O sonho de plantar florestas

Projeto atua em parceria com escolas da rede pública de São Paulo para promover educação ambiental crítica. Foto: Formigas de Embaúba/Divulgação

Onze miniflorestas plantadas em escolas públicas até o final de 2022, com um total de dez mil árvores de 130 espécies nativas de Mata Atlântica. Mais de quinze mil estudantes envolvidas/os nesse processo. Cerca de 900 professoras/es sensibilizadas/os quanto à importância da educação ambiental, com repertório ampliado sobre o assunto e maior consciência quanto à importância da regeneração de florestas ser parte cada vez mais orgânica dos currículos escolares.

Pouco a pouco nosso sonho ganha forma, cheiro, cor. A organização sem fins lucrativos formigas-de-embaúba ainda não completou três anos, mas olhar para o que já realizamos nos dá energia para seguir em frente. Coordenada através de um conselho formado por Gabriela Arakaki, Rafael Ribeiro e eu, Sheila Ceccon, nossa organização tem como objetivo promover educação ambiental crítica a partir da formação de professoras/es e do plantio de miniflorestas de Mata Atlântica por estudantes nas escolas públicas. E através disso, sensibilizar cada vez mais gente para a urgência da regeneração de ecossistemas e mitigação das mudanças climáticas.

A formação de professoras/es se dá presencialmente nas escolas onde as miniflorestas serão plantadas, e é feita à distância, por meio do curso online “Mata Atlântica nas Escolas”. Até o momento, o plantio de miniflorestas está acontecendo apenas na cidade de São Paulo, mas a formação online de professores/as já vem ocorrendo também nas redes públicas de ensino de outros municípios paulistas como Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, São Bernardo do Campo, Mogi das Cruzes e Sorocaba.

Um dos principais objetivos das nossas formações é sensibilizar as equipes pedagógicas das escolas para a importância da abordagem de conteúdos curriculares de maneira contextualizada e significativa, tendo como foco o meio ambiente mais próximo dos/as estudantes. Buscamos despertar o olhar para a vegetação existente nas escolas e nos seus entornos, ou a ausência delas, com atenção especial para as árvores e sua relação com o solo, com o clima, com a disponibilidade hídrica e com o bem-estar coletivo. Temos buscado promover reflexões e construir conhecimentos sobre a Mata Atlântica, sua importância e biodiversidade. Acreditamos que é fundamental sensibilizar as comunidades escolares quanto aos efeitos decorrentes da degradação deste bioma ao longo da história e envolvê-las em ações de reposição de uma ou algumas árvores nativas, ou de ilhas verdes nos tão devastados centros urbanos.


Os alunos e professores são envolvidos no plantio de miniflorestas nas escolas. Foto: Formigas-de-Embaúba/Divulgação

No curso online apresentamos como proposta de intervenção a pedagogia de projetos, onde a observação e a problematização da realidade são oportunidades para construir sentido para os conteúdos curriculares, despertar o interesse dos/as estudantes e exercitar a cidadania, ativamente, desde a infância. Neste sentido, são compartilhadas técnicas de plantio de árvores e de mini viveiros e é estimulada a inclusão do plantio participativo de espécies nativas nos projetos de educação ambiental produzidos a partir do curso. É apresentada como referência a concepção de educação ambiental crítica, onde não se aprende por aprender, mas para intervir na realidade a partir do conhecimento construído.

Realizar educação ambiental no ambiente virtual tem sido um grande desafio, mas os depoimentos de professoras/es que viveram a experiência conosco nos animam a seguir em frente.

“Achei que o curso me fez despertar pra esse assunto. O conteúdo nos dá vontade de trabalhar, de incluir essa coisa de mata atlântica, do verde, nas escolas. Então pra mim, o principal foi despertar. Porque o conteúdo em si, a gente vai atrás. Mas o curso faz despertar, nos dá aquela vontade, aquela coisa de: vou atrás, vou fazer (…)”, conta a professora Eike, da rede pública municipal de Diadema.

“Para mim o curso despertou curiosidade, ampliou minha visão e além disso potencializou ainda mais a importância da educação ambiental. Como articuladora, ampliou muito meu desejo de incluir todas essas práticas, todas essas vivências no que ofereço para o meu aluno, bem como para o meu grupo de estagiários (…)”, afirma a professora Janaíne. no último encontro do curso Mata Atlântica nas Escolas oferecido para a rede pública municipal de Diadema.

A outra frente de atuação da formigas-de-embaúba é o plantio participativo de miniflorestas de Mata Atlântica nas escolas públicas. Até o momento, temos realizado o programa nos Centros Educacionais Unificados (CEUs) da cidade de São Paulo, por meio de uma importante parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Não se trata de fazer um grande mutirão de plantio. Em vez disso, desenvolvemos um processo prático e educativo que se estende por meses.

Além de encontros de formação de professores que acontecem nas escolas, várias atividades de sensibilização e ampliação de conhecimentos são realizadas diretamente com as crianças. Ao todo são seis vivências ao ar livre realizadas por nossas/os educadoras/es com os temas: “Leitura do mundo: despertar o olhar e o interesse para o ambiente natural”, “A floresta e o clima”, “Descobrir o solo”, “Despertar o olhar para as sementes”, “Plantio da minifloresta” e “Cuidados com a minifloresta”. A proposta é que as miniflorestas sejam salas de aula ao ar livre e fontes de alimentos para essas comunidades, sempre que possível contendo clareiras que possibilitem a realização de atividades em seu interior. Faz parte do nosso sonho “desemparedar” a educação, estreitar laços entre os textos dos livros e os contextos dos territórios. Aproximar o currículo e a vida, construir sentido para o que se aprende e ensina.

Em uma das vivências as crianças são motivadas a escrever cartinhas para as mudinhas recém-plantadas. Algumas nos emocionam.


6B-Ana Vitória Oi Xau Xau tudo bem como você está? Eu estou bem e to com saudades de voce. Falei pra minha vó que tenho uma filha que se chama Xau Xau, ela falou assim: nossa que nome lindo. Ganhei mais uma neta, parabéns! Te amo Xau Xau Beijos Até mais! Qualquer dia venho te visitar! Te amo!

A relação entre a destruição de florestas e a emergência climática que vivemos é direta. Entretanto, a grave situação divulgada por cientistas do mundo todo ainda não tem produzido as ações políticas necessárias e com isso o número de eventos climáticos extremos tende a aumentar a cada ano.

São alarmantes os dados divulgados recentemente no Atlas da Mata Atlântica, resultado de estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Segundo o documento, entre 2020 e 2021 foram desmatados 21.642 hectares da Mata Atlântica, um crescimento de 66% em relação ao registrado entre 2019 e 2020 (13.053 ha) e 90% maior do que entre 2017 e 2018, quando se atingiu o menor valor de desflorestamento da série histórica (11.399 ha). A perda de florestas naturais no último ano, uma área em que caberiam mais de 20 mil campos de futebol, corresponde a 59 hectares desmatados por dia ou 2,5 hectares por hora, além de representar a emissão de 10,3 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera.

Vale destacar que o aumento do desmatamento foi registrado inclusive em estados onde essas taxas estavam se aproximando a zero, como era o caso de São Paulo.

O que fazer frente a informações como essas? Não podemos aprender por aprender. A inércia não pode ser ensinada nas escolas. É preciso construir possibilidades de enfrentamento coletivo de problemas comuns. Uma dessas possibilidades é aliar processos educativos à reversão de processos de degradação. Sair da posição de observadoras/es para a de transformadoras/es. Transformadoras/es de corações, de mentes e de paisagens.

O caminho apenas começou a ser trilhado, há muito a fazer. Quem quiser, venha conosco! Estamos permanentemente em busca de novas parcerias.

Instagram: https://www.instagram.com/formigasdeembauba/

*Texto escrito por Sheila Ceccon, Coordenadora do programa de formação de professores/as da formigas-de-embaúba, com colaboração de Rafael Ribeiro e Gabriela Arakaki cofundadores da formigas-de-embaúba

Publicado originalmente em O ECO

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