Trabalho com direito eleitoral desde 1998. Foi uma maneira de, depois da faculdade e do centro acadêmico, seguir no direito e na política. Uma tentativa de conciliação do diploma com a paixão.
Às vezes esta conciliação deu muito certo. Outras, não. Essencialmente quando a paixão arrefeceu. Arrefeceu porque o instrumental partidário me desencantou. Sair do PT foi – e é – uma tarefa difícil, dolorida, que careceu e carece muita terapia. O PSOL não é e não me proporciona o mesmo entusiasmo: pode ser a resistência à novas paixões e pode ser o desconforto de estar num lugar que não me pertence, na noção de “pertencimento” de lugar, de afeto. Pode ser, também, que eu não tenha mais saco algum para discursos moralistas, de ordem moral, aquele mafagafo “anti corrupção” que é um mantra insuportável de quem enxerga nesse discurso tática de aproximação com o senso comum. Faz tempo que acho que é muito melhor apanhar do senso comum – e tentar o convencimento de que sem o socialismo poucos caminhos existirão que não sejam o da barbárie – do que agradá-lo com mimos discursivos. Sim, minha opção eleitoral e de militância tem sido o PSOL, convictamente. Mas isso não me impede a análise, evidentemente.
Do direito eleitoral, um namoro que esquenta e esfria. Já tive vontade de largar tudo, sim. Não larguei porque alguns clientes pediram para ficar. A maioria, petista. Porque a técnica acumulada de alguma forma nesses anos pôde e pode ser útil, também, ao novo partido e a novos projetos.
Esse ano trabalhei bem, em poucas campanhas, de forma quase artesanal. Em boas campanhas, em bons projetos. Valeu a pena o trajeto.
Mas ao folhear virtualmente periódicos hoje pela manhã recebi um soco no estômago e tudo me faz ter vontade de vomitar. Aquele vômito da comida estragada, da cefaleia insistente, do terror do fim de caso: No TSE, tribunal superior eleitoral, avança o entendimento e um possível “acordo” que permitirá o julgamento cindido das contas de campanha da chapa Dilma/Temer nas eleições de 2014.
Separar um do outro, na prática, é admitir possível eleger um presidente e um vice de forma autônoma. Como que as campanhas fossem distintas e a merda de um não se comunicasse com a merda de outro, como se fossem duas latrinas distintas.
Mas é muito pior. É a esculhambação final de que o direito serve só a quem “ganha”, aos vitoriosos, aos virtuosos. Todos que me acompanham aqui sabem de meu profundo escárnio pela figura de Michel Temer: macilento, pegajoso, viperino, finório. Mas a questão, neste caso, não é esta. A divisão do julgamento não me incomoda porque irá beneficiar alguém que abomino. Me incomoda porque é absurda, leviana e oportunista.
Advogar como, depois de uma decisão destas?
Eu, que prefiro os fodidos, os que já levaram tapas ou passaram vergonha, não sei mais o que dizer….
Boa “segunda” a todos.
Foto: latrinas do Castelo de Chillon, na Suiça