativos, o que não é o caso de locais importantes para a memória do bairro como a “Escola de Meninos” e a “Escola de Meninas”, deixadas ao abandono.
Do debate participarão também o urbanista Nabil Bonduki, o professor de jornalismo Eduardo Marcos, pesquisador do período em que o prédio da fábrica foi presidio político, impactando a vida da Vila, o diretor de teatro Luiz Fernando, do Grupo XIX, que fala sobre a ocupação artística da Vila, e a neta do industrial Jorge Street, Celina Street, que sempre acompanha as atividades dos moradores. O centenário também será marcado pela abertura do Centro de Memória da Vila Maria Zélia, no prédio da antiga sapataria da Vila. Saiba mais da programação no site do evento
Para Ana Frangelli, representante da Associação Cultural Vila Maria Zélia, um debate sobre a Vila e seu futuro é importante não só para a região do Belenzinho, mas para os demais patrimônios da cidade que estão abandonados ou são destruídos e guardam a historia de quem somos hoje.
Rita Freire