A epopeia do nordestino revoltado em “Os Sertões” de Euclides da Cunha, e em Machado de Assis

Euclides da Cunha é expulso do Exército por rebeldia em 1888. Com a proclamação da República, em 1889, ele é saudado como “o estudante da baioneta” e reincorporado ao Exército. No entanto, desencanta-se com o Exército de Floriano Peixoto, e reforma-se no posto de Capitão.

Em 1897, “O Estado de S. Paulo” contrata o ex-Capitão como correspondente de uma “guerra do fim do mundo”, na expressão de Vargas Llosa.

O sertão nordestino era uma terra de latifúndios improdutivos, de secas cíclicas e desemprego crônico.

Milhares de sertanejos famintos partiram para Canudos, cidadela liderada pelo peregrino Antônio Conselheiro, unidos na crença de uma salvação de corpos e de almas. Chegando ao arraial, organizavam-se como podiam e conseguiam sobreviver na solidariedade e em suas crenças de salvação espiritual.

A atitude de rebeldia e a capacidade de sobrevivência eram um péssimo exemplo que os coronéis nordestinos e sua aliada da época, a Igreja Católica do sertão, não poderiam permitir que se disseminasse.

E a jovem República prestou-se ao aniquilamento do movimento.

Machado de Assis comparava os seguidores do Conselheiro aos piratas das canções românticas de Victor Hugo. Machado deixava-se encantar pelo toque de poesia e mistério que envolvia o líder religioso e social.

Quando a guerra contra os famintos foi desencadeada, Machado protestou. “De Conselheiro ignoramos se teve alguma entrevista com o anjo Gabriel, se escreveu algum livro, nem sequer se sabe escrever. Não se lhe conhecem discursos.” Como as mortes nos combates não afastaram os fiéis de seu líder, perguntava-se: “Que vínculo é esse […] que prende tão fortemente os sertanejos ao Conselheiro?”

Reportagens de Canudos

” Três expedições militares contra Canudos haviam sido derrotadas; na quarta, em 1897, os militares destruíram todo o arraial. Apesar das promessas, todos os homens presos, assim como mulheres e crianças foram degolados, numa execução sumária que se apelidou de “gravata vermelha”.

Calcula-se em mais de vinte e cinco mil camponeses mortos. Com isto, a Guerra de Canudos acabou se constituindo num dos maiores genocídios jamais praticados no Brasil!

Euclides da Cunha com “Os Sertões” rompeu por completo com versões do Exército de Caxias e dos coronéis do sertão, segundo as quais o movimento de Canudos seria uma tentativa de restauração da Monarquia, comandada à distância pelos monarquistas.

“Os Sertões” se tornou-se internacionalmente famoso como obra-prima que valeu vaga para a Academia Brasileira de Letras e para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Os escritos “da experiência” de Euclides da Cunha constituem uma obra notável do movimento pré-modernista que, além de narrar a guerra, relata a vida e sociedade de um povo explorado e mantido na miséria pelo latifúndio.

Convidamos a leitura de nosso ensaio.

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