A 25 de março e a imigração árabe: histórias que se cruzam

Por Samira Adel Osman

Neste mês, duas histórias entrecruzadas comemoram mais um aniversário: a da rua 25 de Março, com 145 anos, e o do marco simbólico da imigração árabe, com 130 anos. Mas não se trata apenas de uma coincidência de datas; na verdade a história da 25 de Março está intrinsecamente ligada à imigração árabe para São Paulo e vice-versa.

A remota concentração árabe na região central de São Paulo, mais especificamente na 25 de Março e em suas adjacências como Ladeira Porto Geral, e as ruas Cav. Basílio Jafet, Comendador Abdo Schahin, Barão de Duprat, Afonso Kherlakhian, Senador Queiróz, Carlos de Souza Nazaré, fez com que fosse identificada na cidade como a “rua dos árabes” a despeito das transformações ocorridas, revelando uma forte vinculação identitária. Tal identificação levou à criação em 2008 do Dia Nacional da Comunidade Árabe no Brasil a ser comemorado no dia 25 de Março.

A fixação dos árabes na região central de São Paulo foi marcada pela ocupação da tradicional 25 de Março, da região do Ipiranga, da Vila Mariana, da região da Av. Paulista, a expressão máxima dos condicionantes sociais, com o anseio de prestígio social na comunidade e na sociedade. A partir de 1950, os imigrantes que foram chegando se dispersaram pelas zonas periféricas da cidade; alguns ainda permaneceram mais próximos ao centro como extensão da zona do mercado, ocupando o Brás e o Pari, enquanto outros se dispersavam em bairros como São Miguel, Penha, Santo Amaro, além de municípios vizinhos como Santo André e São Bernardo.

A concentração urbana remota marcou a inserção econômica vinculada à atividade de mascateação. O imigrante árabe é identificado, ainda hoje, por sua vinculação à atividade de mascateação e ao comércio popular e varejista, ligado ao setor de armarinhos, tecidos e confecções, e mais recentemente ao setor moveleiro. A ocupação dos bairros pelos membros da comunidade, em diferentes épocas, pode ser explicada a partir do sucesso econômico obtido por esse grupo ao longo do processo de consolidação na cidade.

Ainda que tenham se mantido ligados ao comércio, nos setores tradicionais ou não, e mais tarde à indústria, é notória a presença árabe nas mais diferentes atividades e setores profissionais, preferencialmente na medicina, no direito e nas atividades políticas, ao longo das gerações, e como decorrente do processo de consolidação de um projeto migratório concebido como provisório e que aos poucos se transformou em definitivo.

É ao longo das gerações de imigrantes que a presença árabe se mantém marcante na cidade de São Paulo e em outras cidades do país por onde se dispersaram, deixaram suas marcas e fincaram raízes. No reconhecimento de uma origem árabe, é que os membros dessa comunidade mantêm uma dupla vinculação identitária: ser árabe e ser brasileiro. É o que se celebra nesse 25 de Março.


Samira Adel Osman é docente de História da Ásia do curso de história da UNIFESP Guarulhos e pesquisadora do Neho-USP (Núcleo de Estudos em História Oral) sobre a temática da imigração