Um dos maiores cientistas sociais do País, Celso Furtado (26/07/1920–20/11/2004) deixou uma extensa obra que interessa a todos os estudantes e pesquisadores da história econômica e sociopolítica brasileira. A jornalista, escritora e tradutora Rosa Freire d’Aguiar, que foi casada por 26 anos com Furtado, até a morte dele em 2004, se encarregou de reeditar a maior parte do material, garantindo que passassem às novas gerações em edições bem trabalhadas.
Em conversa com o Jornal da Ciência, a jornalista, que está no momento na França, contou sobre o novo livro, que ainda está no prelo, sobre as cartas que Furtado trocou com diversos personagens. São mais de 15 mil cartas que ela leu, organizou e editou, um trabalho minucioso que ficou pronto em março e deveria ser um dos lançamentos comemorativos do centenário de nascimento do economista, celebrado dia 26 de julho.
Porém, a pandemia do novo coronavírus obrigou não só o adiamento do livro para 2021, mas também o cancelamento – ou conversão para o mundo virtual – de diversos eventos (seminários, debates, simpósios) programados para celebrar os 100 anos de nascimento do economista.
Provisoriamente intitulado “Correspondência intelectual de Celso Furtado” – o livro é sobre as cartas que ele trocou com aproximadamente 80 interlocutores, entre eles Antônio Callado, Antônio Candido, Thiago de Melo, Fernando Henrique Cardoso, Darcy Ribeiro, Helio Jaguaribe, João Goulart, Lula, Sarney, Mario Soares, Albert Hirschmann, Raúl Prebisch.
Dividido em duas partes (interlocutores brasileiros e estrangeiros), “Correspondência” se centra nos diálogos intelectuais mantidos pelo economista. “Muitos dos diálogos são quase embriões de futuras ideias”, comentou d’Aguiar.
“Correspondência” é parte do resgate editorial feito por ela, que também fez as coleções “Arquivos Celso Furtado” (Contraponto) e os “Diários intermitentes de Celso Furtado 1937-2002” (Companhia das Letras, 2019, em papel e e-book). Este traz os registros deixados em quase cinquenta cadernos, em que ele escreve sobre momentos decisivos de sua vida, impressões de viagens, participação na Segunda Guerra, diálogos com intelectuais, políticos com quem conviveu no Brasil e no exterior. Confira a seguir as obras reeditadas:
Edições definitivas
Anos antes de sua morte, a pedido da esposa, Furtado fez uma releitura com correções em cinco livros. Depois que ele morreu, para todos aqueles cinco livros foram pedidos novos prefácios; para alguns ela escreveu uma apresentação. Pela Editora Contraponto, em parceria com o Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento saiu:
“Desenvolvimento e subdesenvolvimento” (apresentação de Rosa Freire d’Aguiar).
Quatro deles saíram pela Companhia das Letras (alguns em e-books), com o projeto gráfico que contou, para as capas, com os trabalhos do artista Samson Flexor:
– “Formação econômica do Brasil” (prefácio de Luiz Gonzaga Belluzzo).
– “Economia latino-americana” (prefácio de Luiz Felipe de Alencastro, Apresentação de Rosa Freire d’Aguiar).
– “Criatividade e dependência” (prefácio de Alfredo Bosi)
– “Obra autobiográfica” (prefácio de Francisco Iglesias).
Coletâneas
“Formação econômica do Brasil” é a obra prima de Celso Furtado e está disponível em várias plataformas. Em 2009 foi publicada uma edição comemorativa dos 50 anos (Companhia das Letras), em capa dura de tecido azul-marinho, com reprodução do retrato que o artista Samson Flexor fez de Celso em 1948.
Traz resenhas e artigos de economistas e historiadores brasileiros e estrangeiros que escreveram sobre a obra mais conhecida de Furtado, entre eles, Nelson Werneck Sodré, Fernando Novais, Francisco Iglesias, Werner Baer, Francisco de Oliveira, Paul Singer, Frédéric Mauro, Ignacy Sachs, Ruggiero Romano.
Além deste (que está esgotado), em 2013 foi publicado “Essencial Celso Furtado” (Penguin/Companhia das Letras), que destaca quatro linhas essenciais da obra dele: o “pensamento econômico”, com doze textos selecionados; o “pensamento político”, com trabalhos sobre Nordeste, Brasil, federalismo, dialética, globalização, capitalismo; o eixo “cultura-ciência-economistas”, com vários “papers” sobre formação cultural, a dimensão cultural do desenvolvimento, o papel e a responsabilidade dos cientistas, o trabalho e a missão dos economistas. Por fim, um capítulo “trajetórias”, com textos inéditos de cunho autobiográfico.
Arquivos
A coleção “Arquivos Celso Furtado” foi organizada por d’Aguiar e coeditada pelo Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento e pela Contraponto. Trata-se, segundo ela, de um mergulho nos documentos que revelavam sua herança intelectual por textos e contextos. Nessa coleção de seis livros, editados entre 2008 e 2014, todos temáticos, são divulgados originais inéditos, cartas, anotações, entrevistas e fotos.
“Para cada um, pedi a um especialista um artigo que situasse a importância dos documentos: seu valor no tempo passado e/ou sua atualidade no tempo presente. Para cada um, fiz uma longa apresentação, a partir, também, de nossas tantas conversas pessoais sobre aqueles arquivos”, explicou.
A coleção reúne peças raras da trajetória de Celso: suas reportagens de jovem jornalista no Rio de Janeiro dos anos 40, seus textos do tempo vivido na França no pós-guerra, seus quase dez anos como economista-chefe da Cepal, seu trabalho à frente da Sudene até 1964, seus cursos ministrados durante o exílio e textos sobre a Cultura. Os seis livros são:
– Ensaios sobre a Venezuela: o subdesenvolvimento com abundância de divisas. (Arquivo 1)
– Economia do desenvolvimento. (Arquivo 2)
– A saga da Sudene e o Nordeste. (Arquivo 3)
– O Plano Trienal e o Ministério do Planejamento (Arquivo 4)
– Ensaios sobre a cultura e o Ministério da Cultura (Arquivo 5)
– Anos de formação 1938-1948. O jornalismo, o serviço público, a guerra, o doutorado. (Arquivo 6)