A 40ª Mostra de Cinema de São Paulo foi encerrada com homenagem do público à cineasta Eliane Caffe, diretora do filme Era o Hotel Cambridge, preferido pelos frequentadores do festival realizado em São Paulo entre 20 de outubro e 2 de novembro.
Reunindo atores e personagens reais de uma ocupação no centro de São Paulo, o filme mostra acontecimentos da convivência entre moradores do prédio que no passado abrigou o tradicional Hotel Cambridge, fechado em 2011.
Em 2012, o edifício já era o lar de pessoas até então sem-teto, e grande número de refugiados recém chegados ao Brasil. Com o filme, Eliane Caffe entrou na intimidade de uma das maiores tragédias mundiais que é o da migração forçada, a necessidade do refúgio imposta por guerras, intolerância política ou religiosa e também pelo sonho que empurra pessoas em busca de uma chance de vida melhor muito longe de casa.
Para fazer o filme, uma ficção documental, foi preciso fazer junto. E contar com a colaboração criativa que aconteceu entre a diretora, os moradores da ocupaçao e estudantes de arquitetura da Escola da Cidade e a Aurora Filmes. Os novos hóspedes do Cambridge resistem às ameaças de desocupação e de ações policiais para forçá-los a sair.
Eliane Café já havia tratado de dramas de pessoas em situação de risco e resistência, como no filme Narradores de Javé, de 2003, em cuja trama central o perigo provém de uma hidrelétrica em construção, que pode inundar a área de uma comunidade. Nos dois filmes, ela trabalhou junto com o ator José Dumond.
Quando foi chamada ao palco para a homenagem, Eliane Caffé manifestou seu desejo de que a Mostra de SP tenha continuidade, nesse “ano de dúvidas”, demonstrando apreensão em relação ao futuro do cinema – e seu acesso pela juventude – no Brasil. Um segundo pedido foi para que “os segmentos da sociedade que estão hoje trabalhando para resistir ao retrocesso econômico e político desse pais continuem muito fortes e unidos” . Sua fala foi seguida de gritos “Fora Temer” do público.
Depois dela, falaram participantes do filme, acompanhados dos produtores Rui Pires e André Montenegro, da Aurora Filmes. O palestino Isam Ahmad Issa, morador da ocupação e ator no filme, classificou a existência de refugiados como uma produção do capitalismo selvagem. A líder da Frente de Luta por Moradia, e atriz no elenco de Caffe, Carmen Silva disse que todos são refugiados das políticas públicas e da perda de direitos. E pediu tolerância.
O filme reflete também o sofrimento da população mais desassistida diante da onda preconceito e ódio que tomou conta do Brasil nos últimos anos.
Era o Hotel Cambridge é uma co-produção com Espanha e França, mencionadas em agradecimentos feitos por Andre Montenegro. Em setembro, foi laureado no 64º Festival de San Sebastian, com o Prêmio Spanish Cooperation, destinado a produções e diretores ibero-americanos. Em outubro, foi escolhido o Melhor Longa de Ficção pelo Voto Popular, Prêmio de Crítica e Melhor Montagem, no Festival de Cinema do Rio. O filme deve estrear no circuito comercial brasileiro em 2017.
Confira também o vídeo, dos Jornalistas Livres, no momento da homenagem do público da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.