Eu sou gorda desde os 10 anos. Ou seja, passei pela minha adolescência gorda. Durante minha adolescência, eu assisti Malhação. Lembro de várias coisas da trama da Letícia, Gustavo, Natasha. Obviamente não lembro de outras mensagens sutis que assisti na novela teen, mas lembro que, meu namorado quando eu tinha 16 anos, me falou que só não me chamou pra sair antes porque eu não tinha um corpo bonito. E eu senti compaixão por ele, entendi o seu dilema. Namoramos por seis meses e depois ele terminou comigo e saiu espalhando boatos pelo meu colégio.
O fato é que eu não tinha ligado estas coisas – ser gorda, assistir Malhação e esse namoro bosta, até tomar ciência da cena que foi ao ar ontem em Malhação, onde o cara pede pra namorada “ficar bem gorda pra nenhum cara chegar mais nela”. E ela responde “Gorda? Pra você me largar?”.
Pra mim significou suportar (e ainda o faço hoje em dia) uma relação abusiva simplesmente porque entendia que era só isso que eu merecia. Pra outras garotas, vai significar o suicídio. Lamento mais ainda as jovens negras como eu, que viram uma igual passar por isso na tv e agora sabem que a solidão é mais cruel pra quem é preta E gorda.
Não se influenciem por Malhação. Se vejam mais nas youtubers, cantoras, atrizes, humoristas, it girls, divas do instagram, modelos plus-size. Se adicionem no Facebook, se curtam no insta, se sigam no twitter. É na nossa rede de afetos que vamos tirar força e superar essas atrocidades. Não somos culpadas pelas violências que somos submetidas, nem devemos ser julgadas por jogarmos o jogo, mas infelizmente ainda cabe a nós quebrar o ciclo da agressividade.