Um tremor chamado “Grande Revolução Cultural Proletária”, que varria a China desde 1966, teve enormes reflexos no mundo ocidental! Havia pouca informação disponível, mas boa parte da juventude e da intelectualidade ocidental, que se opunha aos Estados Unidos na guerra no Vietnã ou estava desiludida com o chamado “revisionismo soviético”, fascinou-se com Mao Tsé-tung e com o novo tom “marxista” que ele havia inaugurado.
Jean Paul Sartre mandou imprimir cópias dos principais discursos de Mao, assim como o “Livro Vermelho de Mao”. Michel Foucault buscou inspiração na própria China, daquilo que Sartre chamava de novas formas de luta de classe no período do capitalismo organizado.
A feminista Julia Kristeva também viajou à China com Roland Barthes. Os movimentos pela liberação feminista abraçavam um slogan de Mao: “mulheres podem construir metade do céu”.
O objetivo declarado da Revolução Cultural era “preservar” o comunismo chinês, purgando os restos de elementos capitalistas e tradicionais da sociedade chinesa, e impor o “pensamento de Mao Tsé-tung” como a ideologia dominante no PCC.
Mas o único resultado obtido pela campanha que “conduziria ao comunismo” foi a desorganização total da economia. Milhões de agricultores morreram de fome.
A Revolução Cultural da China nasceu deste estrondoso fracasso do líder Mao Tse-tung e de seu entorno! Foi a forma de se manterem no poder!
Lançado o movimento em 1966, contando com sua liderança pessoal e com a ajuda de parcela do Exército, Mao convocou os jovens a “bombardearem suas escolas e seus chefes”, “a rejeitarem as lideranças dos mais velhos”, proclamando que “rebelar-se é justificado”.
Para eliminar seus rivais dentro do PCC e nas universidades, fábricas e instituições governamentais, Mao acusou que elementos burgueses “sempre se infiltram no governo popular e na sociedade com o objetivo permanente de restaurar o capitalismo”! Dois terços da alta direção do Partido foi eliminada.
Mao principiou, diante da total balbúrdia e da fome, a recuar em 1971. Mas sentiu-se melhor com o culto à sua personalidade e passou a ver em cada recanto um inimigo seu, logo, de todo o seu povo. O medo e o terror eram seus maiores aliados! Em 1976, Mao morre de morte natural.
No processo de “desmaoização” ocorre um grande expurgo nos quadros do Partido Comunista Chinês e no governo. Em 1978, Deng Xiaoping se tornou o novo líder supremo da China e deu início ao desmantelamento gradual das políticas maoístas e trouxe o país de volta à ordem.
Deng, então, deu início a uma nova fase da China, o início ao histórico programa de Reformas e Abertura que a transformaria na segunda grande potência mundial no século XXI.
Em 1981, o Partido Comunista da China declarou que a Revolução Cultural foi “responsável pelo revés mais severo e pelas perdas mais pesadas sofridas pelo Partido, pelo País e pelo povo desde a fundação da República Popular”. No entanto, jamais, como ocorrera na U.R.S.S. com a figura de Stalin, o mito chamado Mao Tse-tung foi desconstruído.
Carlos Russo Jr.
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