Seminário no Museu do Amanhã reúne organização, atletas e autoridades para debater os legados da Rio 2016

A abertura coube ao Ministro do Esporte, Leonardo Picciani. O ministro iniciou seu pronunciamento explicando que legado não é só material, este reflete na forma como a gente vê o esporte, os atletas. Ele falou da mudança na concepção da importância do esporte na vida do indivíduo, em relação à saúde, formação, lazer, reforçando a necessidade de investimento no mesmo.

Picciani disse que muito foi aplicado em estádios esportivos e agora precisa-se integrar estes equipamentos para que funcionem desde a iniciação aos esportes até campeonatos que virão pela frente. A expectativa é que a partir de 2017 essa “rede”, como tem sido chamada, passe a funcionar efetivamente e então será possível descrever mais precisamente os programas a serem realizados e\ou mantidos. A ideia é que a rede dê suporte à cada fase da vida do atleta.

Em relação ao legado físico, o ministro informou que o Parque Olímpico da Barra da Tijuca está sob o domínio da prefeitura, enquanto o de Deodoro é uma área pública da União e será utilizado, junto com as Forças Armadas, em treinamentos e competições. A autoridade disse que conversará com o futuro prefeito sobre calendários esportivos, lembrando que estão previstos 17 eventos esportivos até o fim do ano. Uma das metas é tornar o Rio uma das cidades mais esportivas do mundo.

Ao ser questionado sobre a previsão de eventos nacionais paralímpicos das diferentes modalidades esportivas, o ministro respondeu que há alguns previstos e que o governo tem intenção de incentivar os mesmos.

Flávio Canto, medalhista do Judô e comentarista, falou da importância de “construir atletas”, comentou sobre o trabalho desenvolvido pelo instituto Reação, criado por ele, e citou o caso de Rafaela, que conquistou o ouro nos jogos olímpicos 2016. Flávio disse que há uma busca constante para quebrar paradigmas e que no instituto procuram mostrar que passado não é destino, que eles podem chegar onde quiserem e a judoca é um forte exemplo disso.

Sidney Levy, Diretor-geral do Comitê organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, comentou sobre o receio internacional nos meses anteriores ao evento, em virtude da Zica, da conjuntura política e de episódios isolados de violência. Ele disse que apesar do contexto, o Comitê e todos os envolvidos tinham consciência do potencial brasileiro para realizar um campeonato de alto nível e que deixasse um legado: “a gente tinha desejos que podiam ser traduzidos numa música: “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor…”, disse Levy.

… E foi o que aconteceu, a partir da abertura “essa gente” mostrou para o mundo que há dentro dos brasileiros uma cultura especial, que sabemos fazer com carinho. Sidney acrescentou “Você pode entrar em qualquer arena, qualquer competição, que há uma alegria, uma solidariedade que não tem em nenhum lugar do mundo”. Ele ainda brincou sobre o conselho para as Olimpíadas de Tóquio “encher um avião com um monte de brasileiros e levar para lá”.

Daniel Dias, recordista em medalhas na natação paralímpica, falou da repercussão de suas conquistas e do impacto das paralimpíadas: “Quando você sai da vila você tem a noção do que aconteceu”… “A gente adquiriu respeito. Eu não ter braços ou pernas não define quem eu sou”. Ele considera que as paralimpíadas contribuiram para mostrar o valor do ser humano:

“A força está dentro de cada um de nós, os sonhos estão aí para serem vividos, conquistados. A gente pode ser campeão da vida, para mim este é o grande legado”.

Robson Conceição, medalhista do boxe, falou que o Brasil não pode perder essa oportunidade gerada pelas lições aprendidas. Assim que conquistou o pódio, o pensamento do atleta se voltou para o que pode ser feito a fim de estimular as crianças pobres, mostrando que é possível viver do esporte, ter uma vida saudável e que vale a pena “ser do bem”: “Quando conheci o boxe, pude ter uma nova esperança de ajudar minha família de uma forma diferente”.

Torben Grael, medalhista olímpico e coordenador técnico da Confederação Brasileira de Vela, começou sua apresentação falando da preocupação com o vácuo após os eventos esportivos em conjunto com a crise política, frisando que os jogos foram um sucesso reconhecido no mundo todo e que isso é bom para o brasileiro nesse período difícil.

O velejador falou da necessidade da isenção de tarifas na importação de olímpicos e da importância de repensar o esporte nas escolas. Ao invés de acabar com a prática de Educação Física (notícia que chocou o Brasil nos últimos dias), ele sugeriu que as escolas que não tenham espaço apropriado para esta prática façam convênios com clubes.

Grael, além de também reforçar a importância do esporte para a saúde, falou que o mesmo gera respeito, disciplina e que não podemos retroceder nesse momento. Ele ainda disse que o ministro deve repensar a Lei de Incentivo ao esporte, que está muito engessada, difícil de realizar e que devem punir os que abusarem.

A segunda parte do seminário contou com a participação de Clodoaldo Silva – medalhista da natação paralímpica, Robson Caetano – medalhista do atletismo, Edilson Alves, o “Tubiba” – diretor técnico do Comitê Paralímpico Brasileiro, Sylvio Maia – coordenador da pós-graduação em Marketing Esportivo do Ibmec/RJ, Thiago Ribeiro – doutorando e pesquisador português.

Edilson Alves afirmou que o mais importante foi o reconhecimento do esporte paralímpico, da pessoa com deficiência: “É fundamental que a gente (esporte paralímpico) cresça junto com o esporte olímpico”. Para ele o maior legado é a mudança de pensamento da população em relação à pessoa com deficiência. O público foi para ver os atletas se superarem, não por pena, e sim por admiração. Ele acredita que as crianças vão passar a crescer sem preconceito.

“Tubiba” mostrou exemplos de casos de crianças que passaram a modificar seus brinquedos aproximando da realidade que presenciam (ex: amputação), pais que tentaram improvisar em casa esportes paralímpicos e professores que adaptaram instalações para a prática desses esportes, isso tudo em menos de 1 mês após a abertura das paralimpíadas.

Clodoaldo falou da emoção do momento em que acendeu a tocha olímpica. Após a queda de uma das atletas – que logo se levantou e prosseguiu – e em virtude do temporal, ofereceram ajuda, mas ele preferiu seguir sozinho. No momento ficou apreensivo, mas como planejado chegou ao topo. O nadador disse que seu desejo – que tem sido concretizado – é que as pessoas possam os ver não como coitadinhos, mas como campeões.

Thiago Ribeiro, apresentou os resultados de sua análise sobre o processo da Rio 2016, falando do que poderia ter sido melhor e focando nos legados físicos e na sustentabilidade.

Sylvio Maia falou de projetos para o Rio, como por exemplo transforma-lo no principal centro da economia criativa e a ideia de uma grande campanha com lema “Rio Forever”, semelhante ao que foi feito em Nova York anos atrás.

Em relação ao proposto por Sylvio, Robson Caetano diz que “I Love Rio” é muito lindo, muito legal, mas que prefere “I Love Brasil”. O Brasil precisa resolver as questões humanas e só vamos resolvê-las quando dermos educação para as pessoas.

Robson pergunta e logo responde: “O que será essencial ficar? O que não podem deixar é isso tudo que nós plantamos e regamos com muito carinho se perder. Nós conseguimos sedimentar essas histórias”.

O atleta deixa outra pergunta para reflexão: “Será que nesse nível de Excelência que a gente conseguiu botar as competições olímpicas a gente conseguiu pegar aquele povo e trazer junto com a gente? ”.

Quanto às perguntas do público ao fim dos painéis, percebeu-se grande preocupação com a reestruturação das grades escolares especialmente no que diz respeito à Educação Física.

Creuza Gravina

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