No último dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, o mundo olhou perplexo para o Brasil, país que infelizmente perdeu o protagonismo na luta pela preservação da vida no planeta. Constatamos com preocupação e tristeza o aumento do desmatamento na Amazônia, na Mata Atlântica, no Cerrado e Pantanal, além de ameaças crescentes aos outros ricos e únicos ecossistemas que são estoques e fábricas de vida e de bens preciosos que nos mantêm vivos, como a água, o clima ameno, o ar puro e a insubstituível beleza da vida.
As denúncias e alertas são frequentes e inquietantes e apontam para políticas ambientais equivocadas que incentivam o agronegócio e a exploração de madeira irresponsáveis, abrindo ainda espaço para o garimpo, a grilagem de terras e invasão de terras indígenas.
Geralmente os abates em massa de árvores, que recentemente atingiram a terrível cifra de quase 2 mil campos de futebol por dia, são seguidos por grandes incêndios florestais, como os que ocorreram em 2019, que potencializam e abrem novas frentes de destruição, reduzindo a carvão e cinzas árvores centenárias, aves, mamíferos, insetos, répteis e anfíbios, uma esplêndida riqueza que a natureza levou centenas de milhões de anos para criar em toda sua plenitude.
Infelizmente, o rastro de destruição não para aí: cursos de água cristalina que irrigavam a floresta secam, a fumaça chega aos centros urbanos causando problemas respiratórios que levam centenas de pessoas a hospitais e postos de saúde. Imagine isso acontecendo daqui alguns meses, com os hospitais e UPAs já superlotados com os incontáveis pacientes do terrível coronavírus. Pegando carona na trilha de destruição, aumenta o tráfico de animais silvestres enquanto madeireiros e garimpeiros levam o coronavírus para as terras indígenas, disseminando-o entre os mais antigos habitantes do Brasil.
Se nada disso bastasse, cientistas brasileiros e de outras universidades do mundo fazem um alerta aterrador: o risco de colapso da Floresta Amazônica! Para entender o que é isso e como é grave, basta saber que uma única árvore de grande porte da floresta pode lançar na atmosfera, por transpiração, o equivalente 1000 mil litros de água por dia, que se somarão a gigantescas nuvens vindas do Oceano Atlântico. Imaginem a quantidade de água que a toda a Floresta Amazônica lança diariamente na atmosfera, pois nela ainda existem bilhões de árvores. O volume de água somado é tão grande que se formam verdadeiros “rios voadores”. O conceituado Cientista Brasileiro Antonio Nobre do INPE estimou algo em torno de 20 bilhões de toneladas de água por dia formando os rios voadores (nuvens), rivalizando com a quantidade de água despejada diariamente no Oceano Atlântico pelo Rio Amazonas!
Esses rios voadores que se formam sobre a floresta são conduzidos pelas correntes de ar e pela topografia Andina ao Sudeste e Sul ao Brasil e também alcançam o Uruguai, o Paraguai e o norte da Argentina, compondo parte considerável das chuvas que irão sustentar, além de dezenas de milhões de vidas humanas, o agronegócio. Seria um tiro-no-pé perder essa incrível fonte de água de origem Amazônica. Agora fica mais fácil entender por que o desmatamento é tão perverso – com a destruição das florestas, as chuvas poderão diminuir a tal ponto que nem mesmo a Floresta Amazônica conseguirá se sustentar, levando ao seu colapso. Se isso acontecer, presenciaremos a mortalidade em massa de árvores, a floresta secando e com ela toda a vida que encerra, pondo um fim aos rios voadores. Neste cenário desolador, incêndios sem controle tomariam conta e a devastação será inimaginável!
Com a destruição da Floresta, trilhões de toneladas de Carbono estocados na madeira das árvores e do solo serão lançadas na atmosfera como gás carbônico que é um dos gases que causam o aquecimento global e cujos efeitos devastadores só começamos a experimentar.
O Brasil não precisa ser o País das oportunidades perdidas como já foi retratado tantas vezes. Ainda há tempo de fazermos diferente, ainda há tempo de mudar a política ambiental Brasileira, de humanizá-la, de recuperarmos o respeito internacional, de preservarmos a vida, nossa estonteante biodiversidade e tudo o que ela nos dá de melhor.
A recompensa seria nossa. A Terra é o nosso único lar, a única fonte de vida que conhecemos.
Prof. José Eugênio Côrtes Figueira
Prof. Fabrício Rodrigues dos Santos
Profa. Maria Auxiliadora Drumond
Prof. Rodrigo Massara
Prof. Flavio Rodrigues
Prof. Adriano Pereira Paglia
Prof. Danilo Neves
Prof. Clemens Schlindwein
Departamento de Genética, Ecologia e Evolução, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais
*O artigo expressa exclusivamente a opinião de seus autores
Foto: Sobrevoo durante operação de fiscalização contra o desmatamento em Novo Progresso, Pará – Vinícius Mendonça/Ibama