A história perdida de Sepetiba

Busco neste texto demonstrar a relevância e importância da realização de uma pesquisa que procure justificar, ou melhor, explicar a descaracterização, a perda da história do bairro de Sepetiba, localizado no município do Rio de Janeiro/RJ tendo sua fundação datada do dia 5 de julho de 1567 com a chegada dos índios Tamoios.

Acredito ser necessária uma explicação ao menos para o desaparecimento “misterioso” de algumas construções de importância histórica não apenas para a localidade, mas sim, para o país, localizadas neste bairro, e também para o silenciamento no que concerne a disseminação da importância histórica do bairro, nas escolas locais em geral não se faz menção ao fato e muito menos se busca resgatar a identidade histórica do local.

Em uma de minhas tentativas em encontrar informações relevantes sobre o bairro não obtive muito sucesso, claro que me refiro aqui a uma busca superficial, e não à nível de pesquisa científica; pesquisei na internet e não encontrei muita coisa além de algumas fotos equivocadas , pois retratavam imediações como a praia da brisa e pedra de Guaratiba, que não fazem parte do bairro, claro que encontramos também fotos e vídeos do local, mas em número muito pequeno, também encontrei textos sobre o bairro de santa cruz e sua história, com menções muito superficiais ao bairro de Sepetiba, e finalmente encontrei a lei sancionada pelo vereador Jerominho onde ficava estabelecida a data de aniversário do bairro em 5 de julho, e a nível de produção literária, pesquisa etc, a única publicação que encontrei foi a obra de autoria de Alcebíades Francisco Rosa, além disso se conversarmos com os moradores do local, mesmo os mais antigos podemos notar que muito do que se sabe sobre a história do bairro acabou se perdendo, pois foi transmitida somente por meio da tradição oral.

O que mais me deixa indignada é o fato de que Sepetiba deveria ter sido reconhecida como segundo município do Rio de Janeiro devido a sua fundação datar de 1567, pelos índios tamoios.

O então príncipe regente D. João VI, reconheceu a área e terminou por baixar um decreto lei em 26 de julho de 1813, onde no mesmo ficava estabelecida a doação das terras correspondentes à área de Sepetiba aos antigos moradores (pescadores e lavradores), dividindo a terra em sítios; porém segundo Alcebíades Rosa, um dos “sitiantes” acabou perdendo suas terras em uma mesa de jogo, de um dos cassinos pertencentes a uma família conhecida como “Monastere”, que ficou com a posse do sítio, e desonestamente tentou o desmembramento das terras incluindo toda a área de fundação de Sepetiba, no processo conhecido como “Fazenda Piaí”; o paço imperial negou o recurso impetrado por tratar-se da área preservada pelo decreto lei de 26 de julho de 1813.
De acordo com Alcebíades Rosa, não se sabe ao certo as razões pelas quais o antigo domínio da união “departamento de terras da união”, não se manifestou à respeito, deixando ocorrer na região de Sepetiba vários negócios ilícitos com as terras a partir de conivências cartoriais.

Talvez se Alcebíades Rosa não tivesse escrito esta obra sobre a história de Sepetiba, não teríamos conhecimento destes acontecimentos, muito embora que mesmo sendo de extrema valia, “a história de Sepetiba” ainda é muito superficial, acredito que talvez pela falta de fontes de pesquisa já que o livro por completo foi baseado em entrevistas, relatos de moradores antigos.

Alcebíades Francisco Rosa defende em sua obra a hipótese de que o progresso do bairro foi afetado por falta de pulso por parte dos órgãos federais no que diz respeito à lei imperial e ressalva que se não fossem os pescadores e lavradores, antigos moradores do local e o professor oficial da marinha Antonio Cerqueira Fontes (ocorrendo aqui uma dúvida, pois ao final do livro o autor agradece ao professor oficial da marinha “Arandu” de Cerqueira Fontes), ele mesmo jamais poderia ter concluído esta obra, pois ninguém saberia desta parte específica da história de Sepetiba; isto porque segundo o autor o desejo dos antigos republicanos era que Sepetiba se tornasse um local esquecido, desconhecido de todos, com o objetivo de esconder as atrocidades realizadas por eles neste local.

De acordo com Francisco Rosa, D. João VI e a corte foram convencidos a visitar Sepetiba pelos padres da companhia de Jesus e após percorrer o litoral decidiu que o mesmo seria apropriado para a navegação; e ordenou a construção de um cais, na localidade conhecida como “ilha da pescaria” e de duas pontes ligando a ilha ao continente, e antes mesmo da inauguração do cais e das pontes, três vapores foram utilizados para o transporte de carga e passageiros entre Sepetiba e o porto de Santos, e assim o príncipe regente elevou Sepetiba a condição de província, o que nunca havia aprendido na escola, ou melhor nunca havia ouvido falar.

Outro fato muito confuso e misterioso é que D, João VI havia mandado que fossem construídos dois fortes, o primeiro chamou-se de “Forte de São Pedro” localizado no morro de Sepetiba, na época conhecido como “mirante”, onde hoje encontra-se o radar da base aérea de santa cruz, o segundo forte chamou-se “São Leopoldo”, construído no então “morro do Piranga” hoje conhecido como Ipiranga localizado na divisão entre a praia de D. Luiza ( Recôncavo ) e a praia do Cardo, a dúvida e/ou o mistério: Por que não houve interesse em manter-se erguida as construções? Ou mesmo no caso de terem sido parcialmente destruídas e/ou estarem danificadas pelo tempo, em condições ruins, porque não mantê-las ali, em seu local de origem? Porque não nos restaram ao menos ruínas? Pedaços? Nada que nos remeta aos fortes antes ali existentes? Ou ao Cais?

O fato de que a família real freqüentava Sepetiba durante o verão, possuía uma área de lazer onde se encontra hoje a praça Washington Luiz, quase nunca é mencionado, em Sepetiba eram realizadas belíssimas touradas com toureadores vindos diretamente da Espanha, também eram realizados saraus maravilhosos etc., Também não se divulga o fato de que o conhecido Visconde de Sepetiba (Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho, nascido em Niterói,que foi um juiz de órfãos e político brasileiro.Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, deputado geral, presidente das Províncias de São Paulo e do Rio de Janeiro, ministro da Justiça (1840) e dos Negócios Estrangeiros (1841), e senador do Império do Brasil de 1843 a 1855. Líder do chamado Clube da Joana, exerceu enorme influência sobre o Imperador D. Pedro II no início de seu reinado), possuía uma casa (Casa da Esquina) no bairro de Sepetiba que confrontava com a colônia Z15 (pescadores).
Com o advento da proclamação da república em 1889, as coisas começaram a modificar-se bastante para Sepetiba, segundo Alcebíades Rosa, insurretos da revolução armada ocorrida em santa Catarina, estavam a bordo de um navio a caminho do Rio de Janeiro que teria sido atingido justamente na praia de Sepetiba ao cruzarem a baía (o nome deste navio no livro de Alcebíades Rosa consta como “Custódio de Mello” o que é impossível, pois o primeiro navio lançado ao mar com este nome data do ano de 1954, e além disso o referido almirante Custódio de Melllo ainda estava vivo, logo não poderia receber homenagem póstuma e teria participado da revolução da armada), os tripulantes teriam sido presos, levados para a chamada ilha da pescaria e fuzilados, sabemos disso por intermédio de Alcebíades Rosa e dos relatos dos moradores mais antigos dados a ele, que talvez não estejam mais entre nós, a questão é: Será verdade? Existem inúmeras histórias envolvendo Sepetiba, e até mesmo esta obra de Alcebíades não possui muito respaldo histórico, pois é basicamente composta por relatos de moradores antigos, não possuí ao menos referências bibliográficas, anexos de documentos etc.

Sepetiba ao que tudo indica possui uma história rica, repleta de acontecimentos importantes para a formação do país, a história desta localidade precisa ser resgatada, contada, e assim estimular-se à auto estima dos moradores desse bairro que um dia seria província, julgo primordial esse resgate e a realização de uma pesquisa que busque comprovar e descobrir as verdades, causas, historicidade etc deste local e uma explicação para o tamanho descaso para com a identidade histórica de Sepetiba, acredito ser muito importante a disseminação de um estudo (pesquisa) sobre esta descaracterização e destruição da historicidade local para os estudantes não só do curso de história mas também de outros cursos moradores da zona oeste e é claro para a população local, pois uma história não pode ser esquecida, apagada, destruída desta forma, sem constrangimentos, sem motivos, causas ou culpados a serem apontados.
Bianca Wild

Links interessantes:

http://emendasesonetos.blogspot.com/2007/10/estrada-real-de-santa-cruz.html

ttp://www.ihp.org.br/docs/fprl20001001t.htm

http://www.unicamp.br/iel/memoria/base_temporal/Historia/index.htm

http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/l4pa1027.htm

http://www.brown.edu/Facilities/John_Carter_Brown_Library/CB/indexes/laws_1813_p1.html

http://www.brown.edu/Facilities/John_Carter_Brown_Library/CB/1813_docs/L10_p01.html

13 thoughts on “A história perdida de Sepetiba

  1. A história perdida de Sepetiba
    A Professora Bianca Wild é um exemplo de fortaleza moral na defesa das preciosidades ocultas da nossa Cidade Maravilhosa. A matéria é necessária e contrinui, sem ranço de ressentimento, para inserir o recanto de Sepetiba do mapa da Cidade, onde deveria estar (assim como Santa Cruz), como ponto historicamente fundamental, sociologicamente rico e economicamente vital.
    Espero que sirva a contribuição da Professora Bianca para elevar a auto-estima (para usar um termo seu) não só dos que moram em Sepetiba, mas de todos os cariocas, que devem orgulhar-se desses tesouros que o esquecimento, que outrora os preservou, quase deixa deteriorarem-se.

    1. A história perdida de Sepetiba
      PARABENS PELO TRABALHO
      JA MOREI EM SEPITIBA EU AMO SINTO ALGO MUITO BOM EM SEPITIBA.
      OQUE EU QUERO LEMBRAR PARA QUE SEJA RESGATADO EM SEPITIBA
      SÃO DUAS HISTORIAS QUE NÃO FORÃO RELATADAS .
      OS TUNEIS DOS PADRE JESUITAS, AS MANGUEIRAS QUE TEM OS FERROS
      ONDE PRENDIA OS ESCRAVOS.
      SE FOI BOM O MEU COMENTARIO GOSTARIA QUE ME MANDE UMA MENSAGEM
      PARA. maria-s-a@bol.com.br . obrigada

  2. A história perdida de Sepetiba
    Parabéns a você,por se preoculpa-se em buscar e divulgar a historia desse bairro esquecido pelas autoridades.Um bairro (sepetiba) que poucas pessoas tem o orgulho de falhar que moran nele (sepetiba).PARABENS MESMO !!!

  3. A história perdida de Sepetiba
    adorei sua pesquisa, realmente a história de sepetiba tem que ser resgatada, morei em sepetiba dos 7 aos 19 anos foram os melhores anos da minha vida, e hoje quando volto lá fico triste em ver aquele lugar tão destruído temos que lutar juntos pra levantarmos sepetiba de novo. gostaria muito de saber mais do lugar que eu tanto amo. andrea cristina.

  4. A história perdida de Sepetiba
    PARABÉNS ! PARABÉNS MESMO ! É UMA HISTÓRIA MUITO RICA,QUE POUCAS PESSOAS CONHECEM,OS MORRADORES PRECISAM CONHECER ESSA HISTÓRIA,PARA DAREM MAS VALOR A SEPETIBA.

  5. A história perdida de Sepetiba
    olá fico muito contente por vêr que tem pessoas que se preocupa com sepetiba , moro em Fortaleza-ce , mais sou carioca e morei 10 anos em Sepetica ..
    bianca vc é d+…

  6. A história perdida de Sepetiba
    Como pode um local no mundo não ter história relatada ? Tenho esperança que descubram algo sobre esse lugar que faz parte da minha vida pois minha família possui casa nesse local a mais de 40anos, o meu primeiro banho de praia foi na Praia do Recôncavo( na época D.Luiza) a 38 anos atrás . Meu avô foi dono de Trayller na Praia do Recôncavo, que depois virou quiosques com a modernização na prefeitura de Marcelo Alencar. E os carnavais de rua e depois da 22:00h no Clube Recôncavo muito bom, muito bom mesmo que época boa. Ah!! Meus 17 anos. Que saudade da Sepetiba dos anos 70….
    Sr.Navarro

  7. A história perdida de Sepetiba
    Lembro-me perfeitamente da minha infância frequentando Sepetiba, lamento por presenciar o descaso das autoridades em relação as praias e historia de Sepetiba. eu sei das historias contada por meu avô dizendo sobre os primeiros colonos de Sepetiba,segundo ele a praia de dona Luiza foi em homenagem a tia dele ,pois ela seria uma das primeiras que lá fora residir. Bom assim eu acreditei e acredito até hoje,mas foi muito importante saber que pessoas como você buscam relatar mas uma historia de SEPETIBA.

  8. A história perdida de Sepetiba
    saudades de Sepetiba. passava minhas férias escolar e finais de semanas naquela bela praia. cresci e vivi boa parte de minha infância lá. joguei futebol de areia e vôlei em frente a ilha do tatu, vi muitos artistas na praia, acreditem. pesquei muito na ilha e até hoje tenho amizade com seu Erasmo, pescador mais antigo de Sepetiba que conheço, guardião da ilha do tatu. andava de ponta a ponta beirando a praia de Sepetiba a brisa . quantas saudades!!!!! hoje quem vê não acredita que foi tudo isso de bom. tentam melhorar , mas a recuperação e demorada. Um dia acontecerar o milagre.

  9. A história perdida de Sepetiba
    Meu nome Carlos Alberto e venho narrar minha historia. Caros amigos venho agradecer a voces por não deixar SEPETIBA ficar no esquecimento, poxa se eu pudesse voltar no tempo acredite seria em SEPETIBA onde minha infância foi tudo de bom e mais um pouco com muita liberdade sem violência onde vim conhecer pessoas maravilhosas hospitaleiras. Meu avô tinha casa em SEPETIBA e uma dessas idas vim conhecer uns garotos que andavam a cavalo como sempre fui fanático por cavalos e eles me alugava seu cavalo ai começou tudo e vim conhecer uns senhor que tinha um curral la na Estrada de Sepetiba e a amizade foi maravilhosa com muitas aventuras pois o vicio por SEPETIBA era tanta que meu pai liberou de vez a com isso minhas aventuras foram maravilhosas onde vim ater meu cavalo um sonho e com isso fiz amizades e até mesmo uns primos participaram, caramba tinha dias que enquanto eu na chegava em SEPETIBA o telefone da casa da minha mãe não parava. Os amigos daquela época voces não imagina o que aprontávamos com isso eu domava os cavalos e tinha os melhores cavalos daquela época onde até em novelas eles participaram que foram filmadas em SEPETIBA . Pena que isso tudo acabou e ficou as saudades onde se tem muito mais historias, foram mais de 10 anos de aventuras. Aqui deixo um grande e forte abraço a todos do amigo Carlos Alberto

  10. grato
    sou nascido e criado em sepetiba. mais precisamente na casa de saude republica croacia e me orgulho do meu bairro. sou descendente de juvenal leodugerio de souza , responsavel pela fabrica de cal no morro da faxina, onde meu pai , sebastiao leodugerio de souza nasceu,mais precisamente na casa207. realmente e uma pena ,pois sao poucos os que realmente dao valor ao nosso bairro, tao rico em se tratando de historia e cultura. quem nao se lembra do saudoso bem amado?eu mesmo moleque participei de uma gravacao. sou da epoca do gostoso carnaval de rua , onde iamos assistir os folioes brincarem da rua antonio aparecido a tenete haroldo em frente a praia. doces lembrancas que eu enho orgulho em poder dizer que vivi. da minha primeira escola onde estudei,18-19-23 nair da fonseca. minha primeira mestra d.shirlei. doces lembranças

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