Juizes que suspendem as férias para impedir um juiz em atividade de votar de acordo com a sua consciência é algo inédito no Brasil. Mas o ineditismo tem sido a marca da situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso há três meses na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.
Acusado pela grande mídia brasileira e condenado sem apresentação de provas que o incriminassem, é o candidato que a maioria do povo brasileiro quer ver concorrendo às eleições presidenciais programadas para novembro. Se estas ocorressem hoje, Lula seria eleito no primeiro turno. E é por isso que segue preso.
O saldo da guerra jurídica de hoje e das decisões que foram tomadas por juízes sacudidos em seu descanso só será percebido durante a semana ou tempo maior. Mas não há mais como esconder que o Poder Judiciário, nesse processo, exerce um papel político, tolerando que juiz se transforme em acusador.
O Brasil vê o processo envolvendo o ex-presidente Lula como um duelo travado com ele pelo juiz Sérgio Moro. O que ainda não ficou bastante claro à população é que o papel do juiz é de julgar e não de perseguir.
Neste domingo, a perseguição foi escancarada. Sergio Moro estava de férias, em Portugal, sem mais ligações com o atual processo de Lula, quando o desembargador Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, concedeu um habeas corpus ao ex-presidente. Sem pudores de magistrado de primeira instância, Moro ligou e orientou agentes da Polícia Federal a descumprirem a ordem de soltura vinda de Favreto, juiz de segunda instância, superior à sua, portanto.
Refutado em sua intromissão pelo desembargador, que reiterou a ordem de soltura do ex-presidente, Moro foi socorrido por outros magistrados, que também estavam de folga, e que ao final de um dia de guerra judicial, optaram por desacatar as posições do colega Rogério Favreto – único nesse dia com a atribuição de decidir.
O que houve com o Judiciário brasileiro neste domingo foi uma confissão de lado, com a demonstração de um conluio desesperado para manter o golpe aplicado no Brasil em 2016. Porque a libertação de Lula significa isso: interromper um processo de assalto ao país que começou com o complô para a derrubada de Dilma Rousseff.
Na ocasião, o áudio vazado de uma conversa entre os articuladores do golpe detalhava como este seria: por meio de um grande acordo com o Judiciário – além da mídia e do Legislativo . A história destes tempos no Brasil não conseguirá livrar-se das palavras gravadas sobre o golpe combinado “com o Supremo, com tudo”.