O impacto das economias criativas e novas tecnologias em período de isolamento social, já demonstram que podem nortear um mercado internacional e promissor num futuro próximo. Esse foi um tema de diálogo em uma Live, a pouco menos de duas semanas entre o Mc, produtor cultural e empreendedor criativo Gildean Silva Pereira também conhecido como “Panikinho” de São Paulo Brasil, com Lucia Fernandes Stanislas, empreendedora e entusiasta do desenvolvimento, e refletem sobre quais seriam as bases que confirmam essas perspectivas de mudanças significativas no mundo dos negócios, e no entretenimento em nível global.
#40tenaCriativa – (PANIKINHO – CARLA RAIZA – DI GANZA – JÉ VERSATIL – DJ MASTER X – P.NUB)
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Gildean S.Panikinho: – Sou maranhense, filho de retirantes nordestinos, que veio para para São Paulo na busca de uma vida melhor ainda na década de 70, cresci na periferia de uma das capitais urbanas, mais cosmopolita do mundo, onde a sobrevivência é a dinâmica para a maioria dos que vivem nas comunidades menos privilegiadas, e foi através das artes presentes nesse contexto que vi agraciado pelo dom da sensibilidade criativa de também produzir arte. Artes essas que não só nos servem para contemplação, mas também como remédio terapêutico, como canal de reivindicações, como interlocutor de diálogo entre os seus semelhantes e também como ferramenta de resiliência econômica, capaz de monetizar e equilibrar suas crises financeiras em momentos de extrema dificuldade. A exemplo disso ainda em 2007 fiz uma música intitulada “Interf@ce” com o grupo Fator Ético, que dissertou sobre a revolução tecnológica num período em que nem se discutia o conceito de “Exclusão Digital”, gravamos de forma independente um “Single” no ano 2000. Em que não nos levou ao mainstream, mas, me trouxe respeito, reconhecimento e abriu portas importantes para minha carreira futura.
Hoje quando olho para trás e percebo que os ganhos foram muito mais positivos do que negativos, procuro compartilhar e fortalecer caminhos para outros jovens que compartilham da mesma realidade, com histórias tão fantásticas quanto a minha, possam transcender fronteiras, romper barreiras, estabelecer metas e seguirem em frente.
Lúcia Fernandes Stanislas – Este tema me leva a pensar na minha trajetória no mundo de arte & cultura, como gestora e promotora de projetos criativos na cidade de Nova York entre 2010 e 2014. Como angolana, nascida e criada até ao fim da minha adolescência, estando nos EUA, onde se encontram pessoas de várias partes do mundo, motivei-me a criar o projeto/marca Many Tribes One Blood (traduzido: Muitas Tribos Um Sangue); tendo a missão de manter uma plataforma para promover arte e cultura de África e a sua Diáspora, fomentar união, e celebrar a ancestralidade africana.
Durante este tempo, tive a oportunidade de organizar exposições de arte não só em lugares tradicionais, como galerias, mas também em espaços alternativos, a fim de gerar mais alcance e disponibilizar a arte a novos apreciadores.
No devido tempo, tal experiência oferece-me uma perspectiva para o futuro. É bastante pertinente pensarmos nas ideias, aspectos, fatores e dinâmicas do novo mundo, pós-pandemia.
Por consequência, prevê-se que a pandemia poderá trazer vários problemas, logo, a necessidade da criação de soluções surgirá naturalmente. Produtos e bens gerados de criatividade como matéria prima, para resolução de problemas reais, farão parte de um novo ambiente econômico, dinamizado por diversos factores digitais. Pensamos que alguns aspectos indicam que a economia criativa será grandemente impactada pela tecnologia. Por exemplo , durante a quarentena, muitos criativos estão podendo expor os seus trabalhos, via internet , a nível internacional. Alguns de forma gratuita, mas outros de forma comercial. Esta tendência poderá continuar.
A quarta revolução industrial é um momento econômico mundial, que tem como duas das características, a transformação digital e a inovação. De facto, a pandemia está a acelerar estes aspectos. Isto vai impactar vários sectores económicos incluindo o criativo. O período do Covid-19 tem ajudado muita gente a abrir os olhos e ganhar novas perspectivas. Estamos vendo que muita coisa é possível, as quais não conseguimos enxergar antes. Penso que poderemos ver mais criativos a integrarem tecnologia nos seus processos de criação, produção e distribuição. Para isto, a tecnologia em si, oferece inúmeras soluções. Algumas já criadas e outras ainda estão por vir através da inovação.
A propósito, ainda no ano passado, comecei a projetar um festival internacional de artes, e na mesma altura, tive a ideia de lançar uma Startup que junta ecossistemas de arte & cultura de várias cidades numa plataforma digital, com a mesma missão do projeto Many Tribes One Blood, e também vai facilitar intercâmbios entre pessoas de lugares diferentes. Com isto, distâncias serão encurtadas através dos contatos via internet, impulsionando a construção de comunidades de pessoas com interesses comuns, as quais, eventualmente, poderão encontrar-se pessoalmente. Nesta senda, explicando melhor o conceito, “blood” (sangue), aquilo existe em comum, e liga, simboliza a cultura criativa. Panikinho e eu já entramos neste caminho/processo, que pretendemos partilhar com mais gente em qualquer parte do mundo. Este é um exemplo prático. Nunca nos encontrarmos pessoalmente, mas temos construído uma ponte entre Angola e Brasil, através deste intercâmbio, que reflete a exploração de possibilidades e oportunidades de colaboração e parcerias tanto artísticas, culturais, quanto de negócio.